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Davi Sereio mergulha no Rio, esbarra em intolerância, mas nada em mar de amor

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Davi Sereio no Museu do Amanhã Foto: Thiago Freitas / Extra


Sucesso entre os navegantes da internet, o jovem Davi Moreira — ou Davi Sereio, como é mais conhecido — quer mostrar que é mais que um rabinho colorido no mar. Estudante de Artes Cênicas e YouTuber, ele espera que sua nadadeira respingue atenção em temas como meio ambiente, sexualidade e até preconceito. Num mergulho pelo Rio, ele visitou as águas pouco limpas da Baía de Guanabara e quase tomou um caixote com a homofobia no Parque Madureira, num episódio pontual naquele bairro com tradição no samba e também na cultura da diversidade.

Davi tem 22 anos e adotou a cauda nos banhos de mar há dois. Estreou em Saquarema, mas ganhou notoriedade no Arpoador, além da maré de sucesso na web, com tsunamis de seguidores chegando a todo instante através das redes sociais.

— É mais que um personagem, é um estilo de vida para mim. Sempre gostei de sereias e poder usar isso para atingir as pessoas é muito bom — avalia o sereio, que emenda: — A mensagem é de liberdade. As sereias são livres e protetoras do meio ambiente. Defendo o mar! Todos dependemos dele e só o sujamos.

Sobre as críticas que recebe, muitas prefere ignorar. No Parque Madureira, um grupo de adolescentes, estudantes, se reuniu para chacota. Entre deboches e palavrões homofóbicos, chamou a atenção a frase — infeliz e em tom de violenta ameaça — de um rapaz:

— Eu estava na cascata, mas ouvi ele falando “ah uma pistola”. Eu prefiro ignorar. Se a pessoa quiser evoluir e vier conversar comigo, como gente ou sereio, eu darei atenção. Mas de todo jeito, é uma pena — comentou.


Davi e a pequena Eduarda: nova amizade Foto: Thiago Freitas / Ex

No mesmo local, outras pessoas se aproximaram para tirar fotos. Uma estudante saiu dizendo que Davi “está muito linda”. Mas recepção calorosa, mesmo, o sereio teve no Centro e na Zona Sul. Aplausos, fila para fotos e o reconhecimento de pessoas de longe, como grupos vindos de São Paulo, Brasília, Goiânia e Manaus.

— Eu adoro os vídeos dele. A mensagem que passa é boa, de tolerância, de paz. Eu sempre curto e compartilho tudo, principalmente com os parentes religiosos — disse Maikon Conceição, de 21 anos, de Goiás.

No bairro da Urca, o sereio encontrou-se com um belo pôr do sol, digno de uma figura mitológica dos mares. E Davi terminou o dia com a confirmação de que está no caminho certo: a pequena Maria Eduarda, de 5 anos, que chegou reclamando “não é mulher” mudou de ideia, conversou e ainda saiu com uma bela fotografia.


Davi garante: ser sereio é estado de espírito Foto: Divulgação / Rafaella Lemos

Entrevista com Davi Sereio

Você se diz militante. Por que ignorar a homofobia?

Não ignoro! Estou na rua vestido de sereio. Não preciso ficar batendo boca. A minha atitude na vida, de ser quem sou, de ser sereio, fala mais alto que qualquer coisa. E é educativo também. Quando alguém se aproxima, eu digo “vai lá na internet, no Facebook, Instagram, pesquisar sobre o Davi Sereio”. E eles vão, porque ficam com a pulga atrás da orelha. E lá consigo passar a minha mensagem.

Você passa muito por situações de preconceito?

No geral, a opinião dos outros não me importa, mas claro que a homofobia é abominável. Assim como é o preconceito dos gays “discretos” com os “afeminados”. Abominável. Os héteros podem até te bater, coisa que o gay não vai fazer, mas você dizer que não quer uma amizade, porque fulano é afeminado, é abominável.

Você nasceu em São Gonçalo, numa família evangélica. Como ela reage?

No início era horrível, claro. Era a vergonha da família. Mas o amor supera. Eu ainda sou evangélico, tenho minha fé, e vou à igreja às vezes. Minha mãe gosta quando vou com ela. Lá, na Primeira Igreja Batista de São Gonçalo, nunca fui hostilizado.

Seu pai apoia o Davi Sereio?

Ele cuida da minha agenda! Sou ator, essa é a minha profissão, então ganho, pelo menos R$ 300 para fazer figuração em festas. Ele que cuida dessa parte para mim.


Davi e a cauda que o deixou famoso Foto: Thiago Freitas / Extra

 

Fonte: Extra 

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