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E-mails revelam que guarda da Serra da Capivara havia alertado sobre risco de morte

E-mails revelam que um dos guardas ambientais do Parque Nacional da Serra da Capivara, ferido em uma atentado na semana passada, havia denunciado as condições de trabalho e a invasão de caçadores armados na região. Nas correspondências eletrônicas, enviadas no início deste ano, o guarda João Leite literalmente pedia 'socorro' ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que faz a fiscalização do parque. 

"Nossos contratos foram modificados, nossas armas foram tiradas, nossos salários reduzidos e quatro amigos de trabalho serão demitidos....o desequilíbrio ambiental será visível nos sítios arqueológicos", escreveu João Leite, um dos guardas ambientais que acabou ferido no atentado.

O e-mail foi enviado em fevereiro, mas a resposta do ICMBio só veio no mês de março. 

"Os serviços de vigilância e vigia, limpeza, motorista e apoio adminsitrativo da unidade estão sendo mantidos, mas para que a medida seja efetivada, garantindo a continuidade dos serviços ao longo do ano, sem cortes ou interrupção, considerando os ajustes de racionalização de serviços que passa o Governo Federal, foram necessários pequenos ajustes nos contratos", respondeu o órgão. 

Um dia após a correspondência eletrônica, mais uma vez, João Leite relatou a sensação de medo. 

"Desde o dia 1º de março, os caçadores invadiram o parque. Nas bases que têm funcionários da Fumdham. Os relatos são infinitos de avistamentos de caçadores... Não posso desistir de lutar por um patrimônio cultural que pertence ao povo brasileiro e que eu aprendi a amar e respeitar. Se o ICMBio não puder proteger, eu vou fazer ou morrer tentando", escreveu Leite por email.

Apesar dos sucessivos apelos do guardas, a situação não foi resolvida e as ameaças concretizadas. No última sexta-feira (18), caçadores armaram uma emboscada para os guardas, o que resultou em feridos e um morto.

"Eu vi que o órgão ambiental tinha sido avisado, inclusive por um dos guardas que sofreu o atentado. O órgão sabia o que poderia acontecer, sabia que os guardas estariam desarmados, sem coletes a prova de bala. Acho isso uma responsabilidade muito grande. É um crime. O Governo Federal precisa responder por isso", desabafa o fotógrafo André Pessoa, que tem mais de 25 anos de convivência com o parque. 

O fotógrafo destaca ainda que os guardas ambientais se sentem ameaçados e temem perder os cargos. 

"Existe um medo muito grande das famílias em São Raimundo, uma insegurança de que eles continuem desenvolvendo esse trabalho sem ter a garantia e segurança necessárias. Por outro, eu já tenho notícia de que tem uma equipe do órgão na cidade e a decisão é de acabar totalmente com a fiscalização", finaliza André Pessoa. 


Graciane Sousa
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Com informações Notícia da Manhã

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