Quase três meses depois da posse, a Presidente eleita ainda não conseguiu impor a sua agenda de governo. Até agora, quem está dando as cartas é o Congresso, movido por interesses corporativistas e nada republicanos. Na queda de braço entre Executivo e Legislativo, este último está levando a melhor.
Depois das manifestações que varreram o Brasil de norte a sul, no último domingo, a Presidente ensaiou um discurso de combate a corrupção, enviando ao Congresso algumas medidas como a criminalização do caixa 2, o confisco de bens dos servidores públicos que tiverem enriquecimento incompatível com os ganhos, aplicação da Lei da Ficha Limpa para todos os cargos de confiança no âmbito federal, entre outras. Além de chegar atrasado, o tal pacote ainda foi ofuscado por outros episódios que roubaram a cena ontem. E todos eles tiveram como cenário o Congresso e seus integrantes.
Primeiro, os parlamentares convocaram o então ministro da educação, Cid Gomes, para se explicar sobre a declaração dada por ele, dias antes, na qual apontava cerca de 300 a 400 achacadores no Legislativo. Como diz o velho ditado, a emenda foi pior que o soneto. O atrapalhado ministro, que ainda não havia dito a que veio, só piorou a situação e deixou o plenário sendo chamado de palhaço. Pronto: o circo estava armado e, minutos depois, a lona cairia sobre os ombros de Cid Gomes. Vá lá que a educação não tem nada a perder com a saída de Cid, ao contrário, é provável até que melhore. Mas foi mais um desgaste desnecessário para um governo que está só começando e que ainda deveria estar em lua de mel com os partidos e com a população. Não está nem com um nem com outro, como mostra a pesquisa Datafolha publicada ontem.
Para completar, diante de toda a crise política e a insatisfação popular, o Congresso decide aumentar o fundo partidário, passando dos atuais R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões. Sem a menor cerimônia, o relator-geral da proposta orçamentária, senador Romero Jucá (PMDB-RR) defendia o aumento que só faz insuflar ainda mais a revolta popular.
É difícil administrar sem costurar acordos políticos que dêm sustentabilidade ao governo. Mas é praticamente impossível governar cedendo às chantagens de um Congresso insaciável que aproveita-se da fragilidade do governo para ditar as regras, aprovando ou rejeitando medidas que, na maioria das vezes, vai de encontro à voz das ruas, que já começa a fazer um barulho incômodo ao Palácio do Planalto.