Cidadeverde.com

Semana Santa: Casal faz jejum de bebida alcoólica há mais de 20 anos

Imprimir
  • _MG_6916.jpg Roberta Aline
  • _MG_6909.jpg Roberta Aline
  • _MG_6907.jpg Roberta Aline
  • _MG_6900.jpg Roberta Aline
  • _MG_6892.jpg Roberta Aline

 Se abster espontaneamente de algo, nem sempre é fácil e para alguns é encarado como um sacrifício. Mesmo em tempos de perdas dos valores cristãos, a prática religiosa do jejum ainda tem muitos adeptos.  Na Sexta-Feira Santa – que representa a crucificação e morte de Jesus Cristo- é comum, por exemplo,  não se comer carne vermelha.  O padre Fábio Fernandes, da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no bairro Cabral, em Teresina, alerta  que jejuar não é apenas a mera abstenção do alimento, mas um momento  de revisão da vida.

“Não é só nos privar do alimento, o jejum  está dentro da oração, da leitura da palavra de Deus. A fé que me alimenta no jejum deve me levar à mudança de vida, produzir em mim frutos práticos e sensíveis....é sempre associado a uma vida de fé. O jejum tem uma prática de transformação, distante disso é mera hipocrisia. Embora você sinta o seu corpo fraco pela dependência do alimento,  você vai fazer a oração que acompanha o jejum. Não é só o jejum pelo jejum. É acompanhado pelas orações e pela mudança de vida, pela conversão. O espírito se fortalece por conta da confiança que é reforçada pelo jejum.”, disse o religioso.

O padre Fábio Fernandes coloca ainda que, além do jejum clássico (quando não se come carne vermelha na Sexta-Feira Santa), o jejum se dá também pela privação de algo considerado importante na vida dos cristãos.

“Nesse período, o jejum é intensificado, mais recomendado, por conta do período penitencial, que é a Quaresma. O jejum clássico é o da privação do alimento, mas podemos tirar outras coisas que consideramos importante. Como ele é uma experiência de privação, quando  nos privamos do que achamos que é importante para nossa vida, percebemos que precisamos de muito mais fora aquilo, precisamos de muitas outras coisas. E aí percebemos a necessidade de Deus também”, disse.

 

 “Deus sem a gente é Deus, mas nós sem Deus não somos nada”

E foi em uma missa em Monsenhor Gil, cidade no interior do Piauí, que o casal Emílio Melo e Mariângela Cortez despertou para a necessidade do jejum  e há mais de 20 anos se privam da carne vermelha nas quartas e sextas-feiras e também de bebida alcoólica durante toda a Quaresma. Para eles, o jejuar  é uma forma de retribuição a Deus.

 “Casamos muito jovens e sempre gostamos muito de passear, se divertir e beber. Somos católicos praticantes e precisávamos de uma forma de retribuir a Deus todas as bênçãos que Ele nos dava. Durante uma missa em um domingo, o padre Carlitos orientou que na Quaresma, os cristãos deveriam fazer uma penitencia, tirando da vida algo que gostassem muito. Uma coisa em comum que a gente fazia era tomar uma cervejinha .  Eu não bebo muito, mas meu esposo gosta. Então, resolvemos fazer esse jejum de não ingerir bebida alcoólica”, disse Mariângela.

O casal admite que os primeiros anos do jejum foram difíceis, mas não o suficiente para deixa-los cair em tentação.

“O engraçado é que sempre nesse período há festas grandes .  Mesmo com esse jejum não deixamos de ir. Uma vez fomos a um grande casamento e até os garçons ‘tiraram onda’ com a gente, pois tudo o que eles ofereciam a gente não queria. Eles ficaram assombrados, acharam estranho”, completa Mariângela.

Após mais de duas décadas seguindo a prática religiosa, eles – que bebem apenas socialmente- confessam que agora deixar de ingerir bebida alcóolica durante o ‘período santo’ não significa tanto sacrifício.

“Para nós, agora isso não é tanto sacrifício, mas só o fato de tirar algo da vida, acho que só torna válido. Tirar 40 dias pra  dedicar a Deus,  para não fazer algo, quando se tem o resto do ano  pra se fazer tudo o que se quer, acho que não causa trauma”, disse a Mariângela Cortez.

Ao se referir ao período de abstenção,  Emílio vai mais além . Ele encara o jejum como uma oportunidade do ser humano controlar seus vícios, bem como  se aproximar de Deus.

“Somos feitos para viver sob a batuta de Deus. Não temos a capacidade para vivermos sem Deus. O período da Quaresma, o exercício da  penitência que fazemos,  é o momento para nos aproximarmos  de Deus...é como se a gente fizesse uma revisão para viver todo o ano. Temos que aproveitar para mudar, ver o que está  errado, procurar se converter.  Serve para gente dominar nossos vícios... Depois que passa esse período, nos sentimos mais leves.... a sensação é de dever cumprido, de ter destinado alguma coisa para devolver pra Deus que nos dá muitas bênçãos como a do sol, da noite, das amizades, da saúde, dos pais, dos filhos...”, relatam Emílio e Mariângela.

Jejum deve ser pra toda a vida

O padre Fábio Fernandes enfatiza que o jejum é recomendado durante toda a vida,  não só na Quaresma ou na Semana Santa. Ele destaca os benefícios da prática religiosa.

“Um dos propósitos é melhorar a relação das pessoas com Deus (percebendo  a importância Dele em suas  vidas), consigo ( no sentido de compreender  fragilidades e  aquilo que  fortalece), e com o outro (o que nem sempre é fácil, mas o ideal). Por meio do  jejum, percebemos que as coisas que gostamos devem ser colocadas em segundo plano, sempre na perspectiva de compreender a fragilidade da vida, de organizar nossa vida espiritual, percebendo em que ou em quem estamos depositando nossa confiança. Lembrando que o jejum é um convite para a comunhão entre fé e vida”, finaliza o religioso.

 

 Graciane Sousa

[email protected]

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais