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Jornalista Tiago Melo fala pela 1ª vez sobre o pai que foi assassinado pelo crime organizado

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Jornalista Tiago Melo (foto: Wilson Filho/Cidade Verde)

O depoimento do jornalista Tiago Melo durante o programa especial da semana “Cidade Verde 30 Anos”, que foi ao ar nesta quarta-feira (13) durante o Jornal do Piauí, chocou e emocionou muitos telespectadores.

Tiago falou pela primeira vez em canal aberto de televisão sobre o assassinato do pai, o delegado Arias Filho, no dia 14 de setembro de 1989, pelo crime organizado no Piauí, que era comandando pelo então coronel da Polícia Militar, José Viriato Correia Lima.  

O delegado Arias Filho investigava o assassinato do policial Leandro Safaneli, que era namorado de uma das filhas do Correia Lima.  Ao término da investigação, Arias Filho concluiu que o ex-coronel seria o mandante do crime e, ao entregar o inquérito final na Secretaria de Segurança, foi executado com três tiros nas costas em uma lanchonete no Centro de Teresina. Tudo foi comprovado por processo judicial. 

Confira na íntegra do depoimento do jornalista Tiago Melo

“Esse crime aconteceu no dia 14 de setembro de 1989. Na época, eu tinha cinco anos de idade. Minha família foi surpreendida com essa informação. Meu pai estava envolvido na investigação do namorado de uma das filhas do Correia Lima, que terminou assassinado em Parnaíba. Na apuração, ele chegou a conclusão que Correia Lima estava diretamente envolvido, seria o mandante desse assassinato. E, chegando aqui em Teresina, antes de entregar pessoalmente o inquérito com essa conclusão ao secretário de Segurança, chegou a dar uma declaração dando indícios de que seria o oficial da Polícia Militar o indiciado pelo crime. Ele saiu da Secretaria de Segurança, que na época ficava em frente a praça Saraiva,  e, na Rua Barrosa, a cerca de 20 metros de distância, tomava um café quando foi surpreendido com três tiros pelas costas efetuados por um policial militar do Piauí. Ele era um aliado de Correia Lima, que agiu com a única intenção de executar e assassinar o meu pai, pois havia descoberto toda aquela trama. Meu pai foi uma das primeiras pessoas que teve coragem de investigar o crime organizado no Piauí, e, vale salientar, que foi desestimulado por muitas pessoas porque o crime organizado era muito articulado e muito forte aqui no Estado. Os amigos falavam: ‘Arias, não vá porque o seu fim pode ser trágico’, mas ele encarou essa missão e, hoje, é dito por muitos como uma referência no combate ao crime organizado. Não conseguiu concluir a sua missão, mas ele plantou uma semente de coragem dentro do Estado. Essa semente se desenvolveu principalmente no coração de muitos policiais que viram como uma questão de justiça colocar esse malfeitor na cadeia”.   

Correia Lima e o Crime Organizado 

O ex-coronel Correia Lima foi apontado como chefe do crime organizado no Piauí. Ele liderava uma quadrilha que desviava dinheiro público, emitia notas fiscais frias, roubava cargas de mercadorias e eliminava quem questionasse o esquema. Os policiais também atuavam como matadores por encomenda. Pelo menos dez homicídios foram atribuídos ao grupo. Além das mortes do delegado Arias Filho e do policial Leandro Safaneli, as mortes de um caseiro e do tio de Correia Lima também foram investigadas já que ele era o beneficiário dos seguros de vida feitos pelas vítimas. 


O ex-coronel Correia Lima, atualmente preso em Parnaíba, já foi condenado a 127 anos de prisão

No dia 5 de novembro de 1999, o Piauí foi surpreendido com uma notícia bombástica: gravações da Polícia Federal desvendavam uma das organizações criminosas mais perigosas do Brasil. A Polícia Federal apresentou o resultado de investigações provocadas por denúncias feitas pelo promotor Afonso Gil Castelo Branco, sobre crimes praticados por policiais civis e militares, advogados e servidores públicos, no Piauí, ao longo de 20 anos. Nas mais de 700 horas de gravações, Correia Lima relatava friamente como organizava os crimes. Na época, um culto foi realizado no adro da Igreja São Benedito, no Centro de Teresina, contra a impunidade e a violência, e pela justiça. Mais de 15 mil pessoas participaram. 

O ex-coronel, atualmente preso em Parnaíba, já foi condenado a 127 anos de prisão e ainda deve ser julgado por muitos outros crimes. O crime organizado do Piauí foi um capítulo que mudou a história do nosso Estado e, por isso, foi destaque no programa especial semana “Cidade Verde 30 Anos”, exibido nesta quarta-feira (13).

Acidente em Marimbá deixou 12 pessoas mortas (Foto: reprodução/ TV Cidade Verde)

Chacina, afogamento e trágicos acidentes 

O especial semana “Cidade Verde 30 anos” também destacou trágicos acidentes que chocaram os piauienses em ato de solidariedade e comoção.  

Também no ano de 1999, um crime na localidade de Meruoca, entre Teresina e União, chocou os piauienses: a chamada Chacina da Meruoca. Um assalto ao Banco do Brasil do município de Altos fez com que os policiais civis e militares confundissem um grupo de amigos, que tinham saído para caçar, com os criminosos. Eles foram executados por policiais que, quando perceberam que haviam matado inocentes, queimaram os corpos e o carro para esconder as provas do crime. Os policiais faziam parte dos grupos de elite da Civil e da Militar, que eram o Corisco e o COE, respectivamente. 

Os jornalistas Joelson Giordani, Nadja Rodrigues, Elivaldo Barbosa, Tiago Melo, Francisco Lima e Indira Gomes também relembram o afogamento de nove crianças em 1999. Elas participavam de um acampamento de escoteiros no povoado de Pedra Miúda, na zona Rural de Teresina. Uma delas se afogou e as outras, para tentar salvar a amiga, e todas acabaram morrendo afogadas no rio.  Todas moravam na região Norte de Teresina, nos bairros Água Mineral e Buenos Aires. 

A mudança de critérios e da linha editorial para noticiar tragédias também foi destaque no programa.  Hoje, a cautela com a cobertura com a exibição de imagens é a menor possível para, até mesmo, não ampliar a dor da família diante da perda dos parentes, por exemplo.  

Uma dessas coberturas foi em 1957: um acidente na estrada para Parnaíba com um ônibus da empresa Marimba deixou 12 pessoas mortas. Nesse mesmo ano, dois ônibus de uma empresa sediada em Teresina se chocaram próximo a Caxias – no Maranhão – matando seis pessoas. E, um ônibus que saiu de Teresina com sentido a São Luis bateu em um caminhão carregado de madeira; 32 pessoas morreram.

Veja a reportagem completa

Carlienne Carpaso
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