Cidadeverde.com

Campeonato Brasileiro tem jogo paralisado na 1ª rodada de enfrentamento à homofobia

Imprimir

A possibilidade de os clubes serem punidos com perda de três pontos por gritos homofóbicos mudou a rotina das partidas do Campeonato Brasileiro logo na primeira rodada em que a determinação do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) passou a valer. 

O jogo em São Januário entre Vasco e São Paulo foi o primeiro a ser paralisado. Isto ocorreu aos 19 minutos do segundo tempo porque a torcida vascaína gritou "time de veado".

A reação do treinador da equipe, Vanderlei Luxemburgo, é emblemática. Ele fez gestos com as mãos e falou para os torcedores pararem com o coro. O sistema de som do estádio também entrou em ação e o locutor pediu ao público que não cantasse gritos homofóbicos "para não prejudicar o Vasco".

O árbitro Anderson Daronco conversou com os capitães de Vasco e São Paulo. Também pediu para acionarem o sistema de som do estádio. O episódio foi relatado na súmula e pode gerar denúncia ao STJD, o que poderia levar o clube do Rio a perder três pontos.

O assunto foi repercutido nas entrevistas coletivas. O treinador do São Paulo, Cuca, disse que é favorável à punição a clubes quando suas torcidas entoarem cantos homofóbicos. Cabe ressaltar que o técnico não estava se referindo ao caso específico da partida contra o Vasco, mas a uma tentativa de mudança de mentalidade do futebol.

Ele se declarou contrário a este tipo de comportamento, como gritar "bicha" quando o goleiro adversário vai bater o tiro de meta. A nova legislação tenta alterar uma cultura arraigada nos estádios, mas Cuca comparou ao cigarro para dizer que é possível uma mudança. Explicou que décadas atrás parecia irreal frequentar um bar sem pessoas fumando, algo que se tornou realidade hoje.

Vanderlei Luxemburgo também se manifestou e explicou que agiu para evitar que o time fosse prejudicado. "Foi pelos gritos homofóbicos, porque pode prejudicar. Mas como ia falar para todo mundo? Meio que entenderam. Passa na rádio e chega lá", disse Luxemburgo em coletiva.

O estádio de São Januário não foi o único a registrar episódios de homofobia na rodada. O Goiás recebeu o Internacional e seus torcedores gritaram "Gaúcho Veado", informou a Zero Hora, jornal de Porto Alegre.

Mas também houve exemplos positivos. O Athletico Paranaense jogou contra o São Paulo no meio de semana em Curitiba e não foi registrado nenhum caso. O fato é importante, porque a torcida do clube de Curitiba costuma ter este tipo de comportamento. Já o adversário é uma das equipes mais visadas por gritos preconceituosos.

Outra mudança foi a postura dos clubes. A recomendação do STJD pede ações de educação dos torcedores e foi o que o Atlético-MG fez. O clube usou as redes sociais para solicitar ao público que compareceu ao Independência no sábado (24) para não ter atitudes homofóbicas.

A possibilidade de punição à homofobia é uma reação do STJD à pressão da Fifa e do STF. A recomendação do Justiça Desportiva citou quatro motivos para o cerco ao preconceito e três deles vinculados a estas duas instituições.

A primeira é o julgamento do STF realizado em 13 de junho que decidiu aplicar a legislação de crimes de racismo para punir a homofobia e a transfobia. A determinação pressionou o STJD, porque o futebol brasileiro convive historicamente com preconceito nos estádios.

Há também duas razões derivadas de documentos da Fifa. A entidade emitiu uma circular em 25 de julho deste ano para seu filiados combaterem práticas discriminatórias. Antes, já havia lançado um guia para prevenção de preconceito.

FELIPE PEREIRA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) 

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais