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‘Deixar H. Dobal na cinza do silêncio é crime”, adverte Cineas Santos no Salipi

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O professor, poeta e escritor Cineas Santos fez uma advertência ao participar da 15ª edição do Salipi (Salão do Livro do Piauí) e bravejou: “deixar H. Dobal na cinza do silencio é crime”. Em seguida ele esclarece: “Dobal tem que estar nas escolas, sendo lido, homenageado. É o poeta maior do Piauí. Ele projetou o Estado de forma humana, levou o Piauí a todos os lugares e é um escritor universal”.

Cineas Santos e o poeta Salgado Maranhão bateram um papo com o público no Salipi, no último sábado. O evento acontece na Universidade Federal do Piauí e vai até o dia 11 deste mês. Veja programação aqui

Para ele, o Piauí trata mal os poetas vivos e muito mal ainda a memória dos poetas mortos. Cineas contou que o livro "Sangue" de Da Costa e Silva levou 99 anos para chegar ao Estado, e que foi editado por ele em 2007. O seu medo, revelado para o público, é que o silêncio recaia sobre a obra do Dobal. “Eles dizem que o piauiense tem baixa auto-estima, mas como não ter? é preciso adubar, aquecer, propagar as cosias boas do Estado”.

A palestra “O Piauí na poesia de Dobal”, Cineas recitou poemas, explicou a simbologia das estrofes e relembrou momentos em que esteve ao lado do poeta. 

Para Salgado Maranhão, o escritor piauiense é um dos maiores poetas do século 20. “Ele universaliza o Piauí, embora falando da região, não é regional, é universal”. 

 Cineas recitou “Temporas”, “Fazenda” e ler o poema “Campo Maior” esclareceu que H. Dobal não é da cidade dos carnaubais e que nasceu em Teresina. Há uma confusão atribuindo a Campo Maior ou São Luis, também por outro poema, a naturalidade do poeta.

Ao falar de sua convivência com o escritor, Cineas disse que Dobal era tímido, mas engraçado e bem humorado quando estava entre amigos.  

Cineas contou que certa vez perguntou ao poeta durante entrevista, por que ele demorou tanto tempo para publicar seu primeiro livro “Tempo Consequente” em 1966. Dobal foi direto e convicto: só iria publicar um livro quando não precisasse da opinião de ninguém. 

Em seguida ele ler Réquiem: 

Nestes verões jaz o homem
sobre a terra. E a dura terra
sob os pés lhe pesa. E na pele
curtida in vivo arde-lhe o sol
destes outubros. Arde o ar
deste campo maior desta lonjura
onde entanguidos bois pastam a poeira.
E se tem alma não lhe arde o desespero
de ser dono de nada. Tão seco é o homem
nestes verões. E tão curtida é a vida,
tão revertida ao pó nesta paisagem
neste campo de cinza onde se plantam
em meio às obras-de-arte do DNOCS
o homem e os outros bichos esquecidos

 

Para Cineas, Réquiem é o mais forte poema escrito por Dobal e volta a reler para o público a frase. “E se tem alma não lhe arde o desespero de ser dono de nada”. 

Salgado interrompe e diz que o poema traz uma “alma lacerada” e quem a ler sabe que está lendo a alma de um povo.

O professor recitou também “Introdução e rondó sem capricho” e destaca o Piauí está latente em cada um dos versos de Dobal, mas pela primeira vez ele fala do Estado. 

Ler o poema “Relatório” e ao falar em voz alta e clara sobre os versos de “O verão”, o professor esclarece:

“O verão de H. Dobal não é o do Sudeste, é o período de estiagem, de seca. É clima de desolação, sufoco, que mostra um homem preso a esse chão, sendo condenado. Dobal não é doce, ele faz uma poesia para acordar”. 

Na palestra, Cineas lembrou que injustamente o escritor foi criticado por lançar “A província deserta”, quando erroneamente as pessoas sem ler o livro o atacavam dizendo que ele estaria criticando o Estado. O próprio Dobal explicou a Cineas a razão do título do livro: “Eu sou piauiense de dizer: está bonito para chover, mas a minha província não é o Piauí e o universo”. 

Falou sobre o “O Rio” seu poema e disse que o poeta tinha consciência ecológica, sem ser panfletário. Lembrou o poema dedicado a figura emblemática de Leonardo Carvalho Castelo Branco, que foi preso e lutou pela independência do Piauí. 

Lembrou do poema “Gleba de ausentes” e “El Matador” que denuncia o extermínio dos índios. Cineas disse que Dobal nunca fez um poema para Teresina e lamenta. “Talvez nos ajudaria a entender essa cidade tão amada”.

Salgado encerra a palestra avisando que no próximo livro que lançará vai destacar o poema “cantiga de viver”.

Leia aqui: 

veja outros poemas de H. Dobal:

Obras publicadas:

O Tempo Conseqüente (1966)
O Dia Sem Presságios (1970)
A Viagem Imperfeita (1973)
A Província Deserta (1974)
A Serra Das Confusões (1978)
A Cidade Substituída (1978)
Os Signos E As Siglas (1986)
Uma Antologia Provisória (1988)
Um Homem Particular (1987)
Cantiga De Folhas (1989)
Roteiro Sentimental E Pitoresco De Teresina (1992)
Ephemera (1995)
Grandeza E Glória Nos Letreiros De Teresina (1997)
Lírica (2000)
Gleba dos Ausentes * Uma Antologia Provisória (2002)
 

 

Flash Yala Sena
[email protected]  

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