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O verde dos nossos rios

Todo ano é a mesma coisa. A tendência é permanecer assim por mais tempo, até as chuvas voltarem a cair com maior frequência e nossos rios ficarem com sua cara de rio limpo novamente. Quem passa todos os dias pelas pontes sobre o rio Poti, vez por outra, se depara com um tapete formado pelas macrófitas aquáticas (nome dado as plantas que habitam as águas em diferentes formas: flutuantes, anfíbias, emergentes, submersas, epífitas etc.). Estas plantas são um sinal de doença dos nossos rios.

Fotos: Roberta Aline/Cidadeverde.com

A lógica é a seguinte: quando se quer que uma planta se desenvolva de forma saudável são fornecidos três elementos essenciais: água, luz e adubo. No rio temos a água, que recebe luminosidade pelo menos 12 horas por dia pelo sol (no meu aplicativo sobre o tempo está anunciando uma luminosidade total de 12 horas e 18 minutos para hoje) e temos o adubo. Parte deste adubo é originado de processos naturais, como a decomposição de organismos mortos, a eliminação de resíduos fecais e de excreção de animais que vivem no rio. Mas a maior parte do adubo é depositada por nós, humanos, que não cuidamos das nossas fontes de água.

Para qualquer observador que percebe que neste período temos mais plantas aquáticas no período chuvoso sobra a dúvida sobre porquê neste período elas crescem tanto? Dia desses assisti uma autoridade ambiental dizer que é porque na chuva o rio leva as plantas. Mas não é só por isso.

É uma questão de química. A concentração de nutrientes é definida pela razão da massa (de nutrientes) dividida pelo volume (de água). Como em toda operação de divisão se numerador aumenta e o denominador diminui, então o resultado aumenta. Na verdade, a massa de poluição mantém-se a mesma. O problema é que neste período em que o calor aumenta (estamos em pleno B-R-O-Bro), aumenta a evaporação da água diminuindo assim o volume, aí é fatal: a concentração de poluentes aumenta. Veja a fórmula abaixo para entender melhor:

Aí as pessoas começam a perguntar: é melhor deixar ou melhor tirar os aguapés? Nem um e nem o outro. O melhor é manejar. O manejo consiste no controle do adensamento das plantas. Na verdade, as plantas atuam como filtros muito eficientes retirando todas das impurezas e excessos existentes na água. O problema é que se fortalecem muito com isso e se expandem muito de tamanho. Conseguem duplicar sua biomassa em horas, por isso rapidamente tomam conta da superfície da água. Aí mora o dano: cobrem a superfície e impedem as trocas gasosas entre o ar e a água. Sem esta troca gasosa reduz-se a disponibilidade de oxigênio dissolvido na água para os animais aquáticos, e isso vira um problemão.

A presença das macrófitas funciona como um bioindicador da qualidade da água: sua presença denuncia excesso de fosfatos e nitratos que são compostos muito úteis para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Funcionam também como indicador da qualidade da gestão pública no trato com a questão do esgotamento sanitário. Rio com aguapés é cidade sem tratamento de esgotos, simples assim! As obras de saneamento se mostram caras, mas ao mesmo tempo são importantes para evitar a proliferação de doenças bem típicas como diarreias, coceiras, verminoses e outros problemas de saúde pública veiculados pela água ou por vetores que crescem na água.

Se serve de algum consolo (eu particularmente não vejo assim), este período ajuda a fortificar a alimentação e nidificação de algumas aves aquáticas e ajuda a empregar pessoas que trabalham nesta questão do manejo ambiental das macrófitas. O bom seria se nossos rios estivessem sempre refletindo apenas o azul do céu.

Boa semana para todos (as)!!!

 

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