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Ana Botafogo planeja trocar a dança clássica pelo teatro

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A primeira-bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Ana Botafogo, 51, está em Joinville (SC), onde participa neste sábado do "Seminários de Dança" e executa uma performance contemporânea, criada por Ana Vitória.

Bailarina Ana Botafogo diz que seu tempo
de encerrar a carreira vai chegar, mas ela
não sabe precisar a data
 
Ana Botafogo sabe que a hora de parar está perto, e o teatro pode ser uma boa opção para continuar nos palcos: ela estréia com Marília Pêra em 2009. A dança contemporânea não a interessa. Ela diz que é bailarina clássica e ponto final.

Depois de mais de 30 anos como profissional, você já definiu quando vai parar?
Não tenho uma data precisa. Agora, optei por não fazer Coppélia [o Municipal estréia nos próximos dias essa obra, na qual Ana já foi a personagem principal]. Acho que há outras pessoas para fazer. Quero que o público tenha uma lembrança boa de mim. Não vou ser bailarina que dança para sempre. É óbvio que o tempo está cada vez ficando mais justo, e o meu tempo de encerrar vai chegar.
 
Em entrevista, no início de festival, a Cecília Kerche disse que pararia quando não tivesse mais vontade de levantar da cama para fazer aula e você?
Não vai ter esse tempo. Antes que eu perca o tesão, vou querer parar. Eu quero parar em um momento bem, enquanto eu amo a dança. Estou fazendo uma transição pouco a pouco, com coreografias específicas para mim, com o teatro [no ano que vem ela estréia uma peça com Marília Pêra]. No teatro talvez eu possa "ser eu" e não fazer personagens jovens [refere-se ao fato de dançar Coppélia e Giselle, jovens moças].
 
Você está fazendo faculdade de dança. Lecionar pode ser uma alternativa quando parar?
Não penso em dar aula. Continue talvez como atriz. Um ator pode ser ator até os 80 anos, bailarina não. Se eu não fosse bailarina clássica, talvez tivesse esse sonho de ficar eternamente em movimento [referindo-se aos contemporâneos]. Outra alternativa é fazer o que estou fazendo agora em Coppélia, transmitindo a minha experiência para as primeiras-bailarinas.
 
Bailarina Ana Botafogo, 51, planeja estréia
no teatro no ano que vem, ao lado da atriz
Marília Pêra
 
Na faculdade, você aprende outras técnicas de dança. Muitas companhias brasileiras têm espaço para experiências com outras abordagens. Você pode enveredar para esse caminho?
Não me imagino fazendo isso, mudando completamente o meu estilo. Eu fiz uma carreira, optei pelo clássico. Tive desafios com outros estilos que me deram prazer, mas não mudaria de estilo só para continuar dançando. Isso não.
 
Existe alguma personagem que você ainda não dançou?
Eu adoraria fazer "A dama das camélias", repetir a "Viúva Alegre" ou "Tatiana". Eu gosto muito dos balés de interpretação. São balés maravilhosos para bailarinos mais experientes. A dama é uma mulher mais velha, precisa de certa experiência para o papel.
 
Você fez uma opção pelo Brasil, quando estava dançando fora, no início de sua carreira. Ela foi acertada?
Foi uma opção acertada. Bailarino tem de ter um lar, e a opção de ficar me proporcionou isso. Se eu ficasse no exterior, estaria migrando de uma companhia para outra. O Municipal foi o meu lar. Foi isso que me fez ter a carreira que tenho e proporcionou o público brasileiro me reconhecer.
 
O Brasil tem exportado bailarinos. Você destaca alguém da nova geração?
Tem tantos bailarinos bons. No próprio Municipal tem uma leva, mas não quero citar um nome para não ser injusta.
 
E existe alguma substituta para você, alguém que popularize a dança no país desse jeito?
Ninguém substitui ninguém. Cada um faz o seu papel, cada um tem a sua trajetória. Vem muita gente jovem por aí. Deus queria que mais gente faça isso [popularizar a dança].
 
Você passou por diversas tragédias em sua vida (entre elas, a morte por afogamento de seu primeiro marido, quando estavam casados há dois anos, e depois, uma nova viuvez). A dança ajudou a superá-las?
A dança me ajudou a passar por esses momentos. A vontade que se tem, em momentos como esse, é sumir da vida. Mas se eu fizesse isso, seria difícil voltar para o balé. Então, nos momentos difíceis, a dança me ajudou. O exercício me ajudava para o físico e para a mente. Serviu como uma catarse, me deixava aflorar as emoções.
 
 
Fonte: Folha Online
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