Aos 67 anos, Bruce Springsteen criou coragem para contar, de vez, toda sua história. Sem intermediários, o cantor americano escreveu, a próprio punho, uma biografia de quase 500 páginas. O livro, que ganhou o mesmo nome do disco mais famoso do cantor, Born to run, fala sobre tudo: da infância aos anos de sucesso; de ambição a excessos; dos prazeres da fama às dores da depressão.

De maneira cronológica, o cantor nascido em Nova Jersey lembra de todas as fases da carreira, a começar pelo momento, entre a infância e a adolescência, em que decidiu seguir o caminho da música. Springsteen conta histórias das bandas por quais passou e fala da carreira antes de alcançar a fama com a voz única e marcante.

No livro, afirma também acreditar que Born in the USA foi uma das suas melhores composições e revela que, para ele, só no álbum Darkness on the edge of town (de 1978) encontrou a maturidade vocal.

O cantor especula até quais razões o teriam colocado nos holofotes e, por mais surpreendente que seja, não foi a voz, para ele, que o tornou importante no meio musical. Springsteen atribui quase tudo às canções que interpretou. “A minha voz jamais ganharia prêmios. O meu acompanhamento com guitarra era rudimentar, por isso me restavam as canções. As canções teriam de me colocar à mostra”, escreve.

Bruce falou também sobre os principais temas de suas músicas. Aponta que as questões filosóficas, as dúvidas e as reflexões sobre isso foram o principal motor para as suas composições. “A minha escrita estava centrada nas questões de identidade — quem sou, quem somos, o que e onde é a nossa casa, de que é feita a masculinidade ou a idade adulta, quais são as nossas liberdades e as nossas responsabilidades”, comentou.

Apesar de destacar que esse tipo de questão sempre foi o foco, ele observa também que a política aparece na sua maneira de produzir. “Cresci nos anos 1960, por isso a consciência social e o interesse pela política estão gravados no meu DNA cultural. Mas, de fato, foram as questões de identidade que se tornaram proeminentes após o meu sucesso”, assumiu.

No livro, Bruce Springsteen reconhece defeitos — como ser egocêntrico e controlador — e  traz à tona também lembranças ainda mais amargas, como os períodos em que sofreu com a depressão. O cantor, em entrevista à Vanity Fair, reconheceu que a última crise ocorreu há 7 anos, mas que a sombra da doença nunca o abandonou.

“Um dos pontos que trato no livro é que onde quer que você esteja ou com quem esteja, a depressão nunca o abandona. Você nunca conhece totalmente os seus parâmetros”, explicou.

Lembranças de Dylan

Eleito por enquete da edição americana da Billboard como melhor livro sobre música já escrito, Crônicas — Volume 1, de Bob Dylan, ganhou nova edição no Brasil. A obra já havia sido publicada no país em 2004, época do lançamento mundial, pela Editora Planeta, mas estava esgotada.

Com a escolha do músico para levar o Nobel de Literatura no ano passado, a editora aproveitou para colocar a obra de novo nas prateleiras. A Planeta publicará também Tarântula, cultuado livro de poemas do músico, e a Companhia das Letras lançará The lyrics, com letras de Dylan.

Em Crônicas, o cantor e compositor americano apresenta memórias de parte da carreira. A proposta inicial era que a biografia fosse uma trilogia, mas até agora os outros dois volumes não saíram e há quem acredite que eles nunca serão escritos de fato.

No livro, Dylan conta quais eram suas influências do mundo das letras e mostra que, de fato, pensava em formas literárias ao escrever suas canções. O cantor conta também de como era a cidade Nova York quando se mudou para lá e as transformações que a cidade passou em todo esse tempo.

 

Trechos

“Esperando para que você tire algo do seu chapéu, do nada, de fora deste mundo, algo que, antes dos fiéis estarem aqui reunidos, era apenas um boato movido à canção. Estou aqui para provar para aquele sempre esquivo, e nem sempre convincente, “nós”. Este é o meu truque de mágica. E como todos os bons truques de mágica, ele começa com um preparo.”

Born to run, Bruce Springsteen

“A estrada seria traiçoeira, e eu não sabia para onde ela iria levar, mas a seguiria mesmo assim. Era um mundo estranho que se desenrolaria à frente, um mundo trovejante, com arestas pontudas luminosas. Muitos entenderam errado e jamais conseguiriam entender direito. Fui direto para dentro desse mundo. Ele estava escancarado. Uma coisa era certa: não apenas não era governado por Deus, como também não era governado pelo diabo.”

Crônicas — Volume 1, Bob Dylan

Born to run

Bruce Springsteen. LeYa. 496 páginas. Preço médio:  R$ 69,90.

 

Crônicas - Volume 1
Bob Dylan. Editora Planeta. 328 páginas. R$ 41,90.

Fonte: Correio Braziliense