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Regina diz que Dilma foi alvo de trama engendrada a várias mãos

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Foto: Moreira Mariz/Agência Senado

A senadora Regina Sousa (PT) foi a 31ª parlamentar a questionar a presidente Dilma Rousseff no processo final de seu impeachment. Nervosa, a piauiense subiu à tribuna do Senado por volta das 19h45 desta segunda-feira (29) onde disse que a presidente era "vítima de uma trama engendrada a várias mãos".

"Não posso e não quero tratá-la como ré. Aqui a senhora é vítima de uma trama engendrada a várias mãos. Mãos do TCU através de um procurador e um auditor fiscal, que confessaram juntos que produziram a peça que serviu de fundamentação da acusação", declarou.

"A senhora é vítima dos maus perdedores que, impacientes, não conseguem esperar outro jogo começar para entrar na disputa", continuou Regina.

A senadora disse ainda que Dilma foi vítima dos que "encomendaram e pagaram pareceres que encontrassem atalhos que os levaria ao Planalto, ainda que em papel de coadjuvantes".

Para Regina, a presidente também paga com o processo de impeachment por não ter cedido às chantagens do ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, além de boicotes do Congresso Nacional.

"A senhora é vítima desse Congresso que a deixou 4 meses sem lei orçamentária, impôs pautas bombas, devolveu medidas provisórias e não aprovou o ajuste que a senhora propôs e engavetou por 5 meses o PLN que daria ao governo nova meta fiscal diante da frustração de receita. A senhora é vitima de Eduardo Cunha por não ter cedido a chantagens, se tivesse cedido não estaria aqui", disse.

Regina disse ainda que Dilma também foi vítima da falsidade dos aliados.  "Alguns serão algozes aqui, outros estão nos ministérios do governo interino. A senhora não cabe no modelito da elite conservadora desse país", afirmou, declarando que a presidente honrou as mulheres em ser a primeira eleita no país.

A petista piauiense encerrou os 5 minutos a que tinha direito, perguntando à presidente o que ela achava do papel das instituições no processo de impeachment. Já visivelmente cansada, Dilma apenas agradeceu Regina e falou do orgulho em ser a primeira mulher eleita presidente.

Íntegra da fala da senadora Regina Sousa:

Minha Presidenta!

Não posso e não quero tratá-la como ré. Aqui a senhora é vítima de uma trama engendrada a várias mãos. Mãos do TCU através de um procurador e um auditor fiscal que confessaram produzir juntos a peça que serviu de fundamentação à tese de acusação.

A senhora é vítima dos maus perdedores que, impacientes, não conseguem esperar outro jogo começar para entrar na disputa. Encomendaram e pagaram pareceres que encontrassem os atalhos que os levariam ao Planalto ainda que exercendo o papel de coadjuvantes.

A senhora é vítima deste Congresso, que lhe deixou quatro meses sem Lei Orçamentária, lhe impôs “pautas bombas”, devolveu medidas provisórias, não aprovou o ajuste que a senhora propôs e engavetou por cinco meses o PLN que daria ao governo uma nova meta fiscal, diante da frustração da receita.

A senhora é vítima de Eduardo Cunha por não ceder às chantagens. Aliás, a senhora está sendo julgada pelo que não fez. Não cedeu, tivesse cedido não estaria aqui. E Cunha vai ser premiado com o mandato, pelo papel que ele desempenhou nesta farsa.

A senhora é vítima da falsidade de seus aliados que governavam com a senhora, gozavam de sua confiança, disputavam lugar nas fotografias ao seu lado, beijavam-lhe as mãos quase com devoção. Alguns serão seus algozes aqui, outros estão instalados confortavelmente nos ministérios do interino. Gostaria de ouvir o que a senhora diria a eles.

Minha Presidenta, o recado que estão lhe dando nesse processo, é também para todas as mulheres que lutam. É o recado do machismo, do patriarcado, do colonialismo ainda tão arraigado nas mentes retrógradas deste país. O que estão dizendo é o mesmo recado dado ao longo da história, a todas as mulheres que ousam, as quais sintetizo em Margarida Alves, nordestina, trabalhadora rural, morta covardemente pelas balas do latifúndio.
Com seu impedimento eles nos dizem que mulher não pode, precisa de permissão, ou “aí não é o seu lugar”.

A senhora, minha presidenta, é a antissinfonia do concerto da orquestra oficial, a senhora desafinou quando ousou ser eleita presidenta da República sendo mulher, de esquerda, militante contra a ditadura e sem marido para posar a seu lado na fotografia: ainda que não “belo, recatado e do lar”. A senhora não cabe no modelito desenhado pela elite conservadora deste país.

A pergunta que lhe faço é: Presidenta, a participação de setores de algumas instituições nesse processo se deu de forma tortuosa e parcial, como é o caso do procurador de contas e do auditor fiscal do TCU, do impedimento de nomear ministros do seu governo, por parte do Ministério Público, entre outros indícios. A senhora não vê aí um comprometimento da credibilidade dessas instituições?

Para finalizar, seja qual for o resultado amanhã, a gente segue em frente. Continue com essa firmeza que incomoda. Muitos queriam vê-la cabisbaixa, e você aí, altiva e esperançosa. Nada é impossível. Aliás, já foi dito que a palavra impossível foi inventada por alguém que desistiu.

Você, eu sei que não desiste, porque você é DILMA, CORAÇÃO VALENTE!


Regina Sousa
Senadora da República (PT/PI)

 

Hérlon Moraes
[email protected]

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Tags: impeachment