Volta e meia, quando as coisas não andam bem pelos rumos de Brasilia, o PT retoma o discurso da necessidade de criar um marco regulatório para a imprensa. Nome burocrático para esconder a real intenção por trás da proposta, que é a de cercear a liberdade de imprensa. Sim, a imprensa, essa mesma velha senhora que tantas vezes foi elogiada por sua bravura em denunciar e apontar contradições do governo, quando o PT era um partido de oposição.
Hoje, a mesma bravura passou a ser vista como um incômodo, que deve ser tolhido e enquadrado dentro de normas que ferem de morte o princípio básico da democracia. Não existe regime democrático sem imprensa livre. A segunda é o alicerce que sustenta o primeiro. E é a melhor forma de dar conhecimento à população sobre o que se passa por trás dos gabinetes e palácios, ainda que isso fira interesses políticos. Acontece que a imprensa não existe para aplaudir ou jogar confete nos mandatários de plantão. Para isso , temos os partidários ou os que recebem algum tipo de benefício, legal ou não. O jornalismo tem como dever justamente mostrar aos leitores, ouvintes, telespectadores e internautas o que não está à vista ou às claras. Como diria o respeitado jornalista Cláudio Abramo, jornalista é mesmo um ser incômodo. Mas essa imagem nem sempre agrada aos governantes. E aí, a primeira e já batida ideia que vem à mente é a de censurar os veículos e seus profissionais. Como o nome censura ficou muito associado à ditadura militar, de triste memória, cria-se então uma nova nomenclatura, pomposamente batizada de marco regulatório da imprensa.
Os falsos argumentos que a sustentam vão buscar exemplos em outros países. OK. Peguemos então o exemplo dos Estados Unidos da América, que a despeito de todos os seus problemas, vive e respeita a democracia. Lá, existe um órgão para regular a mídia, o Federal Communications Comission, mas apenas no seu aspecto mercadológico, impedindo a propriedade cruzada dos meios de comunicação. Quanto ao conteúdo, este é regulado pela opinião pública.
E assim deve ser aqui também. O público é quem deve ter a palavra final sobre o que é veiculado na mídia. Se o jornal ou equivalente exagera, perde a credibilidade, o público deixa de consumi-lo. A mesma coisa com os programas de rádio e televisão. Não tem qualidade, muda-se o canal. Nisso consiste a liberdade, prima-irmã da democracia. Afinal, se o povo é soberano para eleger seus representantes, também o é para escolher o que quer consumir.