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'Chuveirinho' instalado em marquise causa polêmica no RJ

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Uma espécie de “chuveirinho”, instalado na marquise do edifício do cinema Roxy, em Copacabana, causou polêmica neste fim de semana. O síndico afirma que o dispositivo foi instalado para regar um futuro jardim que será construído no local, mas, de acordo com alguns moradores, o equipamento foi instalado para afastar o tumulto causado por pessoas em situação de rua que se abrigam debaixo do prédio de número 45 da Rua Bolívar. 

Presidente da Sociedade Amigos de Copacabana e morador do bairro há 50 anos, o advogado Horácio Magalhães filmou os canos aspergindo água do teto na sexta-feira e postou um vídeo na página da associação no Facebook.

Até a noite de ontem, mais de 18 mil pessoas já tinham visto a cena. Enquanto exibia a calçada toda molhada, Horácio criticou a falta de ação da prefeitura para a retirada de moradores de rua:

“Se a prefeitura não resolve o problema, o cidadão resolve. Estamos em frente ao cinema. Foi instalado um dispositivo: molha a calçada, e a população de rua não se concentra. É a solução que o cidadão encontra quando o poder público não resolve o problema. Infelizmente, a nossa situação na cidade e no nosso bairro está dessa forma. A prefeitura não toma providência, e o cidadão acaba tomando. É isso aí. Onde vamos parar”, disse Horácio no vídeo.

Ele disse não concordar com a instalação da engenhoca, mas que entende o motivo.

— Claro que isso não é o tipo de atitude que a gente encoraja, mas a gente entende o que motivou. População de rua virou um problema crônico. Muitas pessoas ficam receosas de passar na calçada, não sabem se vão pedir esmola ou ser assaltados. Essa discussão é macro, com vários aspectos. Tem um aspecto social, mas tem a da segurança. Chegou ao ponto de ter um pedinte em quase toda esquina. Muitos ficam postados em frente aos bancos. Mulher e idoso ficam receosos. Eu fico com um pouco de receio porque eu não sei se ele vai me pedir (dinheiro) ou se vai me roubar — afirmou Horácio.

'Eles fumam crack, cheiram cola e fazem sexo à luz do dia', diz condômino

Três moradores do Edifício Roxy confirmaram a informação de que os “chuveirinhos” foram instalados pelo próprio condomínio para afastar os moradores de rua. A secretária municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Teresa Bergher, esteve no local neste domingo para apurar as denúncias e disse que vai acionar a Secretaria municipal de Urbanismo para multar o condomínio, caso a irregularidade seja comprovada. A Gerência de Licenciamento e Fiscalização da Zona Sul informou que fará hoje uma vistoria no local e, se necessário, “tomará medidas, como notificar o proprietário".

— Isso é um absurdo, uma irresponsabilidade e falta de humanidade. A lei nos impede de agir, porque permite que essas pessoas deixem os abrigos e voltem a dormir debaixo das marquises. Não vou aceitar nenhuma violência contra os moradores de rua — disse Teresa Bergher.

Um morador do Edifício Roxy, que preferiu não se identificar, disse que antes de instalar o equipamento foram feitas várias reclamações à prefeitura. Mas a situação ficou insustentável.

— Já fizemos várias reclamações. Então, todo mundo concordou em instalar. Um pouquinho de água não mata ninguém. A gente não quer incomodá-los, mas temos que tomar alguma providência. Eles fumam crack, cheiram cola, fazem sexo à luz do dia, brigam toda a noite e não deixam ninguém dormir — contou.

Nem todos os moradores da região, no entanto, concordaram com o equipamento.

— Isso é surreal, desumano, radical e completamente errado — criticou o aposentado Jorge Coelho Neto, de 71 anos. — Os moradores de rua não estão aqui porque gostam. São seres humanos iguais a gente. Não tem que matá-los, mas cuidar deles.

Um dos gerentes do cinema Roxy disse não saber quem instalou os canos. Já o síndico do edifício informou à prefeitura que o sistema foi feito para um futuro canteiro de plantas. A imprensa entrou em contato com o síndico, mas ele não quis comentar o assunto.

Fonte: O Globo

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