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Vídeo de conversa entre mãe e filha surdas se espalha na web

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Um vídeo que mostrava a conversa entre mãe e filha viralizou na internet. O que ele tinha de especial? Ambas são surdas e se comunicavam por meio de libras. O post foi publicado, na véspera de Natal, na página que os pais da menina de 2 anos criaram para contar a rotina da pequena: O Diário de Fiorella. Hoje, o vídeo já tem 15 mil compartilhamentos e 11 mil curtidas. A mãe da garotinha, a psicóloga gaúcha (e doutoranda em linguística) Francielle Martins, contou, por meio de troca de mensagens no Facebook, os desafios que a criança vive no dia a dia:

Como a página foi criada? Quando a Fiorella tinha quatro meses e nós confirmamos sua surdez, não ficamos tristes, pois só pensávamos em como tirar alegria disso. Então, começamos a refletir melhor sobre o futuro dela e decidimos criar a página para falar do seu cotidiano e dos seus desafios. Precisamos lhe avisar que o português é nossa segunda língua, por isso não escrevemos tão bem.

Qual é a sua primeira língua? Libras. Não é só a Fiorella que é surda. Somos uma família surda com muito orgulho. Não nos comunicamos tão bem em português, pois perdemos muitas oportunidades por falta de acessibilidade. Poucos locais oferecem intérpretes de libras.

Ser uma família surda facilitou o desenvolvimento da Fiorella? Para nós, libras é nossa língua nativa. Então optamos em utilizá-la também com a Fiorella. Percebemos que ela se desenvolveu muito melhor que eu e meu marido. Eu só aprendi a linguagem com 12 anos e meu marido com 9. Ela teve a oportunidade desde o nascimento. Com seis meses ela já fez seu primeiro sinal: papinha. Muitas crianças, como eu fui, são obrigadas a oralizar (tentar se comunicar por meio da fala), o que pode ser desconfortável para o surdo. Só vamos incentivar a comunicação oral para a Fiorella se ela pedir por isso.

E vocês não têm receio que isso, de alguma forma, a impeça de fazer algo, já que nem todos sabem se comunicar em libras no Brasil? Percebemos que ela já começou a tentar falar alguma coisa. Provavelmente, daqui a pouco, vai perceber que tem dois mundos: o dos ouvintes e o dos surdos. Ela vai conviver com isso e decidir o que quer para si. Vamos respeitar a decisão dela. Por isso optamos por não dar aparelho auditivo para ela, ainda.

Quais são os desafios que vocês vivenciam como uma família surda? Aqui na cidade onde moramos (Pelotas-RS) não tem escolinha específica para ela. Estamos à procura de alguma que se adapte à essa condição, tendo, por exemplo, professores bilíngues. Também há pouca literatura específica para bebês surdos. Nós lemos livros em libras para ela. Mas nos preocupamos com as famílias que não têm o domínio dessa linguagem. É essencial aprender libras para quem convive com um surdo na família.

E como ela estuda? Ela frequenta um programa de estimulação precoce, com duas professores bilíngues, duas vezes por semana. Mas estamos procurando uma escolinha para matriculá-la, onde ela possa ir todos os dias. Porém, não adianta as escolas só oferecerem um intérprete de libras. Os professores precisam conhecer a cultura surda, a forma como vivemos. 

A página ajuda vocês a superarem esses desafios? Sim. Auxilia a a divulgar o que descobrimos para a comunidade surda, para que as pessoas fiquem mais preparadas. Principalmente, para as famílias que têm filhos surdos, mas não sabem como tratar isso ou se comunicar com ele. O vídeo fez com que alguns pais entrassem em contato conosco pedindo dicas. Mas também estamos percebendo que a sociedade hoje aceita melhor as diferenças, como a nossa, de nossa família. Muitas pessoas aprendem libras para se comunicar conosco. O ensino superior também já conta com algumas disciplinas nesse formato, felizmente.

Fonte: Notícias ao Minuto

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