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Aécio rebate discurso de Dilma: "voto não é salvo conduto"

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O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que perdeu as últimas eleições para Dilma Rousseff, disse nesta segunda-feira (29) que sua atuação no julgamento do impeachment não tem relação com o "inconformismo" pelo resultado das urnas. "Não é desonra nenhuma perder as eleições, sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei", disse ele durante interrogatório no Senado.

"Não poderia imaginar que, acredito que tão pouco Vossa Excelência, depois de nos despedirmos do último debate eleitoral, nos encontraríamos aqui hoje no Senado Federal, nessa condição. Digo isso porque, acredite, não ajo hoje com nenhum sentimento de alegria. Ajo na minha obrigação de senador", afirmou Aécio logo no início da fala.

O senador citou uma série de questões que ele fez a Dilma durante a campanha eleitoral de 2014, como os relacionados à situação econômica do país. "Vossa Excelência usa os votos que recebeu, como justificativa para os atos que tomou. O voto não é salvo conduto", afirmou Aécio.

Dilma disse que também nunca tinha imaginado que, após os debates eleitorais, iria encontrar Aécio Neves no Senado. "O que eu tenho dito, afirmei no meu discurso, e reafirmo aqui para o senhor, é que a partir do dia seguinte da minha eleição, uma série de medidas políticas para desestabilizar o meu governo foram tomadas. Primeiro, pediu-se recontagem de votos. Depois, pediu-se auditoria das urnas. Nos dois casos, após um ano, verificou-se que isso não tinha nenhuma irregularidade. Na sequência, senador, antes da minha diplomação, arguiu-se no TSE, e levantou-se a necessidade de auditar as minhas contas. Isso está em processo", disse Dilma.

Segundo ela, também foi aberta investigação sobre as contas de Aécio Neves. "Sistematicamente o senhor vem me acusando", disse Dilma.

A presidente afastada falou sobre a queda dos preços das commodities, como petróleo e minério de ferro, em 2014, que afetou a economia do país. Segundo ela, três dias após o segundo turno eleitoral, os Estados Unidos começaram a sair da política de expansão fiscal.

"A consequência é elevação dos juros americanos e desvalorização generalizada das moedas. Esse é um processo extremamente comprovável. Não foi só o real. Foram todas as moedas atingidas, provocando um efeito na inflação, via o câmbio desvalorizado."

Dilma citou ainda a crise energética, que ocorreu com uma das maiores secas da história no Sudeste. Ela afirmou que, mesamo assim, não houve racionamento de energia.

Crise e atuação do Congresso

Ela também comentou a crise política, que afetou os primeiros meses do seu governo, aprofundando a situação econômica do país.

"Esta eleição do senhor Eduardo Cunha produz uma situação complexa para meu governo. Os projetos que enviamos para buscar uma saída fiscal para nossa situação, [...] houve uma ação negativa, no sentido de não aprovar o que mandamos. E ainda houve as 'pautas-bomba' [que aumentaram os gastos]".

A presidente afastada disse que o Congresso não funcionou como deveria. "Todas as comissões cuja ação têm impacto na questão fiscal não funcionaram." Segundo ela, isso mostrou que isso foi uma conduta para inviabilizar seu governo. "Isso sim é um descompromisso com a coisa pública."

Dilma disse que respeita o voto direto e que prefere o barulho das ruas, das disputas eleitorais. "Não respeito a eleição indireta, que é produto de um processo de impeachement sem crime de responsabilidade. Isso não posso respeitar. Posso, ao longo do meu mandato, ter cometido erros e não ter cumprido tudo o que era esperado de mim."

Ela afirmou que há uma discussão sobre a redução dos gastos públicos para se sair de uma crise. "Quem discute isso hoje é o Fundo Monetário Internacional, que diz: 'faça-se uma mudança no curto prazo, e uma maior no longo prazo'."

Segundo Dilma, o governo propôs as medidas necessárias para equacionar a questão fiscal. "Não acho, de maneira nenhuma, a situação que qualquer presidente da República enfrentará, diante de crises cíclicas, que elas podem ser encaradas sem cooperação de diferentes esferas do poder. Não podemos aceitar que se faça a política do 'quanto pior, melhor'."

Fonte: G1

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