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Diabética, técnica em Enfermagem morre de Covid após pedidos de afastamento de hospital

Foto: arquivo pessoal

 

Ampliada às 12h27

Maria do Livramento Sousa Galeno não teve tempo de comemorar mais um ano de vida ao lado de familiares. Ela que completaria 54 anos no próximo dia 10 de julho e estava apenas a um ano de se aposentar, perdeu a luta pela Covid-19. A técnica em Enfermagem era de alto risco para a doença e trabalhava na Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, mesmo sendo diabética, com apenas um pulmão funcionando e, de acordo com familiares, após pedidos de afastamento das atividades de trabalho. 

"Ela tinha pedido para ser afastada porque era do grupo de risco, mas não afastaram. Ela adoeceu e na última quarta à tarde (10) foi levada para o Heda muito cansada e foi a última vez que falei com ela que disse: mãe, estou muito fraquinha, eu não me mexo mais, tô morrendo. Não aguentei e desliguei o telefone. No mesmo dia à noite, ela foi intubada, ainda deu cinco paradas cardíacas e morreu na sexta (12). Minha filha foi embora. Estou sem meus pés e minhas mãos porque era ela quem andava comigo para todo o canto", disse bastante abalada Clemilda Nonata Sousa Galeno, mãe de Maria do Livramento. 

Ela conta que no atestado de óbito consta apenas que a filha morreu de obesidade e insuficiência cardíaca. 

"Ela fez o teste no Heda e testou positivo. Isso foi confirmado para um dos seus filhos. Aí deram três dias de atestado e na última quarta (10) ela não aguentou mais e já ficou hospitalizada no Heda. Nunca recebemos esse resultado, nem no atestado veio falando algo de coronavírus. Minha filha pediu duas vezes para ser afastada por conta dos problemas que ela tinha, mas ninguém respondeu. Ela tinha só um pulmão porque o outro era 'murcho' e ficou assim devido a complicações de uma cirurgia que fez há três anos. Faltava só um ano para ela se aposentar e tinha férias vencidas,mas não a afastaram. Agora estou sem minha filha", lamenta a mãe. 

Maria do Livramento trabalhava há mais de 30 anos na área da saúde e, atualmente, estava lotada no setor de pediatria. Ela foi a terceira profissional de saúde no Piauí que morreu pela Covid-19, sendo a primeira que permanecia em atividade durante a pandemia. A técnica em Enfermagem deixa três filhos. 

O Sindicato dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Estado do Piauí (Seantepi) se solidarizou com os familiares, amigos e colegas de trabalho neste momento de dor e de saudade. Por meio de nota de pesar, o Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren) também lamentou a morte e agradeceu "pela contribuição de Maria para a construção da Enfermagem no Estado".

A presidente do Coren-PI, Amanda Barreto, explica que o Conselho não recebeu o pedido de afastamento e orienta que profissionais de saúde do grupo de risco devem comunicar essa situação. 

"Desde o início da pandemia, por orientação do Ministério da Saúde, a gente fez uma notificação aos hospitais sobre o plano de contigenciamento para afastar os profissionais de saúde que tem algum fator de risco associado e estão na linha de frente da pandemia. Esse é o primeiro caso de profissional da Enfermagem que veio a óbito no Piauí e estava em atividade. Infelizmente, o Coren não recebeu nenhuma notificação vindo dessa profissional", explica Barreto. 

Direção da Santa Casa diz que não tem conhecimento sobre atestado médico

A Santa Casa de Misericóerdia de Parnaíba é um hospital filantrópico. O Cidadeverde.com conversou com Francisco Pires, diretor clínico do hospital, que informou que os profisssionais de saúde com fatores de risco estão sendo afastados mediante apresentação de um atestado. 

"Ela esteve comigo e eu disse que trouxesse o atestado que seria afastada imediatamene. Quem está com suspeita de Covid apresenta um atestado de 15 dias e é liberada. Já os profissionais de saúde do grupo de risco pedem o atestado para afastamento durante a pandemia para entrar com o pedido no INSS. Não tenho conhecimento que essa profissional trouxe o atestado. Pode ser que ela estivesse com receio de ser desligada do hospital porque já havia necessitado de um afastamento há dois anos", disse o direitor clínico da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba. 

Ele explica que existem vários profissionais do grupo de risco que trabalham no hospital e estão afastados por atestado médico, sem prejuízo da remuneração mensal. 

"Todos que podem ser afastados são afastados, mas têm que apresentar esse documento porque, senão, não tenho como justificar as folgas", reitera. 

Francisco Pires ressalta que na Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba não há profissionais de saúde que trabalhem em outra unidade de saúde na cidade que esteja com atendimento para casos de Covid-19. 

"Isso não significa que a pessoa foi demitida. A gente deu essa opção para o profissional de saúde fazer uma escolha para que voltasse depois da pandemia", concluiu Francisco Pires. 

 

Graciane Sousa
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