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Com mais de 8 mil casos de violência contra a mulher, Piauí tem primeiro curso no país contra violência de gênero

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No ano passado foram registrados mais de 8 mil casos de violência contra a mulher no Piauí. Ameaça de morte e injúria são os crimes mais recorrentes. Nesta semana, mais de 30 delegadas no Estado participam de uma capacitação para lidar ainda  de forma mais atuante contra a violência de gênero. O curso é o primeiro realizado no país. 

A professora Ana Lúcia Sadadell, pós-doutora em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro explica que a ideia inicial é sensibilizar policiais civis sobre a problemática do machismo. 

"Esse curso é inédito no país, isso  me motivou a vir para cá. Trabalho com a questão de gênero a 30 anos. Fui professora na Alemanha, tenho tese de mestrado e doutorado nessa matéria e nunca vi um movimento como esse. Nosso objetivo é sensibilizar delegadas, escrivães e investigadores para a problemática de gênero, explicar o que significa essa discriminação, como funciona o machismo", ressalta a professora, que vai ministrar um dos cursos.

Os dados da Secretaria de Segurança Pública do Piauí apontam que de janeiro a novembro de 2017 foram registrados 6.841 casos em Teresina de agressão contra a mulher. Na Capital, a zona Norte lidera o patamar negativo com 2.103 casos, seguidas das zonas Sudeste- 1.713 casos, Centro- 1.389 casos e  Sul-1.236 casos.  No interior do Estado foram 1.586 casos.

Ana Lúcia acredita que, assim como acontece em todo o país, os números refletem a atitude da mulher moderna que passou a denunciar as agressões. 

"Hoje 41% dos lares brasileiros são mantidos único e exclusivamente por mulheres, o fato das mulheres terem acesso à Educação... tudo isso gera uma tensão social. Hoje a mulher, mesmo inconscientemente, se posiciona diferente, por isso vai bater na porta da delegacia, o que não ocorria há 20 ou 30 anos. O número pode ser explicado pela tensão social. É tanto que a gente encontra hoje mulheres no Tribunal do Júri acusadas de assassinato porque reagiram a uma agressão de anos e anos de violência doméstica", salienta a professora.

No curso também serão abordados temas jurídicos como a violência doméstica, estupro, feminicídio, entre outros. A professora frisa que ainda há muitas dúvidas sobre a violência motivada por questões de gênero, principalmente, por se tratar de algo novo. 

"Quando se começa a colocar essas questões em uma sociedade tão machista como o Brasil é lógico que existem tensões. O país começou a tratar dessa matéria, do ponto de vista jurídico, também por influência dos tratados internacionais dos Direitos Humanos e por esse novo movimento feminista", destacou a professora.  

O curso de capacitação acontece até esta quinta-feira (25). 

 

Graciane Sousa
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