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Perito da PF explica laudos e diz que caso Fernanda Lages sofre efeito CSI

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O chefe da perícia criminal da Polícia Federal do Piauí, José Arthur Vasconcelos, explicou hoje detalhadamente os laudos apresentados pela PF sobre a morte de Fernanda Lages e afirmou que o caso tomou maiores proporções por conta de um fenômeno que ele chamou de "efeito CSI".

Yala Sena/Cidadeverde.com

"Em virtude da massificação da informação relacionada aos trabalhos da perícia, verificada nos seriados americanos, há uma expectativa muito grande da sociedade no trabalho investigativo. Todos os brasileiros viraram investigadores. Posso dizer que aquilo que é visto nos seriados tem relação, mas os vestígios nem sempre são identificados tão facilmente e as possibilidades reais desse trabalho não são daquela forma", explicou o perito.

Pegadas e depoimento do vigia

O chefe da perícia reconheceu que o local da morte da estudante não foi preservado, assim como as áreas adjacentes. Entretanto, a possibilidade de uma pegada masculina utilizando tênis da marca Olimpus e número 42 foi descartada.



"Tivemos dificuldade para identificar vestígios até mesmo fora daquela área adentrada pelos populares e pessoal da Segurança. Um dos laudos analisados buscou verificar entre as imagens do local se existia outra pegada que pudéssemos isolar e marcar junto com o compasso do andar de Fernanda, mas não encontramos nenhuma, nem mesmo próximo ao lugar onde estava o veículo", explicou.



O investigador voltou a afirmar que em todo o percurso Fernanda estava sozinha e que o vigia Domingos Pereira não entrou em contradição durante depoimentos à polícia. "O que se sabe é que, desde o momento em que ela sai do [bar] Pernambuco até a precipitação, ela agiu de maneira solitária. Fizemos análise das imagens do vigia e pela leitura da verbalização dele tudo indica que ele, desde o começo, ele disse que viu apenas uma pessoa entrando na obra".

Medicamento para enxaqueca

José Arthur voltou a citar o remédio utilizado por Fernanda para um tratamento contra enxaqueca. Nas investigações, a PF descobriu que em abril de 2011, quatro meses antes da morte, a estudante fez uso das substâncias nortriptilina, flunarizina, atenolol e piroxicam, devidamente receitadas. 


O médico procurado pela jovem teria receitado 120 cápsulas, mas ela tomou apenas 67 durante os quatro meses, o que prova que o uso foi irregular. Na bula do medicamento, há informações de que, se associado a álcool, as substâncias podem levar à ideação suicida. 


"O medicamento não pode ser tratado de maneira objetiva e absoluta, pois os exames não propiciaram resultado positivo para o medicamento. Também não posso dizer que Fernanda não poderia tomar o remédio, porque isso só um médico poderia dizer. Mas, conseguimos prontuário médico, cópia de receituário, registro na farmácia que mostram que a compra do remédio foi regular", completou.


Apesar das informações na bula, a PF não garante que o remédio provocou a morte de Fernanda. "Foi um achado importante, que pode ter influenciado, mas não podemos afirmar objetivamente", completou o perito.



Laudo da Polícia Civil X Laudo da Polícia Federal

Ainda de acordo com o perito, o resultado apresentado pela Polícia Civil está de acordo com o da Polícia Federal em alguns pontos e em discordância em outros. Ambas as polícias chegaram às seguintes conclusões:

- Fernanda entrou sozinha na obra
- As marcas no parapeito são sinais de que Fernanda escalou a mureta
- A estudante teria utilizado tijolos para poder subir
- Ninguém ajudou Fernanda a subir no parapeito
- Não havia outra pessoa na cena do crime
- A universitária havia ingerido bebidas alcoólicas


A Polícia Federal fez 400 exames e uma linha do tempo detalhada, mostrando que seria impossível a presença de uma segunda pessoa no local do crime. "No corpo de Fernanda havia uma leve raladura na altura do umbigo, na virilha e entre as coxas, que indicam que ela fez esforço para escalar a mureta. Se houvesse alguém com ela, não existiria essas lesões, porque a pessoa teria ajudado Fernanda a subir", disse o perito.


Exames feito após a exumação do corpo



Pontos divergentes entre os relatórios:

- Para a Civil, a marca no pé de Fernanda era uma mancha de sangue; a PF verificou que se trata de um ferimento possivelmente provocado pelo para-raio da mureta.
- Para a Civil, Fernanda pulou do mesmo local que escalou; para a PF, ela caminhou pela mureta e pulou em direção sul, em uma mureta perpendicular.
- Para a Civil a estudante caiu numa distância de 4 metros da mureta; para a Federal, ela caiu a mais de 5 metros, o que indica que ela pulou.
- A Civil levantou suspeitas de machucados nas escadas, durante o percurso até chegar ao quinto andar. A Federal afirmou que todos os ferimentos, com excessão das raladuras na barriga e nas coxas foram causados pela queda.




"Tivemos avanços em relação as conclusões porque dispusemos de muito mais tempo. Tivemos a condição de realizar exames muito mais apurados. Sabemos que essas lesões foram produzidas em um momento único, não em sequência. A marca no pé dela aponta que ela sofreu um pequeno ferimento no parapeito, talvez provocado pelo para-raio. Isso faz com que não descartemos a possibilidade de queda acidental, pois essa lesão pode ter sido provocada pelo tropeço", ressaltou.

Fernanda arrumou o vestido antes da queda

O chefe da perícia criminal da Polícia Federal do Piauí, José Arthur Vasconcelos, reafirmou hoje (28), em entrevista ao Jornal do Piauí, que os vestígios não deixam dúvidas sobre a causa da morte da estudante Fernanda Lages, ocorrida em 25 de agosto do ano passado. O perito comentou ainda o fato da perícia ter constatado que Fernanda ajeitou o vestido antes de cair.

O Jornal do Piauí mostra uma série de reportagens especiais sobre o trabalho de investigação e laudos nunca mostrados pela imprensa.




Segundo José Arthur Vasconcelos, a perícia trabalha com o "princípio da transferência", que diz que um indivíduo ou criminoso, ao adentrar em um local, deixa algo de si no local e ao sair leva algo do local. Com base nesse princípio, os peritos da PF usaram material produzido pela Polícia Civil do Estado e buscaram novas informações.





O relatório produzido pela PF indica que os peritos não têm a menor dúvida sobre o suicídio. Foram usadas na investigação as fotos da polícia civil, que indicam que as marcas deixadas na mureta são compatíveis com o calçado da estudante, um forte indicativo de que ela escalou por vontade própria. Pela dinâmica da queda, a velocidade atingida foi de 85 km/h. A perícia encontrou a perna e o vestido sujos do lado direito, o que indica que Fernanda ficou em pé sobre a mureta e arrumou o vestido. Ela estava calçada no momento do impacto.



"Não podemos apreciar cada elemento separadamente, tem que ser colocado em um contexto, como aquele evento transcorreu. A partir do que nos foi repassado ou que vimos de maneira indireta nos relatórios e laudos da Polícia Civil, bem como elementos obtidos pela Polícia Federal, como fotografias da cena da morte, observações após a exumação do corpo. Dentro desse contexto é que na dinamica proposta há essa condição, em algum momento após a escalada e antes da precipitação, Fernanda tenha alinhado o vestido", relatou.





Leilane Nunes e Jordana Cury
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