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Candidatos à Presidência priorizam Sudeste e ignoram cinco estados

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As agendas das campanhas eleitorais revelam o peso estratégico das regiões brasileiras no xadrez eleitoral. Quase 60% dos compromissos dos três principais candidatos à Presidência da República foram no Sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Do outro lado do tabuleiro, cinco estados - Alagoas, Amapá, Roraima, Sergipe e Tocantins - foram ignorados pelas campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT), de Marina Silva (PSB) e de Aécio Neves (PSDB).

Desde o dia 6 de julho, quando oficialmente foi dada a largada na disputa, a presidente foi quem menos percorreu o país. Dilma não deu as caras em 16 estados. Marina Silva, embora com menos tempo de campanha, até esta sexta-feira não havia pisado em 15 estados. Em terceiro nas pesquisas, Aécio Neves, por sua vez, gastou mais sola de sapato. Deixou apenas seis estados fora de sua agenda de campanha até o momento.

Enquanto cinco estados ficaram fora dos radares de Dilma, Marina e Aécio, São Paulo foi o mais visitado pelos presidenciáveis: uma de cada três das 160 agendas oficiais feitas por eles entre os dias 6 de julho, data oficial do início da campanha. Foram 53 agendas de Dilma, Marina e Aécio entre os paulistas. No Rio, foram outros 25 compromissos. Nos dois estados, que juntos representam 37% das agendas, há cerca de cinco milhões de eleitores indecisos, segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada ontem.

Uma coisa explica tamanha dedicação aos eleitores paulista e fluminense: a quantidade de indecisos no Rio e em São Paulo é o equivalente a soma de todas as pessoas aptas a votar nos cinco estados ignorados.

- É natural a concentração de agendas na Região Sudeste, em especial São Paulo, que desde a entrada de Marina Silva na disputa virou uma grande incógnita em relação ao processo eleitoral. É um eleitorado que não está apenas decepcionado com o governo federal, como também não reconheceu no candidato do PSDB um sucessor dos votos do grupo político que comanda o estado nas últimas duas décadas - afirmou o pesquisador e cientista político da UFRJ Sandro Corrêa.

A análise de Corrêa se reflete em números. A região mais ignorada pelos presidenciáveis é o Norte do país. Dilma só pisou lá três vezes, sendo que, em duas oportunidades, ela apenas gravou imagens para o horário eleitoral gratuito. Na mesma região, Aécio esteve no Acre, Amazonas e Pará. Desde que entrou na disputa, Marina ainda não voltou a região que fez dela símbolo internacional da luta ambiental no país.

Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, o pouco deslocamento dos presidenciáveis é algo natural dentro do atual processo eleitoral onde o maior embate acontece na cobertura da mídia e na propaganda da TV. Para ele, a presidente Dilma não precisa percorrer o país por conta do seu "latifúndio" televisivo.

- Quem mais tem que se preocupar em viajar o país é a Marina Silva, que tem muito pouco tempo para expor suas ideias e propostas e poderia compensar com a cobertura da imprensa local de cada estado. Mas ela acabou prejudicada por conta da entrada tardia no processo eleitoral - afirma o professor da PUC-Rio.

Corrêa concorda com o Ismael, mas ressalta a exposição da candidata após a morte de Eduardo Campos:

- Ela teve uma exposição incomum com a morte Campos. Não dá para ignorar.

O coordenador de campanha de Marina Silva, Walter Feldman, afirmou que a ordem direta da candidata é fazê-la presente no maior número de estados possíveis no primeiro turno. Ele concorda com a avaliação do professor Ricardo Ismael de que é necessário fazer da presença da candidata do PSB nos estados um instrumento de compensação do pouco tempo no programa eleitoral:

- O ideal seria visitarmos todos os estados, mas vai ser praticamente impossível dado o curto período que tivemos para reorganizar a campanha. Mas a ordem da Marina é intensificar o máximo possível o número de viagens. É com a cobertura da mídia local que estamos conseguindo ampliar o espaço de Marina.

A concentração de viagens em São Paulo e no Rio, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, foi potencializada pela mudança do cenário eleitoral com a entrada de Marina na disputa. Principalmente, segundo eles, pelas debilidades encontradas pelo PT e PSDB nos dois estados que, juntos, representam 30% do eleitorado brasileiro.

- Entre os paulistas estão os maiores índices de rejeição de Dilma e ao governo. Nem mesmo a presença do Lula conseguiu fazer com que ela tivesse um melhor desempenho no estado. E a campanha ainda foi prejudicada pelo péssimo desempenho do candidato petista no estado - afirmou Ismael.

Já para Corrêa, os tucanos não conseguiram transferir ao candidato Aécio Neves a vantagem conseguida por José Serra e Geraldo Alckmin nas últimas duas eleições.

- Nem mesmo com o Alckmin, que deve ser reeleito no primeiro turno, colocando o Aécio debaixo do braço, o mineiro decola - afirmou.

Feldman afirmou que presença de Marina constantemente em São Paulo e no Rio é estratégica:

- Eles (os estados) foram explosivos para Marina. E é onde temos a nossa base e onde vamos ainda concentrar o máximo de agenda possível.

Em nota, a campanha do PT informou que a adoção de coletiva durante a eleição se deu por "conta da conciliação das atividades como chefe de governo e de Estado". Eles apontaram ainda que a "ampla base de apoio facilitou" o trabalho da presidente que contou ainda com apoiadores como o ex-presidente Lula.

O PSDB informou que o candidato faz questão de visitar todos os estados e que a campanha tem a meta de percorrer todo o país. Sobre a priorização por SP, a campanha informou que a coordenação de campanha é fixada no estado sendo "natural" ter mais atividades.

Fonte: O Globo