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Quase 15 anos após o real, moedas estão em falta novamente no país

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Quase 15 anos após a implantação do real, o comemorado controle inflacionário abriu espaço para um outro problema, que costumeiramente volta a fazer parte da vida do brasileiro. Desprezadas na época em que a inflação elevada consumia seu poder de compra rapidamente, as moedas metálicas ainda não entraram para o dia-a-dia das pessoas. Muitas delas continuam largadas no fundo dos bolsos, gavetas e cofrinhos.
 
A estimativa do Banco Central é que metade das 14,2 bilhões de moedas em circulação estejam retidas nas casas dos consumidores, dificultando o troco nas negociações comerciais. O problema se agravou nos últimos 12 meses. O BC responsabiliza a população, que não coloca o dinheiro para circular na economia. Mas o banco tem sua parcela de culpa.
 
Responsável por determinar a quantidade de dinheiro a ser colocado no mercado, o BC autorizou a confecção de 1,2 bilhão de moedas desde o início de 2008, no valor de R$ 515 milhões — diferença entre a quantidade total em circulação em janeiro de 2008 e janeiro de 2007.

O volume atual é 8,9% superior ao verificado no mesmo período do ano passado. O incremento, apesar de superior ao crescimento de 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro estimado para 2008, é o menor desde 2000, quando o acréscimo havia sido de 3,1%. Até mesmo em 2003, quando o PIB avançou apenas 1,1%, o número de moedas cresceu mais — 11,2%.
 
De acordo com o chefe adjunto do Departamento de Meio Circulante do BC, Luiz Ernani Marques Accioly, para definir a quantidade necessária de emissão de dinheiro no país, é considerada a demanda do público confirmada pelas instituições financeiras e o crescimento da economia do país.
 
O comércio já sente as consequências da desaceleração na emissão. Comerciantes do Distrito Federal fazem campanha para arrecadar moedas e se deslocam até para o entorno para fazer a troca. Com dificuldade de obter dinheiro para dar de troco, a rede de hipermercados Pão de Açúcar começou uma campanha para incentivar a substituição por dinheiro em papel.
 
O consumidor que entregar o equivalente a R$ 100 em moedas para pagar compras leva para casa uma caixa de bombons. Atualmente, três lojas no DF estão com a promoção. “A população guarda as moedas em casa. Há um ano notamos que o problema se agravou, mas com a campanha aumenta a procura dos clientes”, conta Onofre Silva, gerente regional do Pão de Açúcar.
 
A carência é maior no Plano Piloto, na opinião do diretor da Federação do Comércio do DF (Fecomércio-DF), Fábio de Carvalho. “Os comerciantes do Plano Piloto e dos lagos encontram mais dificuldades para conseguir moedas. Parece que os mais abastados têm desinteresse por elas”, afirma.
 
Gerente da padaria Delícia, localizada no Lago Sul, Ronaldo de Sousa, tem recorrido a comerciantes de cidades do DF e até do entorno para obter as pratinhas. “Troco com distribuidores e comerciantes das cidades satélites, até em banco do entorno já fui. Estamos tendo que ir atrás”, conta.
 
Uma saída pode ser arredondar preços, de acordo com o presidente do Sindicato dos Feirantes do Distrito Federal (Sindifeira), Francisco Valdenir Machado Elias, que representa cerca de 30 mil comerciantes. “Não é fácil lidar com a falta de moedas.
 
Quem vende produtos mais baratos, como pastel ou frutas e verduras, acaba tendo um problema. Se um produto deveria custar R$ 6, ele passa a custar R$ 5. E o consumidor sai perdendo quando o preço é R$ 14,99 ou R$ 39,99, por exemplo. Ele nunca leva para casa esse R$ 0,01”, afirma.
 
Poupança pessoal
O Banco Central credita parte da responsabilidade aos consumidores, que retêm o dinheiro em casa. Uma pesquisa feita pelo banco mostra que um quarto da população admite guardar o dinheiro em cofrinhos. Metade destes, por uma semana. Mas 7% dizem que o dinheiro fica parado por um ano ou mais.
 
Um erro, na avaliação do chefe adjunto do Departamento de Meio Circulante do BC, Luiz Ernani Marques Accioly. “O troco depende do esforço da população em usar as moedas, ela tem que colocar o dinheiro para circular”, afirma. “Dinheiro parado em casa não produz remuneração”, orienta.

Além disso, alerta, o prejuízo com a perda do dinheiro acaba sendo repassado para a própria população. Somente no ano passado, o governo gastou R$ 268 milhões dos cofres públicos para produzir 1,1 bilhão de moedas. Cada uma delas tem tempo de vida médio de 30 anos.

Para algumas pessoas, o depósito no cofrinho já se tornou um hábito. A funcionária pública Zirza de Souza e Costa, de 54 anos, guarda diariamente qualquer moeda que recebe. O dinheiro é usado anualmente para pagar o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) de seu carro. “Antigamente esquecia ou perdia as moedas, dava para as crianças. Hoje não, elas têm um destino certo: o cofre”, conta.

A secretária Ana Maria Fernandes Marinho, de 45 anos, também deposita diariamente as moedas em seu cofre, que tem o formato de um labrador, a mesma raça de seu cachorro. E é pelo animal de estimação que ela guarda as moedas diariamente.
 
O dinheiro serve para pagar o hotel do cachorro durante as férias de Ana Maria, no fim de cada ano. Ao longo dos 12 meses, o valor passa de R$ 300. “Deixo para trocar tudo no fim do ano porque muitas vezes os bancos nem gostam de receber, dizem que não têm alguém para contar as moedas”, afirma.

 

Fonte: Correio Braziliense

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