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Marcelo Tas: "É ridículo responder com xingamentos"

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Foto: Marcelo Corrêa/ Ed. Globo


Marcelo Tas

Conhecido por seu humor ácido, Marcelo Tas se encontrou com a equipe de QUEM nos estúdios da Globosat, no Rio, onde apresenta ao vivo o programa Papo de Segunda, do GNT. E já chega fazendo piada. “Vamos conversar! Eu e Romero Jucá não temos nada a esconder”, diz, soltando uma gargalhada, ao se referir ao ministro do Planejamento afastado poucos dias depois da posse, devido a uma gravação comprometedora.

 

Paulista de 56 anos, Tas se dedica a aprender e lutar por minorias. Pai de um homem trans, Luc, de 27 anos, ele comandou ao lado de Astrid Fontenelle o evento Teia GNT, em São Paulo, para discutir questões de gênero e feminismo. “Me sinto oferecendo um serviço cívico”, afirma.

 

O apresentador chegou a fazer comunicação na USP – mas não terminou o curso de jornalismo – e é formado em engenharia civil, sem nunca ter exercido a profissão. “Foi importante passar por cálculo 1, 2, 3, 4”, pondera. Casado com a atriz Bel Kowarick, de 49, e pai também de Miguel, de 14, e Clarice, de 10, se diz caseiro, gosta de cozinhar para a família, cuidar do jardim e não se liga no passado. “Não tenho saudade dos 22 anos, prefiro hoje.”

Com mais de 30 anos de carreira, o que ainda o desafia na TV?
Tudo! A comunicação está passando por uma transformação que zerou o jogo. Tudo está para ser inventado. A revolução digital trouxe isso. A gigantesca diferença é que o cara que estava calado nunca quis falar tanto com quem está dentro da TV, do lado de cá da tela.

 

O que mais o instiga no Papo de Segunda?
Nunca sei o que vai acontecer. É a junção de quatro cabeças (o programa tem também Xico Sá, João Vicente de Castro e Leo Jaime) muito diferentes para esquartejar temas ao vivo. O mais desafiador é sempre falar de mim mesmo. É difícil, para homens extremamente precários como é o nosso caso, colocar o coração na mesa, ser sincero com questões que dizem respeito a relacionamento, medo, família.

 

Por que a dificuldade em se entregar?
A gente tem muita dificuldade de ser sincero com nós mesmos. Essa é a verdade! É difícil olhar para a gente com total transparência e dizer isso: “Sou desse jeito”. Veja a catarse que foi o dia em que o Brasil assistiu àquela votação do impeachment da Dilma (17 de abril), porque a gente estava se vendo no espelho. O Brasil é feio. Não estou dizendo com relação à beleza, mas feio com relação à grosseria, à violência, à ignorância, somos daquele jeito. Também tenho essa dificuldade de me olhar no espelho (risos).

 

Já se arrependeu de algum comentário que tenha feito na TV?
Algumas vezes. Quando percebo que cometi uma injustiça ou uma agressão, me desculpo.

 

Dê um exemplo...
Durante o CQC fui alvo de muita gente e comecei a usar a palavra babaca para depois explicar o porquê. É um jeito errado de agir. Não se pode chamar telespectador de babaca. Só percebi que estava errado no dia em que alguém (o ex-prefeito de Barueri, Rubens Furlan) me chamou assim. Fizemos uma denúncia, ele foi pego de calça curta e me chamou de “careca babaca”. Na hora assumi o termo, mas depois percebi o quanto é ridículo responder com xingamentos e me curei disso.

 

Você é uma das vozes do TeiaGNT, projeto desse canal pago que fala de empoderamento feminino e da causa LGBTQ. Como é fazer parte desse movimento?
Me sinto oferecendo um serviço cívico. Não é possível que em 2016 a gente viva em um país que assassina pessoas por gênero e sexualidade. Temos de colocar na parede os criminosos que estão perpetrando essas barbaridades. Filhos não podem viver sem as mães porque foram espancadas até a morte. Durante a ocupação do edifício Gustavo Capanema (de uso do ministério da Cultura, no Rio), foi realizado o show do Caetano Veloso e Erasmo Carlos. As mulheres presentes recriaram o refrão de “Tieta”. Elas cantaram: “Êta, êta, êta, êta/Eduardo Cunha quer controlar minha b*#¢£@ êta, êta”. São as mulheres reafirmando seu poder, seu lugar, seu corpo. Uma coisa que até hoje elas não conquistaram.

 

Sexualidade é assunto muito presente em sua vida, não? Como foi a decisão de falar da transexualidade de Luc para a revista Crescer há dois anos?
Foi longa! Como escrevo na revista, no rodapé da minha coluna tem o nome dos meus filhos. Teve um dia em que o Luc pediu para eu mudar o dele. Ele disse: “Não sou mais Luiza e queria que você trocasse o meu nome lá”. Pedi e expliquei a minha editora. Na época eles se interessaram em contar essa história, mas o Luc ainda não estava a fim. Depois de um tempo ele quis falar.

 

Qual é o primeiro passo para as pessoas entenderem melhor a identidade de gênero?
Que não tem nada a ver com sexualidade, com orientação sexual, e isso é uma coisa importante de se falar. Identidade de gênero não tem nada a ver com ser gay, ser lésbica, hétero, ser bi, ser assexuado. Você pode ter uma identidade de gênero masculina e namorar meninos, meninas... Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A segunda coisa que a gente tem que entender é que essa diversidade pede igualdade de oportunidades. Onde a gente vive há um desequilíbrio gigantesco.

 

E como é ser pai de pré-adolescentes?
A única coisa que não muda é a adolescência. Muda o mundo inteiro, mas a adolescência é sempre igual, isso eu estou percebendo agora... Vou entrar na minha segunda adolescência. O Luc está indo para seu segundo emprego, é uma loucura como o tempo voa... É como se eu tivesse vários laboratórios para brincar e aprender. Clarice é fã de um monte de youtuber que não tenho a menor ideia de quem são. O Miguel é muito na dele, gosta de rock, já o levei em vários shows, toca guitarra. Cada um é uma experiência diferente.

 

Em vários momentos da sua carreira você se envolveu com educação. Acha que é um bom professor?
Estou aprendendo. Tenho grande apreço por essa veia profissional, acabei de entregar um game para o Museu do Amanhã (no Rio de Janeiro), que faz refletir sobre o que cada pessoa causa ao planeta com sua personalidade. A máquina te faz sete perguntas e diz que tipo de humano você é. Tenho 56 anos. Sou feliz com a minha idade. Só não fui feliz quando tinha menos de 18 porque queria dirigir automóveis. Queria ver os filmes que não podia, queria ser gente grande e sofri até chegar aos 18. Sou zero nostalgia. Não tenho saudade dos 22 anos. Prefiro hoje.

 

Tem algo que faria diferente?
Será que posso contar (risos)? Toda vez que perdi a calma, que briguei, falei alto, depois vivi uma ressaca profunda. Desde discussão com filho, mulher, amigo... Dói na alma. Fiz engenharia, seis anos. Poderia dizer que me arrependi, não me arrependi. Amo ter feito. Foi importante passar por cálculo 1, 2, 3, 4, mesmo não usando na vida. Não sou de lamentar. Tenho uma doença incurável que se chama otimismo.

Foto: Marcelo Corrêa/ Ed. Globo

Marcelo Tas

Fonte: Quem

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