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Missa lembra vítimas da Kiss após 1 ano

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Em silêncio e muito emocionado, o grupo de cerca de 50 pessoas que realizou uma caminhada na manhã desta segunda-feira (20) pelas ruas de Santa Mariatambém participou de uma missa em homenagem às vítimas da boate Kiss. Cerca de 300 pessoas participaram da cerimônia na Basílica Nossa Senhora Medianeira e ouviram as palavras de consolo do arcepisbo Dom Helio Rupert por mais de uma hora. A tragédia que deixou 242 mortos completa um ano na próxima segunda-feira (27).


“Lembro bem o que o Papa Francisco me aconselhou no dia 27 de julho, quando se completaram seis meses da tragedia: abraçar a cruz, seguir Jesus e ir para frente”, pregou o arcebispo. Dom Helio também lembrou os mortos em uma tragedia semelhante em uma casa noturna de Buenos Aires, na decada de 1990. “O Papa me disse que conhecia a nossa dor pelo o que aconteceu na Argentina”, disse.

A missa da Igreja Católica dá início ao cronograma de atividades organizado pela Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Durante o rito, familiares e amigos erguiam faixas pedindo justiça. Outros vestiam camisetas e levavam cartazes com fotos dos jovens mortos. Alguns pais se emocionaram. O arcebispo e religiosos convidados vestiam túnicas vermelhas que, dentro das simbologias cristãs, significa o martírio de Jesus.

O coral da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) participou a missa. Mais cedo, pouco depois das 8h, foi realizada uma caminhada desde a Igreja Nossa Senhora de Fátima atá a basílica, em uma procissão silenciosa e de oração.

"Sempre rezo", diz sobrevivente

A estudante Kelen Ferreira, de 20 anos, acompanhou a missa em homenagem às vítimas na Basílica Nossa Senhora Medianeira. Ela diz que o culto foi uma atividade importante para rezar pelas amigas que não resistiram, como ela, ao incêndio. “Achei a missa muito bonita. É um gesto que me faz lembrar das minhas amigas. Rezei por elas, rezo todos os dias, peço que me iluminem lá de cima. Sei que elas estão bem e que me ajudam a superar”, disse.

Para tentar minimizar a dor da perda, Kelen acredita que a fé é essencial. “Para superar tudo isso o mais importante é a fé em Deus. A ajuda dos amigos, da família também”, contou a garota, que retomou os estudos na faculdade em setembro e já voltou a sair à noite. “Já fui em boates de novo. Sempre saio. Não dou mais bola para as pessoas que ficam me olhando. Vou levar isso para o resto da vida. Vou ser sobrevivente da Kiss para sempre.”

Kellen ainda relatou sua rotina de recuperação. “Faço atendimento de segunda a sexta-feira com terapia ocupacional e fisioterapia. Na quarta-feira (22) tenho exames em Porto Alegre. Na última consulta estava com 72% no pulmão. Estou me recuperando. Vai demorar um pouco porque, além do pulmão e dos braços, tenho que reaprender a caminhar por causa da prótese.”

Entenda

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 pessoas feridas. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é de que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material usado para isolamento acústico (espuma irregular), a utilização do sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.

Estão em andamento os dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso e tentativas de homicídio e outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era de oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de dolo eventual, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória em maio do ano passado. Entre os bombeiros investigados está Moisés da Silva Fuchs, que exerceu a função de de comandante do 4º CRB de Santa Maria.

Atualmente, a Justiça está na fase de depoimentos dos sobreviventes da tragédia. O próximo passo será ouvir as testemunhas. Os réus serão os últimos a falar sobre o incêndio ao juiz. Quando essa fase for finalizada, o juiz deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo. Se o magistrado pronunciar o réu, vai a júri. Senão, é absolvido. Outra possibilidade é a chamada desclassificação, quando o juiz não manda o réu para júri, mas reconhece que houve algum tipo de crime. Neste caso, ela vai julgar a causa de forma individual. Também existe a chance de absolvição sumária dos réus. Em todas as hipóteses cabe recurso.

No âmbito das investigações, três estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Além dos documentos sobre as licenças concedidas à boate, um inquérito apura as atividades da empresa Hidramix e outro uma suposta fraude no documento de estudo de impacto na vizinhança do prédio onde ficava a casa noturna. O Ministério Público, por sua vez, investiga as responsabilidades de servidores municipais na tragédia.

Fonte: G1
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