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Em entrevista, prefeito de Redenção do Gurgueia faz ameaças a adversários políticos

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Uma entrevista do prefeito de Redenção do Gurgueia, Delano Parente (PP), virou inquérito policial e está nos autos do processo que levou a prisão do gestor na operação Déspota.  No áudio, o prefeito faz ameaças de morte à adversários e fez afrontas à justiça.

A gravação integra os documentos de investigação do ex-chefe do executivo pelo Gaeco – Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado.

Durante a entrevista concedida ao radialista identificado como Ronaldo, da Rádio Redenção FM em outubro de 2014, um dia após o seu pai, Audenes de Sousa Nunes, ter sido preso por porte ilegal de arma de fogo. No dia 05 de outubro de 2014, Audenes estava em uma caminhonete da Prefeitura de Redenção do Gurgueia quando foi abordado por agentes da Polícia Rodoviária Federal, que encontraram uma escopeta calibre 12. Além disso, o fato aconteceu na época em que a Polícia Federal investigava crimes de corrupção na cidade e se especulava acerca do envolvimento do prefeito Delano Parente.

Ao falar na rádio, Delano defende o pai por ter portado uma arma em situação irregular e que a prisão poderia ter sido por motivos políticos, já que ganhou repercussão da mídia. Ele afirma, inclusive, que gosta de arma de fogo e diz que tem uma “registrada, claro, tanto que eu tô falando aqui, se não fosse registrada não estaria falando, mas eu posso e eu e muita gente aqui em Redenção pode incorrer numa situação dessas, principalmente nós que vamos pro interior, né?”, questiona.

Em um dos trechos, ele lembrou o assassinato do prefeito Joaquim Fonseca, morto em 1991 com um tiro nas costas, por questões políticas e que, após sofrer ameaças, teve que se precaver. “[...] temos, enfim, que prezar pela nossa integridade física, ninguém vai andar por aí dando sopa”, destacou.

Entre as declarações polêmicas durante a entrevista, o então gestor afirmou que as ameaças haviam partido do grupo que disputou com ele as eleições e que seriam acusadas de participação no assassinato do prefeito Joaquim Fonseca. E respondeu no mesmo tom: “Qualquer um que vier mexer com a gente, é vamos tá armado e vamos, vamos dizer assim, é dar resposta que vocês tão precisando que é um bocado de bala na boca [sic]”, declarou Delano.

Sobre o risco de ser preso por conta do porte de arma e a possibilidade de atingir alguém ao se defender, o ex-prefeito debochou da justiça. Ele afirmou que estaria apenas protegendo sua vida e que “cadeia ficou pra homem, a gente sai, bota advogado e sai. Agora assim, vacilar, dar brecha pra que alguém  venha fazer alguma coisa com a gente, isso aí não vai acontecer [...]”, frisou.

Com relação à prisão do pai na época, Delano explicou foram propagadas mentiras na cidade sobre a quantidade de armas encontradas no veículo da Prefeitura, que havia sido utilizado irregularmente para buscar em Bom Jesus um “filho do vizinho nosso de bem que tinha feito uma cirurgia” e que não havia ambulância disponível. “O que foi encontrado exatamente foi o que? Uma doze, uma espingarda de calibre doze, de repetição, e uma que tava com cinco cartuchos dentro, ela é de repetição, enfim, e alguns santinhos e ele tinha passado no comércio que eu tenho, lá em Bom Jesus”, destacou.

Operação Déspota 
O prefeito Delano Parente e outras oito pessoas foram presas no último dia 14. Ele foi levado a Central de Flagrantes, pois em seu apartamento foi encontrado um revólver calibre 38 e nove munições.


Delano Parente, prefeito de Redenção, no momento da prisão

A operação cumpriu 16 mandados de prisões em Teresina, Redenção do Gurgueia, Morro Cabeça no Tempo, Bom Jesus e Avelino Lopes.

De acordo com o Ministério Público, o grupo é investigado por ter provocado um rombo que chega a R$ 17 milhões nos cofres públicos nos últimos três anos.

As investigações foram desencadeadas pela Promotoria de Justiça de Redenção do Gurgueia, há cerca de sete meses após denúncias encaminhadas por vereadores do município. Na ocasião teria sido constatada a existência de fortes indícios de fraude em licitações, com superfaturamento de preços, emissão de notas fiscais frias, utilização de “empresas de fachada” e lavagem de dinheiro.

O esquema consistia no direcionamento de licitações, para que fossem vencedoras as empresas envolvidas. Tais sociedades, contudo, não dispunham de sede em funcionamento ou de qualquer estrutura para fornecer as mercadorias compradas ou prestar os serviços contratados. Todas as transações, então, eram forjadas, com o intuito de “lavar” o dinheiro público empregado nos pagamentos. As práticas efetivadas configuram ainda crimes contra as licitações e peculato, além de corrupção ativa e passiva.

As investigações incluíram a aplicação de procedimentos como interceptações telefônicas, quebra do sigilo bancário e fiscal dos suspeitos e oitiva de testemunhas. Onze Promotores de Justiça estão acompanhando o caso.

 

Diego Iglesias e Yala Sena
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