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Ary Fontoura revela que a grande paixão de sua vida foi uma prostituta

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Ary Fontoura não gosta de celular nem de e-mail. Marca compromissos por fax. Foi assim quando aceitou conceder a Quem esta entrevista. Em menos de dois dias, estava tudo acertado. O local: um café de uma livraria que o ator freqüenta, na Barra da Tijuca, próximo ao Recreio, bairro em que mora, no Rio de Janeiro. O horário: 17h. Ele foi pontualíssimo. Antes mesmo de sentar-se, com a mochila trespassada nas costas, pediu ao garçom um café com leite e um sanduíche de presunto.
 
Aos 75 anos, 55 de profissão, o intérprete do mordomo Silveirinha, de A Favorita, tem muita história para contar. Entre uma e outra, fãs o reconhecem. “Não sei explicar o sucesso desse personagem. Acho que não atemorizo ninguém”, diz o ator, que está em cartaz nos cinemas com A Guerra dos Rochas, em que interpreta uma velhinha de 80 anos. A seguir, o ator relembra amores da época em que cantava em bordéis, afirma que se apaixonou perdidamente por uma prostituta e admite o hábito de tomar remédios contra a impotência.

Parte da imprensa comenta que A Favorita está inovando na forma de se fazer novela. Você concorda?
A mudança é na forma, mas o conteúdo é igual. O folhetim real era o da Janete Clair. O que o João Emanuel fez? Virou o folhetim de cabeça para baixo, modificando os ganchos da novela tradicional. Trouxe a solução de um assassinato para o primeiro quarto de capítulos, e é louvável que a Globo tenha aceitado quebrar esse tabu. O restante, Janete já fazia há décadas. Agora, João é um cara de 34 anos, muito jovem. Sua capacidade de criar é extraordinária. Ele é um dos grandes autores da TV atualmente.

Você torce pela Flora ou pela Donatela?
Eu, Ary? Nunca me coloquei como espectador. Preciso pensar na resposta. Se fosse pelas intérpretes, a Patrícia Pillar e a Claudia Raia, adoro as duas, são grandes amigas. Mas, em função da moral, a Flora é uma psicopata, não pode ficar à solta matando todo mundo por aí.

Como explicar o sucesso do mau-caráter Silveirinha?
Não sei. Precisaria me analisar, e não sei lidar com minha modéstia (ele pensa, levanta as sobrancelhas e continua). Deixa eu tentar achar palavras que não soem arrogantes. Será que foi o carisma? Estou há 43 anos na Globo, fiz 45 novelas. As pessoas já me viram de n formas. É fácil achar uma razão para o fracasso, mas, para o sucesso, não. Me preocupa as crianças gostarem dele. Eu não atemorizo ninguém! E eu quase não entro nesse elenco...

Por quê?
Um pouco antes, depois de Sete Pecados, em 2007, fui fazer uma cirurgia de varizes. No pré-operatório, o médico examinou a minha carótida e viu que tinha 95% de entupimento. Nunca senti nada. Fiz logo a cirurgia.

Sente-se velho?
Não me sinto velho, me sinto com a idade que tenho. E olha que fumei por 32 anos, mas consegui parar há 26. É o maior vício que se pode ter. Está ligado a problemas psicológicos. Você fuma quando está sozinho. Ele é um companheiro. Parar foi uma das decisões mais radicais que tomei na vida.

Que outras decisões foram tão importantes para sua vida? 
Antes de parar de fumar, foi sair do aconchego da família, no Paraná, e vir para o Rio seguir a carreira de ator, aos 31 anos. Cheguei no dia 31 de março de 1964, em pleno golpe militar. Não se sabia muito o que acontecia, não tínhamos a dimensão real do fato histórico. Cheguei no Aeroporto Santos Dumont, passei por um corredor de policiais. Pensei que no vôo tinha alguma autoridade importante, a cidade estava parada.

Você chegou a ser preso? 
Não, estava mais envolvido com a carreira, preocupado em dar continuidade ao teatro, que comecei a fazer em Curitiba. Quem sabe fosse engraçado ter ido para Buenos Aires com Ferreira Gullar, Paulo Pontes e aquela turma toda que se exilou? Um exílio de vez em quando deve ser bom, culturalmente falando (risos).

Você falou em cigarro como companheiro da solidão. Você é sozinho? 
Moro sozinho, quer dizer, com meus empregados. A família mora toda no Sul. Mas não me sinto sozinho.

Você não se casou? 
Cheguei a ficar noivo, quando morava no Paraná. Mas deixei isso de lado e embarquei no que realmente queria fazer: me dedicar à carreira. Achei melhor ficar solteiro e não me comprometer com ninguém. Acredito que o casamento é uma instituição falida, apesar de respeitar quem o admira.

Nunca quis ter filhos? 
Você tocou num assunto que prefiro manter isolado, isso interfere na vida de outras pessoas. Desculpe, mas vou deixar isso quieto. Se eu for falar da minha vida sentimental aqui, vou atrapalhar meio mundo.

Foram tantos amores assim?
Ah, e como! Tenho 75 anos. Acha que passei em brancas nuvens? Fiz o que pude fazer e ainda faço. Não busco o amor. Só é preciso ser perspicaz para olhar para o lado e perceber que tem algo no ar. Era moleque, namorador.

Conte uma dessas molecagens.
O início da minha carreira foi como cantor de puteiro, com uns 18 anos. Trabalhava como ator, mas sempre quis ser cantor. Antes de cursar direito, conheci um sujeito como o Dodi (personagem de Murilo Benício, em A Favorita), um cafajeste que me levou para um lugar de aconchego. Disse que tinha uma amiga com uma rede de prostíbulos.

Como era sua rotina por lá? 
Dançava, bebericava, cantava um pouco e pegava mulher. Era garotão, elas se encantavam por mim, raramente dormia em casa. Testosterona saindo por todos os poros.

E se apaixonou por alguma delas?
Sabe que sim? Foi a pessoa de que eu mais gostei na vida. E a coisa mais incrível é que não aconteceu nada entre nós. Eram 20 putas na casa, fiquei com quase todas, parei na 19a, ela era a 20a. Caramba, eu nunca contei isso para ninguém (risos). Ela me disse assim: “Não faço nada com você porque, se fizer, minha vida vai virar um inferno”. Entendi o que queria dizer. Ela também gostava de mim. Queria tirá-la de lá, mas ela desapareceu.

Você já tomou Viagra?
Sim, várias vezes. Porque, de repente, aos 75 anos, há necessidade, né? Você nunca tomou?

Eu não tenho 75 anos...
Nem tome, então. É um perigo (risos). A gente fica com ereção por muito mais tempo. Viagra conheço bem, mas Cialis é melhor, pode contar com ele por um dia e meio.

Como foi se vestir de mulher no filme A Guerra dos Rochas? 
Daniel Filho costuma dizer o seguinte: quando faltar alguém para um papel, chame o Ary que ele dá um jeito. Foi o que aconteceu. O papel seria do Jorge Fernando, que dirige o filme, mas ele não pôde e me chamou. É uma comédia que gira em torno das confusões de uma família para decidir quem cuidará da matriarca, minha personagem.

É verdade que você não quis ver o resultado final? 
Eu não vi o filme, por não entender por que fui escolhido para o papel. Não era Uma Babá Quase Perfeita, o personagem não era um homem vestido de mulher, era uma mulher mesmo. Robin Williams colocava peruca, vestido e saltos. Eu, além disso, também tinha que me sentir naquele universo. Por isso é que a dificuldade maior foi viver o personagem. Por um mês, tive que tirar as sobrancelhas, raspar os pêlos do corpo, pintar as unhas, colocar seios postiços, andar de salto alto. Já tinha feito algo assim no teatro, mas no palco a gente brinca de fazer. No cinema, é preciso viver. Isso mexeu com meus conceitos de feminilidade.

Como assim?
Passei a ter um respeito maior pela mulher. Elas sofrem muito para ser o que são. Com a sensibilidade tão à flor da pele, chorava por qualquer coisa. Foi difícil, porque era comédia, precisava sorrir o tempo todo. Fui mulher esse tempo todo. Entrei de cabeça no trabalho.
 
 
 
Fonte: Revista Quem
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