As múltiplas expressões da comunidade LGBTI+ no Brasil lutam todo dia para ReXistir às violências de toda ordem produzidas por processos históricos, sociais, culturais e políticos. E essa longa caminhada por reconhecimento social, respeito, direitos e cidadania envolveu sangue, suor, lágrimas, enfrentamentos, organização sociopolítica para efetivar o direito de existência com Dignidade e bem-estar conforme determina a lei máxima do país.
As lutas para consumar Direitos e Liberdade de Expressão representaram/representam diálogos plurais e democráticos com setores do poder público, dos diversos segmentos sociais organizados, da iniciativa privada, das forças políticas do poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas também construíram-se e constroem-se interlocuções importantes para promover processo educativos de empoderamento @s lgbti+ junto à indústria do entretenimento, da mídias tradicionais e das mídias digitais.
Mas nesse contexto de construir travessias, pontes de alianças, disrupturas , parcerias e laços de solidariedade precisamos a todo instante reavaliar de forma críticas e autocrítica nosso fazer, nossas práticas e ações socioculturais para fortalecer nosso ReXistir como potência de fato transformadora e provocadora do status quo.
Situações com possibilidades de despontencializar as mudanças ocorrem quando focamos reações desproporcionais frente à personalidade da cultura lgbti+. A Diva e artista trans Nany People postou no instagram foto ao lado do apresentador Ratinho do SBT. De um lado muitos internautas elogiaram o trabalho, a representatividade e importância da artista. Por outro, alguns mostraram indignação, expressaram grande decepção, questionaram como ela pousa ao lado de apresentador aliado de um presidente que viola e ataca direitos lgbts.
O fato de Nany People ser pessoa pública produz burburinho e reverberações entre seus seguindor@s. E é legitimo que internautas da comunidade da Diversidade da Sexual externem opiniões e ecoem seus discursos nas infovias digitais. Posicionamento, óbvio, pautado na ética, na empatia, no uso racional da argumentação e também respeito aos Direitos Humanos. .
No caso em questão, o ponto de fato a ser questionado na postagem é a ausência de respeito aos valores humanos disseminados no Programa do Ratinho e reforçado pelo apresentador com suas ações e falas: reducionistas, simplistas, produtora de estigmas, reforçadora de ódios a grupos vulneráveis.
O que internautas devem cobrar e denunciar é o trabalho da emissora e do programa quando sua grade de conteúdo violar Direitos Humanos, colocando o ibope e lucro acima das pessoas. Conteúdos de TV violadores de Direitos devem responder judicialmente por danos causados. Devemos sempre lembra para emissora: o Código de Ética das Emissora de Rádio e TV determina explicitamente: “os programas transmitidos não advogarão discriminação de raça, credo, religiões, assim como o de qualquer grupo humano sobre o outro.”
Outra situação envolvendo reações diversas e passionais foi o trabalho de atuação teatral do ator Luis Lobianco ao apresentar o monólogo Balada da Gisberta, em 2018. O espetáculo tem como elemento da narrativa dramática a existência da trans Gisberta Salce Junior, assassinada brutalmente por jovens em Porto, Portugal.
Houve movimento de questionar a legitimidade do Ator Cis representar na encenação o papel de uma pessoa trans. No caso em questão, uma certa cultura do cancelamento também entrou no embate, o que não é educativo pois deve-se de fato combater/denunciar os discursos e práticas de ódios oriundos de grupos reacionários e nazifascistas existentes no país. Para tais segmentos a favor da barbárie devemos sempre estar atento e forte e reafirmar sempre: Eles não passarão.
O que é importante salientar nos debate e reflexões sobre representatividade Trans nas artes: super necessário e legitimo trazer para agenda pública a temática: considerando o processo histórico e social de invisibilizar e negar espaços artísticos para talentos Trans nas companhias de teatro, na programação televisiva, na produção cinematográfica e outras expressões artísticas.
O diálogo plural e democrático com ator poderia ser caminho mais potente para refletir sobre a peça, o processo criativo de realização do espetáculo, as formas de integrar comunidade trans durante a ação criativa, o papel e necessidade das artes cênicas ampliar e diversificar o campo de atores/atrizes de todas identidades de gênero e orientações sexuais.
O Mestre Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoas, nos desafia sempre: “Sinto-me nascido a cada momento para eterna novidade do mundo”.
Por Herbert Medeiros