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Ferreira Gullar: 'Se você me ama, me deixa ir em paz'

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O poeta Ferreira Gullar, ao sentir seu quadro de saúde se agravar por causa de uma pneumonia, pediu à mulher, a também poeta Claudia Ahinsa, para não sofrer intervenções que prolongassem sua agonia. A alternativa dos médicos era que ele fosse entubado. Gullar morreu aos 86 anos.

"Se você me ama, não deixa fazerem nada comigo. Me deixa ir em paz. Eu quero ir em paz", pediu àquela que era sua companheira havia 22 anos. "Foi uma decisão muito dura para nós, para a família e para mim. Mas era o que tinha de ser feito", disse Claudia, muito emocionada. 

Gullar sentiu-se mal na madrugada de 9 de novembro. Com intensa falta de ar, foi levado para o Hospital Copa D'Or. Os médicos diagnosticaram pneumotórax, a entrada de ar na pleura,a fina camada que recobre os pulmões. O problema era um reflexo do seu tempo de fumante, ainda que estivesse livre do cigarro há mais de 30 anos. 

O ar na pleura comprime o pulmão e o faz murchar. Nos 25 dias de internação, os médicos trataram a lesão na pleura. Instalaram um dreno, para a retirada do ar. E esperavam o pulmão expandir para liberá-lo. "Estava tudo dando certo.  A pleura estava fechando, o pulmão estava expandindo. Eles tirariam o dreno nos próximos dias e ele já receberia alta", conta Claudia.

Claudia conta que o marido tinha boa saúde. "No domingo, três dias antes da internação, tínhamos ido ao cinema, passeado.  Não tinha nada no coração, indisposição para nada. Essas doenças são silenciosas", afirmou.

O casal imaginava que a internação seria curta. Preferiu não alarmar os amigos. Com o passar das semanas, Claudia começou a contar a um e outro sobre a internação. Nas primeiras semanas, Gullar escreveu de próprio punho a crônica semanal publicada na Folha de S. Paulo. Depois, com o agravamento do quadro, passou a ditar o texto para a mulher. "Ele era poesia pura. A poesia está aí. A obra vai ficar", afirmou.

Gullar será velado na Biblioteca Nacional a partir das 17 horas desde domingo. Pela manhã, haverá um cortejo até a Academia Brasileira de Letras. O poeta será enterrado à tarde, no Mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista.

Lamento. O prefeito Eduardo Paes disse que o Rio tem uma "dívida de gratidão" com Ferreira Gullar. "O Brasil e o mundo choram hoje a perda do imortal poeta Ferreira Gullar. Mas, na cidade que ele escolheu para viver, a dívida de gratidão com esse gênio das palavras é ainda maior. Meu amigo Gullar foi um dos 150 representantes da intelectualidade e da sociedade carioca que desde 2012 participam do Conselho da Cidade, colaborando com sua mente brilhante para ajudar a transformar o Rio. Por isso, além da saudade que ficará desse carioca de coração, deixo aqui o meu 'muito obrigado' para este amigo em nome de todos os apaixonados pela Cidade Maravilhosa. Meus sentimentos para toda a família  e para os admiradores de Ferreira Gullar. Que sua poesia continue imortal para a cidade do Rio de Janeiro". 

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