A cidade de Teresina vivencia um drama desolador que tem deixado seus moradores atônitos e assustados diante de uma triste realidade que a cerca. Não se sabe exatamente por que a capital do Piauí, considerada a mais católica do Brasil, registra um índice considerado alto de suicídios. E muitos deles envolvendo jovens, independente da classe social a que pertençam. Pelos números, não contabilizados oficialmente, já se chega a falar em caso de saúde pública.
Não há uma explicação única para esse fato, que tem chamado a atenção de psicólogos, psiquiatras e até da Igreja. Ano passado, a Arquidiocese de Teresina promoveu um seminário para jogar luz sobre o tema, que quase sempre permanece na sombra do silêncio, seja por medo ou por vergonha das famílias que são vítimas desse tipo de ocorrência. Mas falar de forma clara e objetiva sobre o assunto é sempre melhor que escondê-lo atrás da cortina como se ele não existisse.
Por trás da maioria dos casos existe a presença de uma doença psiquiátrica. Uma das mais comuns é a depressão, que atinge cerca de dez por cento da população em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde é a principal causa de doença entre jovens de 10 a 19 anos. Ela não precisa de um motivo externo ou de uma causa específica para se manifestar. Fatores ligados à genética, à personalidade e às questões sociais contribuem para o seu surgimento. E uma vez que a doença se manifesta, é preciso buscar ajuda médica o quanto antes. A questão é que em uma sociedade na qual criou-se um padrão de eficiência, felicidade ( ainda que artificializada) e bem estar, é difícil para o paciente, ou para a família deste, admitir a incômoda presença da depressão. E em meio ao silêncio que a cerca, ela vai ferindo a alma e tirando o ânimo de viver.
É um desses tabus que vivem trancados dentro do armário e que só vêm a tona quando surge um novo caso. Mas, infelizmente, esses casos vêm se repetindo com uma frequencia desconcertante. Por isso, o assunto deve ser motivo de preocupação nas famílias, nas escolas e nos sistemas públicos de saúde. Até mesmo porque existe um mito de que quem fala em suicídio não quer de fato morrer, o que não é verdade, segundo os especialistas.
Em setembro do ano passado, a Prefeitura de Teresina inaugurou o Ambulatório PROVIDA, que funciona no Centro Integrado Lineu Araújo, para oferecer atendimento psiquiátrico e psicológico a pessoas com pensamento suicida ou que já tenham atentado contra a própria vida . É uma opção de tratamento para quem está precisando de ajuda em um momento tão delicado. E a identificação do problema, com o devido acompanhamento médico, pode ser a grande diferença para salvar uma vida.
A questão não pode ser vista de forma isolada, ou como responsabilidade de uma ou outra instituição. Também não existem culpados nesses casos. O que precisamos é estar todos atentos à nossa volta para proporcionar o suporte psicológico e afetivo ao menor sinal de depressão. Esta, sim, uma das grandes responsáveis pelo adeus precoce a nossos jovens.