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Fusão Itaú-Unibanco cria maior grupo do hemisfério. Bancários temem demissões

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O anúncio de fusão das operações da Itaúsa --empresa de participações do grupo Itaú-- e do Unibanco foi bem recebido pelo mercado. O ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o negócio fortalece o sistema financeiro do país, enquanto especialistas destacaram o fato de o setor sair com mais capacidade para expansão internacional. Por outro lado, bancários mencionam o temor de que a fusão resulte em demissões, apesar de as instituições destacarem que as bandeiras e agências continuam funcionando separadamente.

A fusão do Itaú e Unibanco formará o maior banco do país e o maior grupo financeiro do Hemisfério Sul. Segundo comunicado divulgado pelos bancos, o "valor de mercado fará com que ele [grupo] fique situado entre os 20 maiores do mundo". "Trata-se de uma instituição financeira com a capacidade de competir no cenário internacional com os grandes bancos mundiais", informaram as duas empresas.
 

O total de ativos combinado é de mais de R$ 575 bilhões --contra R$ 403,5 bilhões do Banco do Brasil, e R$ 348,4 bilhões do Bradesco.

Ainda em comunicado, as instituições informaram que a fusão é resultado de 15 meses de negociação, ou seja, não foi fomentada pela crise financeira que abala o mercado global.


Para Jason Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria, a fusão é uma forma de enfrentar a crise, e não conseqüência dela. Segundo ele, no entanto, a conclusão do negócio pode ter sido precipitada pela turbulência provocada pela fragilidade do sistema bancário e financeiro dos Estados Unidos.

"Do ponto de vista do valor de mercado, das ações, os bancos sofreram. É uma maneira de enfrentar a crise no curto prazo. Não é reflexo da crise. O processo de fusão é muito longo. Não é coisa de um mês", disse Vieira.

Já o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, destaca que a associação com o sexto maior banco do país deixa o Itaú isolado na posição de maior banco nacional, ganhando escala para permitir um salto importante rumo ao mercado internacional

Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a fusão deve fortalecer o sistema financeiro nacional e evitar problemas na liberação de crédito no país. "É importante, pois solidifica os dois bancos. É normal que em um momento de turbulência, de problemas internacionais do setor financeiro, você tenha um movimento de fusões. São dois bancos tradicionais, dois bancos sólidos, que têm uma atuação importante para a atividade econômica", afirmou.


Mantega reconheceu que a fusão vai aumentar a concentração do sistema financeiro nacional, mas afirmou que esse fator é positivo na medida em que fortalece as instituições que atuam no país. "Vai mudar um pouco, mas não muito, porque ele já é um setor concentrado. O importante é que essa concentração vem no sentido de fortalecer o sistema financeiro", afirmou.

Após o anúncio, as ações dos dois bancos listadas na Bolsa de Valores dispararam. Por volta das 16h10, os papéis do Unibanco subiam 8,44%, e os do Itaú, 15,2%.

Temor

O maior temor de funcionários de bancos quando ocorre uma fusão é com possíveis demissões, já que a sobreposição de operações e setores permite um corte de gastos. Hoje, Itaú e Unibanco destacaram que os bancos continuarão a operar separadamente, inclusive com manutenção de agências.

Sobre isso, o presidente da Federação dos Bancários da CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Estado de São Paulo, Sebastião Geraldo Cardozo, informou em nota que "vê com preocupação" a fusão, pois a formação do conglomerado pode significar o corte de postos de trabalho.

A Contraf/CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) também se manifestou. "Uma operação desse tamanho nos causa muita preocupação, uma vez que fusões anteriores do Itaú provocaram demissões de trabalhadores. A Contraf/CUT e os sindicatos estão em alerta para tomar todas as medidas possíveis para garantir os empregos e os direitos dos bancários", destaca o secretário-geral da entidade, Carlos Cordeiro.

Segundo a Contraf, 80 mil bancários trabalham nos dois bancos, sendo 52 mil no Itaú e 28 mil no Unibanco. O montante responde por quase 20% do número total de bancários no país.

Fusão

A presidência do Conselho de Administração ficará a cargo de Pedro Moreira Salles (pelo Unibanco) e o Presidente Executivo será Roberto Egydio Setubal (pelo Itaú).


Para ser concretizada, a fusão ainda terá que ser aprovada pelo Banco Central e por órgãos reguladores como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) --o órgão ainda não foi notificado e informou que não se manifestará.

Conforme as empresas, "nada muda operacionalmente neste momento" para os clientes. "Todos continuarão a utilizar normalmente os diferentes canais de atendimento, cheques, cartões e demais produtos e serviços."

Segundo o Itaú e o Unibanco, com a fusão dos dois bancos serão aproximadamente 4.800 agências e postos de atendimento (representando 18% da rede bancária) e 14,5 milhões de clientes de conta corrente (18% do mercado). Em volume de crédito, representará 19% do sistema brasileiro, e em total de depósitos, fundos e carteiras administradas atingirá 21%.

Conforme as duas instituições, as operações de cartões de crédito passam a contemplar as empresas Itaucard, Unicard, Hipercard e Redecard.

No mercado de seguros, o novo grupo nasce com uma participação de 17% e de 24% em previdência. As operações Corporate (para empresas) vão somar mais de R$ 65 bilhões, com atendimento a mais de 2.000 grupos econômicos no Brasil, conforme os dois bancos, que também informaram que o negócio de Private Bank (gestão de grandes fortunas) será o maior da América Latina, com aproximadamente R$ 90 bilhões de ativos sob gestão.

Mercado de ações

O acordo firmado entre as duas partes determina que os acionistas do Unibanco migrarão para uma nova companhia que se chamará Itaú Unibanco Holding Financeira, cujo controle "será compartilhado, entre a Itaúsa e os controladores da Unibanco Holdings, por meio de holding não financeira a ser criada no âmbito da reorganização."

As ações ordinárias do Unibanco e da Unibanco Holdings serão substituídas por ações ordinárias da Itaú Unibanco Holding. Cada 1,1797 ação das duas empresas virará 1 ação da Itaú Unibanco Holding. Já cada 1,7391 ação Unit do Unibanco passará a valer 1 ação preferencial. Por sua vez, cada 3,4782 ações preferenciais do Unibanco e da Unibanco Holdings valerão 1 preferencial da nova empresa.
 
Fonte: Folha Online
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