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Ciro é chamado de"príncipe do baixo clero"em disputa na Câmara

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O deputado Ciro Nogueira (PP-PI) não se constrange com o apelido de "príncipe do baixo clero", que ganhou pelo bom trânsito com os deputados de menor expressão dentro da Câmara. E, em campanha para levar a presidência da Câmara em 2 de fevereiro, afaga esses parlamentares, dos quais exalta a luta "por levar emendas e benefícios" aos Estados.

Ciro, que ocupa a segunda secretaria da Casa, argumenta que prefere ser associado aos deputados de menos poder e mais interesses locais do que ao alto clero, formado por líderes, membros de cúpulas partidárias, os quais acusa de tratar de assuntos que não influenciam na vida dos eleitores. Ele também admite que a candidatura é uma tentativa de forçar um segundo turno na eleição da Mesa.

Apesar da boa relação com o baixo clero, o candidato foge das comparações com o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), este considerado o "rei" da categoria durante sua gestão e campanha para a presidência em 2005.

Ciro chama o ex-deputado de "amigo", faz questão de ressaltar diferenças com Severino, mas esquece de citar que o ex-presidente chegou a trabalhar pela sua indicação para um ministério durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Somos pessoas distintas", garante.
 
Ciro define como principal proposta a criação do orçamento impositivo, no qual o Executivo seria obrigado a cumprir a peça orçamentária aprovada pelo Congresso. Entretanto, para o progressista, a exigência só valeria para as emendas individuais dos parlamentares.
 
A ideia é acabar com a troca de favores com o governo e dar mais independência ao Legislativo. Autonomia que não é possível caso o vitorioso nas eleições seja Michel Temer, segundo Ciro. O deputado do PP argumenta que o peemedebista vai usar a Casa para dar mais espaço ao próprio partido, do qual é presidente. "Ele vai apenas se tornar um superlíder do PMDB", ataca o "príncipe".

CONFIRA A ENTREVISTA:

O senhor se incomoda de ser chamado de "príncipe do baixo clero", pela popularidade junto aos deputados de menor influência?

CIRO NOGUEIRA: De forma nenhuma. O que muitos chamam de baixo clero, eu chamo de maioria. Se você coloca que o baixo clero da Casa são as pessoas que não têm acesso à grande mídia, que lutam por levar emendas e benefícios aos seus estados, vai dar 460, 470 deputados. E são essas pessoas que elegem o presidente. Mas eu vejo essa história de baixo, alto clero, como uma cortina de fumaça que alguns poucos tentam colocar nas vésperas das eleições. Eu prefiro muito mais ser chamado dessa forma do que estar nos gabinetes, como alguns que se consideram alto clero, tentando nomear diretor financeiro de estatais que eu tenho certeza que não terá benefício nenhum para as comunidades que elesrepresentam.

Incomodam as comparações com o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti?

CIRO: É um companheiro do meu partido, a quem eu respeito, meu amigo, mas é uma pessoa de uma geração totalmente diferente da minha, de uma formação totalmente diferente da minha e ideias diferentes. Somos pessoas distintas, não estou dizendo que eu sou melhor ou pior. As pessoas pensam que estão me atingindo com isso, mas a Câmara conhece minhas ideias, minhas diferenças.

Quais são suas propostas caso se eleja presidente?

CIRO: Hoje a Câmara se encontra achatada entre o Executivo legislando através de medidas provisórias e o Judiciário se arvorando no direito de legislar. Nós temos que dar uma resposta o mais rápido possível a essa questão e isso passa pela independência da Casa e pela implantação do orçamento impositivo no que diz respeito às emendas individuais. Hoje a grande maioria dos parlamentares passa o ano inteiro esperando essas liberações e muitas vezes se tenta vincular algumas votações às liberações de determinadas emendas. Isso passa uma imagem muito ruim à sociedade, cria uma relação promíscua com o Executivo e a oposição deixe de votar porque pode passar a imagem de que está sendo pautada pelo Executivo para liberação de emendas.
 
Essa busca por independência passa pela finalização da votação na Câmara do projeto que altera o rito das medidas provisórias?
 
CIRO: Com certeza é uma situação que temos que tratar urgentemente, primeiro fazer o Executivo ver que medida provisória tem que ter um caráter de urgência e isso não tem sido observado. Nós temos que regulamentar e criar mecanismos para coibir essa prática que tem atrapalhado muito o funcionamento da Casa. Propostas que tiram poder do Executivo e o dão ao Legislativo têm potencial de desagradar o governo.
 
O senhor teria problemas em não ser um aliado do Planalto, se for eleito?

CIRO: Não vai desagradar o Executivo se nós levarmos essa discussão para um nível mais elevado. Eu acho que o presidente Lula prefere uma situação que não precise ter troca. Eu já conversei com o ministro José Múcio (Monteiro, das Relações Institucionais), ele é favorável ao orçamento impositivo. Ele perde 90% do seu tempo discutindo essa questão de liberação de emendas.

Mas caso o governo crie alguma dificuldade ao projeto, o senhor vai peitar o Planalto?

CIRO: De forma nenhuma nós vamos peitar. O presidente não tem que ter lado, tem que pautar. Se o plenário não concordar com essa proposta, vai rejeitar, mas isso vai ser rejeição feita pelo plenário, não por algumas lideranças.
 
É difícil concorrer com Michel Temer, que tem apoio da maioria dos partidos e do Planalto?

CIRO: Eu aposto que os deputados vão ser soberanos para definir o resultado dessa eleição. Agora eu acho que no atual momento o nosso nome incorpora mais. Até porque Aldo e Michel já tiveram oportunidade de mostrar seu trabalho. Eu considero eles como bons remédios que já foram utilizados e eu estou tentando construir uma nova fórmula, porque eu acho que essa fórmula, principalmente do Michel, que esteve quatro anos na presidência da Casa, só fez agravar a situação em que ela se encontra agora.

Qual é o problema da candidatura Temer?

CIRO: Se o deputado Michel Temer ganhar a eleição, ele vai apenas se tornar um superlíder do PMDB e vai utilizar a Casa para que a cúpula desse partido tenha mais espaço no Executivo. Vai vincular todas as votações da Casa, para o mal e pro bem, aos interesses do partido, e já vai trazer a eleição de 2010 para agora. Nós temos que ter um presidente imune a esses interesses partidários, que contaminam muito a independência do Legislativo.

A entrada de tantos candidatos na disputa é boa para pressionar a existência desse segundo turno?

CIRO: Lógico, além do mais isso eleva o nível da disputa. E não vou negar que nós jogamos o jogo que quer forçar o segundo turno, então é fundamental a presença deles, que nos facilitaria muito a vitória se ela vier mesmo no segundo turno.

Se eleito, o senhor seguirá defendendo a não promulgação da proposta de aumento do número de vereadores?

CIRO: A não ser que a Justiça reveja essa decisão, a PEC tem que voltar e será votada pela Câmara na volta do recesso. Foi um erro colocar isso na Justiça, mas o maior erro de todos foi o Senado ter atrasado essa votação e só ter feito na última sessão, na calada da noite.

Qual sua posição sobre a extensão do plano de saúde dos servidores concursados aos funcionários comissionados?

CIRO: Sou favorável à Mesa encaminhar no sentido de não elevar o gasto da Casa e, com os recursos que já existem, permitir que os comissionados tenham alguma forma de assistência. Com o modelo atual, tendo um novo plano mais básico para os comissionados sem aumento de despesas.

 


Fonte: G1

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