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Veja a repercussão econômica do afastamento de Dilma Rousseff

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O plenário do Senado Federal aprovou às 6h34 desta quinta-feira (12) a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff por 55 votos a favor e 22 contra. Com a decisão, ela fica afastada do mandato por até 180 dias. O vice-presidente Michel Temer deve assumir com o afastamento de Dilma.

Para economistas e analistas ouvidos pelo G1, equilibrar contas, retomar confiança e realizar reformas estruturais e institucionais estão entre os principais desafios do novo governo.
Especialistas avaliam que a mudança traz uma melhora nas expectativas e que a nova equipe econômica deverá ter mais chance de sucesso na aprovação de medidas junto ao Congresso, mas destacam que qualquer recuperação na economia dificilmente ocorrerá antes de 2017.

Thais Marzola Zara, economista-chefe  da Rosenberg & Associados

“O foco total será sobre os primeiros dias de Temer como presidente. Somente a divulgação de sua agenda e as primeiras votações irão dizer se a base em construção, que se mostra mais fisiológica que programática, é realmente sólida e fiel. Os preços de ativos brasileiros e as expectativas já embutem a troca de comando do governo, bem como sucesso na aprovação de pelo menos algumas medidas/soluções que amenizem o descalabro das contas do governo, como a DRU, por exemplo. Novas melhoras ocorrerão mediante entregas efetivas, como algum progresso na questão da Previdência, sucesso em privatizações/concessões, etc. A boa notícia é que a redução das fricções causadas pela crise política abre espaço para um melhor encaminhamento da questão fiscal".
 

Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp

"Esse governo interino que ascende ao poder por meio de um processo questionável deve incorrer em dois grandes erros econômicos: 1º) dar continuidade à política de austeridade que tem contribuído para deprimir a economia brasileira e que se mostra contraproducente quanto ao seu objetivo de reduzir a divida pública e 2º) impor à sociedade reformas estruturais que não passariam pelo crivo das urnas, o que tornará ainda mais impopular, antidemocrático e ilegítimo".
 
José Roberto Afonso, economista e pesquisador do Ibre/FGV

"O novo governo Temer receberá a mais pesada herança maldita da história macroeconômica do Brasil e talvez da maioria dos outros países. Se o desafio é monumental, ao menos tem uma oportunidade única e ímpar de ter apoio parlamentar para realizar profundas reformas institucionais que reponha o país no trilho do crescimento que, realisticamente falando, só virá no médio e longo prazo. Não faltam soluções técnicas à disposição do novo governo, ainda que sejam complexas e difíceis. Espero que não falte vontade política.

Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo José Sarney

"O ambiente vai melhorar, a confiança tende a se recuperar e a economia pode se reanimar. Há, todavia, um excesso de otimismo sobre as possibilidades do governo Temer... As reformas que se espera são muito mais complexas e difíceis do que se imagina. Todas exigem mudanças na Constituição, robusto capital político e capacidade de enfrentar os poderosos grupos de interesse que se oporão às mudanças".
"Temer tem um campo enorme para avançar, desde que concentre seus esforços em medidas que não exigem reforma constitucional. Pode anunciar um agressivo plano de privatização da infraestrutura, de eliminação da equivocada regra de conteúdo nacional e de abertura da economia. Pode lutar por mudança do marco regulatório do pré-sal, retornando ao regime de concessão. Pode melhorar a situação da Previdência com leis ordinárias. Se, todavia, buscar atender as expectativas irrealistas que se formam em torno de seu governo, corre o risco de congestionar a pauta legislativa e atolar-se em discussões intermináveis sobre reformas constitucionais. Estas mais se adequam a um presidente eleito com base em plataforma que as inclua do que a um governo de transição".

Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados e ex-presidente do Cade

"Com o novo governo, espera-se uma melhora nas expectativas na medida em que se perceba que há um programa minimamente consistente de ajuste e com suficiente apoio político para a aprovação das medidas necessárias para: ajustar as contas públicas, estimular as parcerias e concessões para aumentar os investimentos em infra estrutura e promover as exportações e o setor externo mediante uma política proativa de comércio exterior. Se tal política for implementada, a economia poderá se recuperar a partir de 2017 o que acabará repercutindo positivamente sobre o emprego a partir de 2018.

Alex Agostini, presidente da agência de classificação de risco Austin Rating

"Temer já iniciou seus trabalhos no sentido de colocar nomes fortes nas áreas mais sensíveis e estratégicas do governo, como é o caso de Henrique Meirelles na Fazenda, e o provável Ilan Goldfajn no Banco Central. A expectativa é que Meirelles tenha mais sucesso na aprovação de medidas junto ao Congresso, o que faltou a Levy e Barbosa. Também creio que, entre junho ou julho, o novo BC decidirá pela redução da Selic, que pode chegar ao redor de 12% até o final deste ano. Porém, não vejo condições do novo governo de adotar medidas de estímulo econômico sem antes implementar quaisquer medidas de ajuste fiscal, até porque seus efeitos serão neutralizados pela atual descrença na economia por parte dos agentes econômicos. Nesse sentido, não haverá tempo para reverter o resultado de um PIB com queda de quase 4% neste ano. Mas, ao menos, abre-se grande expectativa para 2017".
 
Plinio Soares de Arruda Sampaio Júnior, do Instituto de Economia da Unicamp

“A sabedoria convencional convenceu a opinião pública de que com a saída da Dilma as coisas melhoram. É uma visão superficial e enganosa sobre a gravidade da crise brasileira. A crise brasileira é complexamente determinada pelo impacto da crise internacional no Brasil, agravado pelo desastroso ajuste fiscal feito pelo ministro Joaquim Levy. A crise vai se aprofundar ainda mais. A decisão de dobrar as metas do ajuste fiscal, que é o que está sendo anunciada pelo Henrique Meirelles, que provavelmente será o ministro da Fazenda, só vai agravar os problemas. Ajuste fiscal não resolve crises como a brasileira. O caso da Grécia está aí para mostrar o que vai acontecer com o Brasil.”
 
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria

"A despeito dos enormes desafios nos campos político e econômico que serão enfrentados, a expectativa é de que o restabelecimento da governabilidade e o consequente encaminhamento de pontos-chave da agenda econômica resultarão em recuperação gradual da economia a partir do próximo ano. Neste contexto, a manutenção da confiança dos agentes econômicos é fundamental. Além de nomes com credibilidade na nova equipe, o governo precisará agir rápido no encaminhamento de medidas para controlar o déficit fiscal e em medidas para reativar a atividade econômica. A expectativa da Tendências é de que, após a retração de 4% neste ano, a economia cresça 1,2% em 2017 e 2,0% em 2018".
 
Ricardo Humberto Rocha – Professor do Advanced Program in Finance do Insper

“Do ponto de vista econômico, a decisão gera a diminuição da incerteza e a retomada de um planejamento da organização das contas do Brasil. Se confirmar a dupla Meirelles e Ilan Goldfajn para a Fazenda e o BC, a gente volta a ter a esperança de colocar as finanças em dia e vamos caminhar com o Brasil buscando um novo momento, de retomada do crescimento. Não vai ser rápido, não vai ser em seis meses. Mas acredito que a partir de 2017 o Brasil volta a ter alguma taxa de crescimento, com as finanças em dia. Acredito que a taxa de juros recua, a inflação cai e a volatilidade do dólar diminui, já que a retomada de confiança vai tirar a insegurança de agentes econômicos. E provavelmente vamos ter alguma medida para atrair capitais. Na área de infraestrutura o governo não vai ter, como já não tinha, dinheiro para investir. Mas com a volta da confiança, talvez um programa de concessão seja suficiente para atrair capitais em um nível razoável.”

Antonio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP

“Parte das incertezas que se tinha na economia estão diminuindo. Por outro, lado o fato do governo ser provisório mantém um certo grau de incerteza, porque existe uma expectativa com relação às medidas que serão tomadas. Após uma euforia inicial, eu tenho a impressão que a gente vai vivenciar uma espécie de ressaca, porque os problemas da economia brasileira não saem com a presidente Dilma. Eles estão presentes, e ligados à recessão, aumento do desemprego, queda dos investimentos. Esse será o maior desafio para quem vem agora. A retomada do crescimento vai depender da estratégia da equipe econômica a ser implementada e da aceitação disso por parte dos agentes econômicos.”

 

Fonte: G1

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