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Projeto apresentado na UnB propõe mudanças radicais na Praça da Bandeira e orla do Parnaíba

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  • visões-da-praça.jpg Acima, Largo do Amparo (antigo nome da Praça da Bandeira); a praça na década de 1970 e atualmente
    Arquivo Público e Juscelino Reis (retirado do trabalho apresentado por Júlio Paiva)
  • CK8A2442.jpg Júlio Paiva
    Júlio Paiva
  • CK8A2391.jpg Júlio Paiva
    Júlio Paiva
  • ruas-modificadas.jpg Desenho mostra alteração dos prédios das ruas Rui Barbosa, Areolino de Abreu e Coelho Rodrigues
    Júlio Paiva
  • praca-1.jpg Design da praça segundo o projeto do arquiteto Júlio Paiva
    Júlio Paiva
  • praca-2.jpg Espaço com fontes e água próximo ao rio Parnaíba
    Júlio Paiva
  • praca-3.jpg Píer junto ao rio seria local de passeio e comércio
    Júlio Paiva
  • praca-4.jpg Novos espaços criados próximos à avenida Maranhão: opção de lazer e arte
    Júlio Paiva
  • praca-5.jpg Desenho da praça sem grades e com nova fonte próxima à Coluna Saraiva
    Júlio Paiva
  • estruturas-1.jpg Praça da Bandeira remodelada e píer na margem do rio Parnaíba com acesso à coroa
    Júlio Paiva
  • visão-patrimonio.jpg Neste esquema é possível perceber o ponto de vista dos pedestres. Sugestão é retirar grades, aumentar calçadas e liberar a visão dos prédios
    Júlio Paiva
  • avenida-maranhão.jpg Metrô seria substituído pelo VLT e fim do Shopping da Cidade
    Júlio Paiva
  • rua_joao_cabral.jpg Bancas de hortifruti teriam novo formato
    Júlio Paiva
  • rua-rui-barbosa.jpg Júlio Paiva
  • rua-coelho-rodrigues.jpg Coelho Rodrigues próximo à praça Rio Branco
    Júlio Paiva
  • rua-coelho-rodrigues-2.jpg Mudanças na Coelho Rodrigues: Menos espaço para carros
    Júlio Paiva
  • rota-mobilidade.jpg A proposta do arquiteto é modificar a mobilidade do centro, dando prioridade a pedestres, bicicletas e veículos coletivos.
    Júlio Paiva

O movimento Viva Madalena, que impediu a demolição de uma casa histórica na rua Félix Pacheco, trouxe à tona o debate sobre a memória arquitetônica de Teresina. Mas sempre existiram pessoas preocupadas, não só com os imóveis, mas com as estruturas públicas que a cidade possui e em formas e estratégias de aproveitá-las melhor, dando mais espaço aos habitantes ao invés dos automóveis.

No coração de Teresina está praça Marechal Deodoro, mais conhecida como Praça da Bandeira, a mais antiga da cidade, que foi construída em frente o Marco Zero. Décadas e décadas se passaram e, embora um tanto deteriorado, o espaço ainda é uma referência na capital piauiense, quer seja pela sua localização no centro da cidade, pela frequência de transeuntes, os pontos de ônibus próximos, os comércios e imóveis que abrigam órgãos importantes, como a sede da prefeitura. 

A praça foi objeto de estudo do arquiteto Júlio Paiva que fez um trabalho para a conclusão de seu bacharelado na Universidade de Brasília (UnB) este ano. O projeto propõe grandes modificações naquela região com a construção de novos aparelhos voltados à população, inclusive corredores entre as praças do centro, modificações no trânsito e faz também uma análise do estado de imóveis da região. Entre as ações propostas estão a demolição do viaduto do metrô e do Shopping da Cidade para a construção de galeria e escolas de arte. O jovem disponibilizou a proposta em redes sociais e conversou sobre ela com o CidadeVerde.com. 

 

 

“Na UnB a receptividade foi extremamente positiva, tanto pela banca avaliadora quanto pelos alunos que têm acesso aos trabalhos finais de graduação, que ficam expostos por uma semana na galeria da faculdade de arquitetura. Depois que cheguei de volta aqui em Teresina e compartilhei nas redes sociais também recebi comentários maravilhosos! Acho que o trabalho foi muito bem recebido de forma geral, no meu círculo social, pelo menos. Acho que ele é polêmico. Tenho ciência de que em outros grupos ele pode não ser tão bem aceito”, avaliou.

Praças interligadas
Entre as alterações propostas estão um novo desenho na praça da Bandeira que teria canteiros em formato de losango, retirada de algumas árvores e plantio de outras, trânsito prioritário para pedestres e transportes coletivos, além de alterações drásticas como a substituição do atual Shopping da Cidade e do terminal do metrô por novas estruturas feitas no subsolo. A orla do rio Parnaíba ganharia uma nova estrutura, tornando-se verdadeiramente um ponto turístico e de sociabilidades tal como era na Teresina nascente. 

“A Praça da Bandeira deve ser o ponto mais privilegiado da cidade. Deve assumir sua função como elemento articulador no Centro, favorecendo a conexão com todas as regiões da cidade. Deve ser o ponto crucial, o exemplo para a vida urbana da cidade”, afirma Paiva. Ele propõe a retirada das grades da praça e a interligação com outras praças do centro, tais como Rio Branco, Pedro II, Fripisa, João Luís, Saraiva, do Liceu e da Liberdade.

Shopping e estação versus artes
O projeto prevê ainda a remoção do Shopping da Cidade e a construção de uma Galeria de Artes Plásticas que levaria o nome do pintor Nonato Oliveira. Os ambulantes retornariam às ruas em feiras e em um calçadão na orla do Parnaíba. A estação do metrô também seria retirada e em seu lugar, uma escola de música. A estrutura que sustenta o transporte seria demolida e substituída por trilhos de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) que ligaria a estação do metrô do bairro da Matinha ao ponto atual na praça da bandeira. 

“O metrô de Teresina, a meu ver, não tem pra onde crescer e dar certo, sem gastos bilionários e desapropriação. O VLT é um modal que tem custo cinco vezes menor de manutenção e de instalação do que o metrô. O custo pra melhoria do metrô pagaria facilmente a desativação da linha e a implantação do VLT em duplo sentido. Além disso, o VLT atuaria como um complemento ao sistema de ônibus, o modal usado majoritariamente pelos teresinenses. Existem estudos que dizem que há valorização onde ele é implantado. Além disso, é previsto a integração de todos esses modais e deles com o sistema de aluguel de bicicletas, de forma que os percursos sejam complementados andando de bicicleta, se assim a pessoa preferir”, explica Júlio Paiva, que sugere a criação de pontos para aluguel de bicicletas e ciclovias em várias ruas do centro de Teresina.

Margem
A revitalização da margem do rio seria proposta com a instalação de uma área dividida em três zonas: uma para atividades lúdicas, outra para contemplação e a terceira para o comércio. Os quiosques seriam desenhados como parte do mobiliário integrante da área. A margem apresentaria dois níveis: um junto à avenida Maranhão e outro mais baixo, um deck de madeira, próximo à água. Entre os dois, seria criada uma faixa de transição com patamares de permanência e espaço com cascatas e fontes. As atrações funcionariam tanto durante o dia, quanto à noite. 

“Eu pensei nessa fonte como um local mais lúdico, onde se pudesse entrar em contato com a água de forma mais segura, já que o rio Parnaíba tem uma corrente forte. Ela funcionaria como uma opção a mais pra quem quisesse se refrescar, colocar o pé na agua enquanto bate um papo e também pras crianças que, certamente se divertiriam muito”, conta o arquiteto. 

 

 

“Com todo o redesenho dos espaços, seria criado o calçadão ao nível da avenida (integrado com o desenho do piso da praça), uma zona de transição, com espaços de permanência e bares, um deck de madeira mais baixo, onde as pessoas se aproximariam mais da paisagem do rio, e um píer de madeira também, dando acesso aos bancos de areia, que poderiam voltar a ser locais de lazer da população, como eram nas décadas de 1980 e 1990”, acrescenta.

Projeto
Júlio Paiva diz saber que suas propostas são radicais e propõem uma nova visão sobre o centro da cidade. “Acho que há possibilidade de o projeto não ser bem recebido porque ele mostra uma mudança muito radical. Radical não só no sentido da paisagem – pois acho que é consenso de que a praça da Bandeira e a avenida Maranhão não têm uma imagem paisagística muito boa. A maior radicalidade se mostra na proposta de um plano de mobilidade que põe o automóvel particular em plano de fundo. Isso mexe com a cultura estabelecida. Além disso, quero mostrar para as pessoas que a nossa cidade tem edifícios históricos bonitos e que devem ser valorizados e preservados. Isso é algo diferente”, justifica.

 

 

Entre as dificuldades para implantação de sua proposta, o arquiteto diz que estão a boa vontade do poder público, já que o projeto propõe demolições de estruturas existentes. “É preciso deixar claro que as propostas apresentadas deveriam ser implantadas de forma gradual, a curto, médio e longo prazo, porque a transformação é bastante forte e tem que ser pensada uma logística que não atrapalhe o funcionamento das atividades do cotidiano. Acho também que o custo é elevado, mas deve se pensar no ganho econômico a longo prazo, com a valorização da área. Talvez a forma de se viabilizar o projeto seria através de uma parceria público-privada, onde seriam dadas algumas concessões de uso, e a praça fosse gerida por uma empresa terceirizada, garantindo atividades frequentes”, sugere.

História
O projeto também prevê uma melhor visibilidade para os imóveis históricos como o Museu do Piauí, Mercado Velho, Palácio da Cidade, Arquivo Municipal, entre outros. “Falando do centro como um todo, a situação dos prédios históricos é lamentável. A maioria está descaracterizada, e os edifícios mais icônicos, como a estação ferroviária, e o Cine Rex, por exemplo, não têm preservação e um uso que os valorize. Já na Praça da Bandeira, eles têm um uso, são mais preservados e constituem o maior conjunto preservado da cidade. Eu identifico que existe ali um potencial de melhoria do estado de conservação de alguns elementos como a Coluna Saraiva e o Mercado Velho, que já está sendo restaurado. O que eu acho q desvaloriza esses edifícios é a poluição visual causada tanto pelas grades da praça, quanto pelos inúmeros carros que permanecem estacionados durante o dia. Isso gera barreiras e distancia o olhar das pessoas. À noite, quando não tem ninguém ali, os edifícios ficam supervalorizados e lindos”, conclui Paiva, chamando a atenção para a necessidade de um novo olhar sobre o centro de Teresina. Mais detalhes sobre o projeto podem ser vistos neste link.

 

 

Carlos Lustosa Filho
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