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Conselho quer tombar imóveis centenários de Campo Maior

  • (19).jpg Casarão centenário no entorno da praça Bona Primo em Campo Maior
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  • (17).jpg Igreja de Santo Antônio em Campo Maior
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  • (16).jpg Igreja de Santo Antônio em Campo Maior
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  • (15).jpg Casarão centenário no entorno da praça Bona Primo em Campo Maior
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  • (14).jpg Casarão centenário no entorno da praça Bona Primo em Campo Maior
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  • (13).jpg Casarão centenário no entorno da praça Bona Primo em Campo Maior
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  • (12).jpg Sede da Academia Campomaiorense de Artes e Letras
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  • (11).jpg Casarão centenário no entorno da praça Bona Primo em Campo Maior
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  • (9).jpg Teresinha preserva como pode a casa histórica onde vive
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  • (8).jpg Teresinha e a família que hoje moram na residência tricentenária
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  • (6).jpg Chave de uma das portas da casa mais antiga, datada em 310 anos
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  • (1).jpg Historiador João Alves Filho, presidente do conselho que cobra o tombamento do patrimônio
    Wilson Filho / Cidadeverde.com

Por Rayldo Pereira - Cidadeverde.com
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Há quem diga que para conhecer a identidade de um povo é preciso conhecer sua história. Movidos por este pensamento, historiadores e moradores de Campo Maior, município a 78 km de Teresina, decidiram dar o pontapé inicial para a preservação e restauração do patrimônio histórico municipal.

Organizados sob o comando de João Alves Filho, historiador e escritor, nascido em Campo Maior, um conselho formado por 12 membros, levantou e mapeou a área de onde serão selecionados os imóveis que devem ser tombados e futuramente restaurados pelo município.

"Ninguém consegue contar a história de Campo Maior sem passar por esse patrimônio. Todo o entorno da Igreja de Santo Antônio na praça Bona Primo e a avenida Vicente Pacheco, possui imóveis centenários que contam nossa história e devem ser preservados. O objetivo deste levantamento é a preservação da cultura das coisas originais", explicou o historiador.


Historiador e escritor João Alves Filho

Patrimônio este que não é pequeno e representa boa parte dos grandes casarões do Centro da Cidade. Prestes a completar 253 anos de emancipação política, Campo Maior tem em seu território imóveis que ultrapassam, e muito, sua idade bicentenária.

É o caso da residência de dona Teresinha. O imóvel já tem 310 anos e fica em frente a igreja de Santo Antônio, catedral do município. Mesmo muito acanhada, Teresinha, como ela faz questão de ser identificada e chamada, nos leva a uma rápida visita pelo interior da casa.

Paredes altas e um telhado sustentado por troncos de carnaúba protegem o cenário histórico com grandes portas de passagem e um azulejo com traços típicos de residências portuguesas. Até as chaves, gigantes se comparadas ao tamanho atual, ainda estão lá. O local é escuro e já apresenta algumas marcas do tempo, seja nas paredes, onde a tinta já descasca, ou nos pedaços de azulejo quebrados pelo chão. Rachaduras na estrutura também preocupam e deixam visível o alerta de que já está na hora de intervir.

"Moro aqui há 15 anos e não conheço a história verdadeira desta casa. Sei apenas que é a primeira da praça, me orgulho de morar aqui", comentou a dona de casa, que mesmo sem ter de fato a noção da riqueza histórica do lar, cuida como pode do teto que lhe abriga.


Teresinha vive na casa mais antiga da praça, que tem 310 anos

O que antes era um único e grandioso casarão, hoje está dividido ao meio em duas pequenas casas, uma onde vive dona Teresina, e a outra onde encontramos Joana de Lira, herdeira e atual proprietária do imóvel. Joana, que hoje tem 78 anos, comenta que chegou a casa com apenas quatro anos de idade. Lá viveu, trabalhou e foi educada pelas primeiras proprietárias, a quem chama até hoje de "patroas", pertencentes a família Bona, tradicional na região. 

Joana educadamente recusa o pedido para fazer fotos, mas conta saudosamente, que viveu momentos marcantes de sua história no lar onde esteve desde criança. "Elvina Costa e Bona era uma das proprietárias da casa e tenho muitas lembranças delas. A recebi como herança de minhas patroas, moro aqui desde os quatro anos e é aqui que terminarei meus dias", comentou a aposentada, que da janela de casa, observa o movimento na praça.


Rachaduras alertam para a necessidade de preservação do patrimônio

O conselho formado outrora, deveria agora fazer a seleção das casas, mas já está vencido. Segundo João Alves Filho, um posicionamento do prefeito Paulo Martins (PT) é aguardado para que os trabalhos pelo tombamento possam continuar. "Os próximos passos dependem do prefeito, que são decretar o novo conselho que está vencido e mandar um decreto para a Câmara oficializando a área que foi levantada, pedindo também que se faça a seleção das casas que devem ser tombadas e preservadas", acrescentou.

O historiador deixa claro que o critério para esta seleção serão os fatos históricos. Entre eles, João destaca a construção da igreja, que hoje ultrapassa os 300 anos e que já virou livro, escrito por ele mesmo. Intitulada como "Mateus rumo ao céu", a obra conta a história do padre que construiu o templo e segundo o pesquisador, pode ser chamado de maior educador de Campo Maior. "Mateus era o mais humano, mais austero e foi sem dúvidas o maior educador que já tivemos,  qualquer erro, ele castigava mesmo. Um homem daquele, com tanta bondade, tanta dedicação e que fez um templo desse, se não foi para o céu, não irá mais ninguém", brinca o autor.

Em meio a conversa, João se emociona e declara seu amor pelo município onde formou família. O historiador tem três filhos, que hoje não moram mais em Campo Maior, mas que espelhados no amor do pai, tem suas raízes bem marcadas na "terra dos carnaubais", como nos conta o historiador.

"Não trocaria Campo Maior por lugar nenhum do mundo. O sentimento desse amor é o mais puro. É uma cidade plena, linda em seus campos e campinas. Até sua árvore típica, a carnaubeira, se destaca. Conhecida como árvore da vida, ela pode chegar em média a 200 anos e até morta, dura mais 300. A cidade tem até cheiro, foi esse amor que ensinei a meus filhos, que também tem aqui seu refúgio"

Foi o que declarou emocionado o escritor, que posa com orgulho, em frente ao prédio também histórico da Academia Campomaiorense de Artes e Letras (ACALE), que preside há três mandatos.

Igreja será 1ª obra restaurada

João conta em seus versos que Campo Maior surgiu ao redor da igreja e é ela, o primeiro prédio histórico a ser restaurado no município. Durante as solenidades em alusão aos 192 anos da Batalha do Jenipapo, na última sexta-feira (13) o governador Wellington Dias (PT), garantiu que irá se empenhar nesta preservação histórica. Segundo ele, a restauração da catedral já está garantida.

"Acabo de ter uma agenda com a representação da paróquia e a igreja, que já ultrapassa os 300 anos desde a sua fundação, é patrimônio histórico, por isso estamos autorizando um investimento para a recuperação deste patrimônio", prometeu Wellington Dias.


Interior da igreja de Santo Antônio

Promessa reforçada por Paulo Martins (PT), atual prefeito da cidade. Segundo o gestor, um convênio já foi assinado pelo governador e o projeto entrará na fase de orçamento. O prefeito acredita que em até três meses, os primeiros reparos possam ter início.

"O governador já conversou com o monsenhor e fez o compromisso de restaurar a igreja de Santo Antônio, que é um patrimônio do Estado, do município, e do Brasil. Ele assinou um convênio para a recuperação de alguns pontos que estão prejudicados e creio que em 90 dias já poderá começar", garantiu o prefeito que finaliza prometendo acelerar as medidas para o tombamento do patrimônio.  "Já temos uma lei aprovada em 2007 e eu tive o prazer de ter uma reunião com a academia para debater o projeto que protege o patrimônio. Estamos discutindo ponto a ponto. Da minha parte, farei tudo o que for possível para essa preservação. Queremos ainda no mês de abril nos reunir novamente para acelerar este processo", garantiu o prefeito.


Governador Wellington Dias (PT) e o prefeito Paulo Martins (PT)

 

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