O deputado Ciro Nogueira (PP-PI) não se constrange com o apelido de "príncipe do baixo clero", que ganhou pelo bom trânsito com os deputados de menor expressão dentro da Câmara. E, em campanha para levar a presidência da Câmara em 2 de fevereiro, afaga esses parlamentares, dos quais exalta a luta "por levar emendas e benefícios" aos Estados.
Ciro, que ocupa a segunda secretaria da Casa, argumenta que prefere ser associado aos deputados de menos poder e mais interesses locais do que ao alto clero, formado por líderes, membros de cúpulas partidárias, os quais acusa de tratar de assuntos que não influenciam na vida dos eleitores. Ele também admite que a candidatura é uma tentativa de forçar um segundo turno na eleição da Mesa.
CONFIRA A ENTREVISTA:
O senhor se incomoda de ser chamado de "príncipe do baixo clero", pela popularidade junto aos deputados de menor influência?
CIRO NOGUEIRA: De forma nenhuma. O que muitos chamam de baixo clero, eu chamo de maioria. Se você coloca que o baixo clero da Casa são as pessoas que não têm acesso à grande mídia, que lutam por levar emendas e benefícios aos seus estados, vai dar 460, 470 deputados. E são essas pessoas que elegem o presidente. Mas eu vejo essa história de baixo, alto clero, como uma cortina de fumaça que alguns poucos tentam colocar nas vésperas das eleições. Eu prefiro muito mais ser chamado dessa forma do que estar nos gabinetes, como alguns que se consideram alto clero, tentando nomear diretor financeiro de estatais que eu tenho certeza que não terá benefício nenhum para as comunidades que elesrepresentam.
Incomodam as comparações com o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti?
CIRO: É um companheiro do meu partido, a quem eu respeito, meu amigo, mas é uma pessoa de uma geração totalmente diferente da minha, de uma formação totalmente diferente da minha e ideias diferentes. Somos pessoas distintas, não estou dizendo que eu sou melhor ou pior. As pessoas pensam que estão me atingindo com isso, mas a Câmara conhece minhas ideias, minhas diferenças.
Quais são suas propostas caso se eleja presidente?
CIRO: Não vai desagradar o Executivo se nós levarmos essa discussão para um nível mais elevado. Eu acho que o presidente Lula prefere uma situação que não precise ter troca. Eu já conversei com o ministro José Múcio (Monteiro, das Relações Institucionais), ele é favorável ao orçamento impositivo. Ele perde 90% do seu tempo discutindo essa questão de liberação de emendas.
Mas caso o governo crie alguma dificuldade ao projeto, o senhor vai peitar o Planalto?
CIRO: Eu aposto que os deputados vão ser soberanos para definir o resultado dessa eleição. Agora eu acho que no atual momento o nosso nome incorpora mais. Até porque Aldo e Michel já tiveram oportunidade de mostrar seu trabalho. Eu considero eles como bons remédios que já foram utilizados e eu estou tentando construir uma nova fórmula, porque eu acho que essa fórmula, principalmente do Michel, que esteve quatro anos na presidência da Casa, só fez agravar a situação em que ela se encontra agora.
Qual é o problema da candidatura Temer?
CIRO: Se o deputado Michel Temer ganhar a eleição, ele vai apenas se tornar um superlíder do PMDB e vai utilizar a Casa para que a cúpula desse partido tenha mais espaço no Executivo. Vai vincular todas as votações da Casa, para o mal e pro bem, aos interesses do partido, e já vai trazer a eleição de 2010 para agora. Nós temos que ter um presidente imune a esses interesses partidários, que contaminam muito a independência do Legislativo.
A entrada de tantos candidatos na disputa é boa para pressionar a existência desse segundo turno?
CIRO: Lógico, além do mais isso eleva o nível da disputa. E não vou negar que nós jogamos o jogo que quer forçar o segundo turno, então é fundamental a presença deles, que nos facilitaria muito a vitória se ela vier mesmo no segundo turno.
Se eleito, o senhor seguirá defendendo a não promulgação da proposta de aumento do número de vereadores?
CIRO: A não ser que a Justiça reveja essa decisão, a PEC tem que voltar e será votada pela Câmara na volta do recesso. Foi um erro colocar isso na Justiça, mas o maior erro de todos foi o Senado ter atrasado essa votação e só ter feito na última sessão, na calada da noite.
Qual sua posição sobre a extensão do plano de saúde dos servidores concursados aos funcionários comissionados?
CIRO: Sou favorável à Mesa encaminhar no sentido de não elevar o gasto da Casa e, com os recursos que já existem, permitir que os comissionados tenham alguma forma de assistência. Com o modelo atual, tendo um novo plano mais básico para os comissionados sem aumento de despesas.
Fonte: G1