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Por que devemos nos importar com o desmatamento?

Como biólogo, vez por outra, sou consultado a respeito da supressão de vegetação para realização de obras e outros tipos de uso do solo. É um trabalho que faço a contragosto porque, se dependesse unicamente da minha vontade, preservaríamos o máximo possível da vegetação original. Muitas vezes as supressões são necessárias para dar lugar a obras importantes, muitas das quais, além dos interesses privados, servem fortemente ao interesse público, como a edificação de uma estrada ou de um conjunto habitacional, por exemplo.

As regras para remoção da vegetação são bastante criteriosas. Aliás, o Brasil é o país mais bem amparado por um arcabouço de leis para proteção do meio ambiente. Algumas das normas vigentes, por vezes ferem critérios científicos, como já escrevemos e já fizemos uma participação em um podcast, recentemente, falando sobre a inexistência de Floresta Atlântica no Piauí, cujos Domínios, determinados por legislação federal, abrangem áreas que não resguardam qualquer semelhança com aquele importante ecossistema brasileiro.

Nas atividades de campo verifico os parâmetros determinados pela legislação e, quando possível, estabeleço condições para o empreendedor sobre que áreas poderiam ser preservadas em detrimento de outras. Dia desses fiz sugestão desta natureza para os investidores em um dos shoppings de Teresina, o que foi bem aceito pelos projetistas e empreendedores, e um resquício de mata nativa foi preservado, numa simples modificação da entrada principal do empreendimento.

Vejo o desmatamento como uma das coisas que mais impacta no microclima de uma região. Nossa cidade (Teresina-PI) é muito quente, e a remoção da vegetação influencia de forma considerável nas variações de temperatura. Um estudo recente publicado na revista Sciences Advances, revelou que a diversidade de plantas pode aumentar a estabilidade da função dos ecossistemas e seus indicadores, uma vez que há influência na estabilização da fenologia (comportamento fisiológico das plantas: floração, frutificação, queda e recomposição das folhas etc.) em regiões de grande umidade nos EUA. Se nestas regiões há interferência em fatores climáticos (principalmente microclimáticos), imagine em áreas mais secas como as que enfrentamos aqui no Brasil, especialmente na região Nordeste.

Tão grave quanto o desmatamento, é a recomposição da vegetação utilizando espécies exóticas como se percebe nas áreas urbanas. Aqui na nossa região, por exemplo, é muito frequente o uso da espécie Azadirachta indica, conhecida popularmente como Neem Indiano. Uma árvore de crescimento rápido, mas apontada por alguns estudiosos como danosa à fauna, especialmente de aves, uma vez que produz frutos e secreções mutagênicas. Os animais, de uma forma geral, são espertos o suficiente para aprenderem o que devem comer e o que devem evitar. Entretanto, este aprendizado leva algumas gerações para acontecer. Quando uma espécie é introduzida, o impacto da sua chegada influencia em toda a cadeia alimentar, podendo acarretar danos sérios à biodiversidade daquele lugar.

Precisamos aprender mais com a natureza antes de tentar modificá-la.

Uma boa semana para todos e todas.

 

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