"Classificada por meio de pulseiras coloridas, mais uma
vez a mulher é colocada em desvantagem diante dos homens".
A fim de contribuir para o debate em torno da
polêmica sobre o uso e posterior proibição das pulseiras coloridas, também
chamadas de "pulseiras do sexo", a ginecologista e obstetra Albertina
Duarte Takiuti, coordenadora do programa de saúde do adolescente da Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo, assina artigo publico no caderno Aliás,
suplemento da edição de domingo do jornal O Estado de S.Paulo.
No artigo a médica escreve:
"No campo do sexo, a curiosidade aguçada e os hormônios
em ebulição, aliados às aflições e inseguranças inerentes a essa fase, compõem
uma fórmula complexa que pode gerar os mais diversos tipos de comportamento,
inclusive os de risco. A necessidade de aceitação e o medo de não agradar são
fatoresdeterminantesparaquealgumasdessas adolescentes sejam influenciadas pelo
meio e utilizem pulseiras, verdadeiras algemas,
querepresentamumcarimbofacilmente identificável pelo sexo oposto."
"Trata-se da nova ditadura do sexo, uma violência
traduzida pela codificação da mulher por meio de um adereço. E mais uma vez a
mulher fica em posição vulnerável frente ao triunfo do machismo. Se hoje o sexo
surge cada vez mais cedo, a obrigatoriedade da relação sexual coloca novamente
a mulher em desvantagem diante dos homens."
"As meninas que possuem uma imagem negativa de si
mesmas, com dificuldade de autoaceitação, com as angústias comuns à faixa
etária, estão mais propensas a adotar comportamentos arriscados. Se a pulseira
é um código, as consequências de seu uso podem deixar marcas indeléveis no
corpo e na alma: gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis,
traumas por abusos sexuais."
"Proibir a utilização das tais pulseiras parece uma
solução rasa. Na esfera pública, o caminho passa pelo aprofundamento de
políticas nas áreas de educação, assistência social e saúde, que deem poder de
voz às adolescentes e trabalhem suas emoções."
"Em casa ou na escola, tudo o que as adolescentes não
precisam é se sentirem oprimidas. Estabelecer regras e impor certos limites é
fundamental, mas elas necessitam igualmente de carinho e, principalmente, de
espaço para falar o que sentem. É dessa forma que as pulseiras voltarão a
significar apenas um adorno, em vez de um carimbo de mulher-objeto."
Acesse a íntegra do artigo em pdf: Uma nova ditadura do sexo, por Albertina Duarte Takiuti (O Estado de S. Paulo - 11/04/2010)