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Casa da Cultura de Teresina sedia exposição "Alistamento"

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A décima edição do projeto Sesc Amazônia das Artes traz uma exposição inusitada: “Alistamento”, um olhar artístico sobre jovens paraenses que se alistaram nas Forças Armadas. De autoria de Éder Oliveira, como resultado de um processo de experimentação estética que aproxima fotografia, retrato, pintura e intervenção. O público poderá conferir os trabalhos até o dia 30 de junho, das 8h às 17h. A visitação terá mediação educativa dos estudantes de Artes Visuais da UFPI.

O artista apresenta um olhar artístico sobre o alistamento, caminho que surge como opção de mudança de vida para muitos rapazes naturais de cidades pequenas, realidade não diferente de outras capitais brasileiras e mundiais. Os jovens retratados foram fotografados e entrevistados a respeito de temas como identidade amazônica, militarismo e violência.

As respostas e histórias fizeram parte do processo de investigação e construção dos trabalhos, incluindo óleo sobre tela, objetos, “site-specific” (arte-ambiente) e videoretrato.

A curadoria da exposição é de Marta Mestre, curadora assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que acompanhou desde a etapa de convocação dos jovens até a produção das obras, com visita ao atelier do artista, em Belém. A exposição, entre outras coisas, assume um efeito de espelho antropológico que, sob o véu de falar dos soldados, deixa passar observações sobre as pessoas no geral, sua cultura, valores e atitudes.

Éder Oliveira é formado em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas pela UFPA. O artista participou de exposições como 31ª Bienal de São Paulo, Pororoca: A Amazônia no MAR (Museu de Arte do Rio) e Amazônia e Ciclos de Modernidade (CCBB Rio de Janeiro e Brasília).

Éder Oliveira

O trabalho de Éder Oliveira constrói-se rente à observação direta do mundo em que vivemos juntos, debruça-se sobre diferentes contextos de identidade e pertencimento, e extrai deles sentidos artísticos e culturais que nos devolvem não só o estranhamento de nossas (problemáticas) sociabilidades, mas também a estranheza constitutiva do eu.

Para chegar ao conjunto final de trabalhos de “Alistamento”, Éder Oliveira serviu-se de procedimentos de aproximação ao “objeto” relacionados aos campos das ciências sociais, e em particular da antropologia.

Junto aos quartéis militares e Forças Armadas de Belém divulgou uma convocatória pedindo a participação de alistados no projeto. Aos que responderam, chamou-os para o seu atelier localizado na periferia da cidade, e dividiu o processo de trabalho entre um questionário e uma sessão fotográfica. A partir daí realizou os retratos em tela, na parede da galeria e na rua, transferindo escalas e verossimilhanças físicas.

Dando seguimento à sua pesquisa sobre o “homem amazônico” que o levou a retratar "marginais", os "soldados" agora representados por Éder Oliveira também nos expõem diante daquilo que deveria ter ficado guardado ou invisível. Uma espécie de "retorno do recalcado nacional" (E. Viveiros de Castro) que “desarranja” corpos, rostos e percepções. E que ao reconfigurar as formas perceptivas existentes torna-se político sem que necessite ser engajado.

A “Alistamento” assume um magnífico efeito de espelho antropológico que, sob o véu de falar dos outros (soldados), deixa passar observações sobre nós, sobre a nossa cultura, os nossos valores e atitudes. E de um modo simples coloca em evidência o quanto toda a imagem é sempre a imagem de um “outro”, sendo a experiência de alteridade capaz de uma reformulação constante dos termos em que nos definimos.

 

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