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Mais um prefeito deixa cargo no Piauí para assumir profissão de médico

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O prefeito de Francinópolis, Ozael Ferreira dos Santos (PSD), renunciou o mandato e enviou carta à Câmara Municipal da cidade comunicando a decisão. É o segundo prefeito que entrega a função no Piauí com menos de dois anos do mandato. O primeiro foi Valmir Café, de Pedro II.   

Segundo o Ozael Santos, sua saída se deve ao fato de não conseguir conciliar o cargo de prefeito com sua profissão de médico gastroenterologista, que exercia em Teresina. (Veja carta abaixo)


“Não tenho nada de insatisfação, foi uma decisão pessoal mesmo. Sempre fui mais médico do que prefeito e foi um compromisso que negociei quando fui ser candidato de que não deixaria de ser médico. Mas, as dificuldades foram muito grandes e impossibilitou a conciliação”, destacou o agora ex-prefeito. 

Ele disse que agiu em comum acordo com o grupo político ao qual pertence e passou o cargo para a vice-prefeita Socorro Bandeira (PMDB). “Ela dispõe de mais tempo do que eu para cuidar da gestão da prefeitura”, afirmou Ozael Santos. 

O médico trabalha em hospitais, clinicas e consultório em Teresina. 

CARTA RENÚNCIA


Francinópolis (PI), 30 de Agosto de 2013.


Exmª Sr.ª
Maria Joaquina Alves dos Santos
Presidente da Câmara Municipal de Francinópolis
Nesta Cidade


Sr.ª Presidente, 
Ao cumprimentá-la, sirvo-me da oportunidade para, em atendimento ao dever legal, comunicar à V.Excia., a minha renúncia, nesta data, ao mandato de Prefeito Municipal conquistado nas eleições de outubro de 2012 e principiado em 01/01/2013,  e ao mesmo tempo, solicitar que, de imediato, inicie os procedimentos exigidos nas circunstâncias decorrentes do meu ato.

Por ser uma decisão inusitada e surpreendente, e por isso mesmo, capaz de suscitar especulações de variadas conotações, esclareço à V.Excia., aos nobres vereadores e à nossa população, que a minha atitude não tem nenhuma motivação política e não se relaciona com dificuldades administrativas ou de atendimento às exigências dos órgãos de controle externo. Ao contrário, no momento as finanças do Município estão equilibradas, com todos os pagamentos atualizados, inclusive dos fornecedores, e não há, do meu conhecimento, nenhum questionamento da gestão, jurídico ou administrativo.

Saio da gestão consciente do dever cumprido, certo de ter oferecido o melhor de mim no exercício do mandato e com a tranquilidade de quem transfere a responsabilidade para alguém com melhores condições para o desempenho da função.

A decisão é pessoal e resultou de uma criteriosa análise das dificuldades insuperáveis em conciliar as responsabilidades de Prefeito com minha atividade profissional de médico, que sempre foi minha prioridade, como é de conhecimento de todos, manifestada desde o momento em que aceitei a candidatura. A maneira de ser Prefeito pensada por mim, não garantiria a mim e à minha família as condições de vida que hoje alcançamos. Por outro lado, ser um profissional dedicado como sempre fui, implicaria em renúncia, ausências na gestão e delegação de responsabilidades além dos limites da segurança. Há um provérbio que diz: “Mais faz o olhar do Amo que as suas mãos”.

Ser Prefeito hoje exige dedicação integral, quase exclusiva para o bom desempenho da administração e para a própria segurança do gestor. Há hoje uma progressiva transferência de responsabilidades ao Município, sem a correspondente transferência de recursos para cumpri-las. A legislação, com todo o seu rigor, ao meu ver, é inaplicável às condições dos pequenos municípios. A fiscalização dos órgãos externos é implacável, instantânea, em tempo real, e respaldada numa legislação inflexível, inova e cria a cada dia, mais normas restritivas à gestão, engessando-a e limitando a sua criatividade. Vale dizer: “O Rei reina, mas não governa”.

A sociedade com suas demandas crescentes, cada dia mais conscientizada, exige, com razão, os seus direitos, independentemente das possibilidades do Município, ficando o gestor comprimido entre o dever e o desejo de suprir a população nas suas necessidades, às vezes, já por determinação judicial, e a total impossibilidade financeira decorrente do alto custo da gestão e da vertiginosa queda dos repasses constitucionais aos cofres do Município. Cabe aqui uma metáfora: “A população tem sede, mas a cacimba secou”.

Nestas circunstâncias eu não seria o Prefeito que a cidade merece, e sendo conveniente para mim e melhor para o Município, renuncio ao mandato de Prefeito, certo de que a futura gestora terá melhores condições na condução dos destinos de Francinópolis. Desejo a ela as facilidades que não tive e o sucesso que sonhei. Que consiga um bom início, pois “O começo é a metade de tudo” como disse Platão. Que trabalhe intensamente pelo nosso povo, focada no dito popular: “Aquele que não luta pelo futuro que quer, deve aceitar o futuro que vier”.

Resta-me agradecer à população a confiança renovada que muito me honrou, e aos amigos que comigo estiveram em todos os momentos, especialmente os meus Assessores e Servidores do Município.  Destaco o saudoso e destemido amigo Xavier Neto e o sempre forte aliado Melcíades Brandão, companheiros de todas as horas.

Agradeço também o apoio precioso dos Deputados Wilson Brandão e Marcelo Castro, bem como do Senador Ciro Nogueira e do Governador Wilson Martins, ressaltando a cordialidade com que sempre me trataram, reconhecendo também a acolhida partidária amiga que me dispensou o Deputado Júlio César.

A experiência enriqueceu-me bastante, tecnicamente, administrativamente, mas sobretudo aperfeiçoou-me na capacidade de observar e interpretar as relações interpessoais, vendo nelas através da alma humana, mais do que está dito, escrito ou explicitado, possibilitando-me refazer o meu conceito de amizade, aplicado à atividade política.

Na política, ingredientes como amizade e lealdade são indispensáveis, mas as decepções e as traições são igualmente potentes motivadores, pois, a adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas (Horácio).

John Colins, escritor inglês disse que “na prosperidade os amigos nos conhece. Na diversidade nós conhecemos os amigos”. Realmente, uma amizade não se compõe de abraços e sim de perdões e desabafos.

Um amigo que cala vale tanto quanto um inimigo que fala (Walter Waeny).

Se algum francinopolitano censurar a minha atitude, não lhe tiro a razão, mas gostaria de desculpar-me citando Juscelino Kubitscheck: Costumo voltar atrás sim, não tenho compromisso com o erro, bem como o provérbio africano: “Ser feliz é melhor que ser Rei”. Entendo que na política, como na vida, nada é definitivo, nem mesmo as sólidas relações. Como disse Jô Soares com sua cômica sabedoria: “Não há amizade que resista a uma série de cretinices”.

Eu, aos 65 anos, em busca de qualidade de vida, faço minhas as palavras de Jackson Brown – Há de se desejar duas coisas na vida: primeiro ter o que se quer e depois usufruir do que se tem. Só os muito espertos conseguem a segunda.

Finalizando, gostaria de lembrar que nada é tão admirável em política quanto uma memória curta, e que continuemos a nos omitir da política é o que os malfeitores da vida pública mais querem (Bertold Brecht). O castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus, (Platão).

Por tudo que vivemos e por tudo que conquistamos através da nossa dedicação à Francinópolis, apelo à V.Excia., e à futura gestora do Município para que fortaleçam o entendimento e a parceria que mantivemos na minha gestão até então, objetivando preservar as nossas conquistas e ampliá-las, para o bem da nossa cidade.

Cordialmente,

Ozael Ferreira dos Santos
Prefeito Municipal de Francinópolis



Caroline Oliveira
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