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"Situação do PT é grave. Negar isso seria equívoco", diz ministro

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Edinho Silva, um zagueiro mediano da Ferroviária de Araraquara — posteriormente deslocado para a lateral esquerda por ser mais baixo do que o necessário para o posto — trocou o futebol pela carreira política ainda na década de 1980. Mas não abandonou a antiga característica da época dos gramados: permanece jogando na defesa. Em 2014, no meio do tiroteio da Operação Lava-Jato, foi escalado tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff para “blindar”, segundo ele próprio, a caminhada da reeleição da petista. Passada a eleição, o menino que começou a vida carregando malas no hotel do qual o pai era porteiro, tornou-se ministro da Secretaria de Comunicação de um governo desgastado diante da opinião pública.

Durante entrevista ao Correio, Edinho, de 50 anos completados no último mês de junho, defendeu o modelo de coalizão definido pela reforma ministerial anunciada por Dilma na sexta-feira como o principal passo para a saída da crise política e econômica. “A reforma veio num momento para se criar a estabilidade necessária, a paz necessária, para a retomada do crescimento econômico.” Ao longo de quase 90 minutos, o tesoureiro da campanha em 2014 ainda falou sobre a investigação aberta contra ele no STF para apurar a doação de R$ 7,5 milhões supostamente desviados da Petrobras, admitiu erros do partido e reclamou que muitos dos ataques à presidente Dilma são decorrentes de machismo. “Ela é mulher honesta, íntegra e trabalhadora”, diz ele, no típico papel de zagueiro.

A presidente Dilma não demorou para fazer a reforma ministerial, criando desgaste desnecessário?

A reforma ministerial é decorrência de uma reforma administrativa. A presidente Dilma, diante das necessidades de cortes provenientes do ajuste fiscal, não apenas impôs cortes na execução de políticas públicas, mesmo que temporariamente, como impôs restrições ao custeio da máquina. Em decorrência dessa restrição, ela anunciou uma reforma administrativa. A fusão de pastas, de órgãos públicos. A reforma administrativa foi uma sinalização da melhor racionalização do gasto público. A reforma ministerial veio num momento importante para que o governo conseguisse constituir uma nova coalizão, de criar a estabilidade política necessária, a paz política necessária, para que o governo consiga implementar iniciativas importantes para retomada do crescimento econômico, da geração de emprego, de distribuição de renda. (Tudo isso) para executar o programa que efetivamente reelegeu a presidente Dilma.

Espera-se com isso a aprovação da CPMF?

A CPMF é um pedaço de uma série de iniciativas que o governo está tomando de ajuste fiscal, mas a agenda que está colocada como desafio para essa coalizão anunciada — claro, a prioridade é ajuste fiscal — também é importante, afinal temos uma dependência, de retomada do crescimento econômico internacional. Se a economia externa não reagir, hoje com a globalização é muito difícil um país sozinho conseguir enfrentar um período de depressão econômica. Mas, a lição de casa, o governo da presidente Dilma está fazendo. Tem uma outra agenda do Senado, que são medidas estruturantes para que, nesse redesenho da economia internacional, o Brasil se torne um país mais produtivo. O país precisa fazer reformas de Estado para se adequar a essa nova realidade. Tem um redesenho do modelo produtivo, da capacidade de agregar valor, com alta tecnologia. O Estado desenhado pela Constituição de 1988 não dá conta mais desses desafios impostos por esse rearranjo produtivo internacional.

Depois das críticas dos movimentos sociais e da Fundação Perseu  Abramo ao ajuste, como realinhar esses grupos ao governo?

A orientação da presidente Dilma é de que temos de dialogar. É inegável que tem contradições. No momento que faz um ajuste, você sempre acaba afetando setores importantes da sociedade. Agora, ajuste não é a política econômica. A política econômica é o crescimento, é a distribuição de renda, é a capacitação do país para que ele se torne cada vez mais competitivo. O governo da presidente Dilma não foi eleito para fazer ajuste, ele foi eleito para ter uma política econômica. Agora, sem o ajuste fica muito difícil você criar as condições para a política econômica. Nós temos de dialogar nesse sentido com os movimentos sociais. Com setores da sociedade. Mas também com o empresariado. É preciso fazer um ajuste fiscal. Isso é inegável. Nenhuma corrente de economistas do Brasil nega. Agora, desenvolvimento econômico não é ajuste fiscal. O ajuste fiscal é um momento para que você, logo em seguida, retome o crescimento econômico. Não há contradição nenhuma.

O governo vai insistir na reforma da Previdência?

O governo nunca deixou de insistir. Tem uma comissão criada, com todos os setores envolvidos, que continua trabalhando. As próprias entidades representativas dos trabalhadores reconhecem a necessidade de uma reforma na Previdência, porque senão, daqui a 20 anos, a Previdência Social vai se inviabilizar. Isso é consenso. Tem uma questão de democratização política, que é tornar o Estado brasileiro com maior capacidade de interação com a sociedade civil. A agenda de junho de 2013 não foi para casa. Ela está presente. Não só no Brasil, mas também no mundo. E existe um questionamento da sociedade civil, desse distanciamento entre o representante e o representado. Então, tem de ter uma reforma de Estado onde esse “fosso” deixe de existir entre o representante e o representado.

Fonte: Correio Braziliense

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