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Aguapés no Rio Poti

Este ano está me parecendo que as pessoas estão mais preocupadas com o problema das macrófitas aquáticas do Rio Poti, onde a mais famosa é o aguapé, do que nos outros anos. Eu considero isso um avanço.

Na semana que passou fui convidado para uma participação ao vivo no Jornal do Piauí, da TV Cidade Verde. No pingo das 13h subi até a ponte estaiada com a equipe do repórter Thiago Melo para falar mais uma vez sobre o problema da poluição no Rio que, ano após ano, parece só piorar. De cima dá pra ver o volume de plantas ocupando a superfície de um dos rios que banham a cidade de Teresina. Veja o vídeo com a matéria:

Algumas coisas me chamaram atenção, especialmente depois que a matéria com a entrevista circulou pela cidade:

1) De fato, como bem disse o apresentador, jornalista Joelson Giordani, o teresinense não sabe lidar com o patrimônio hídrico que a cidade tem. Na média, parece que não ligamos a mínima para os dois rios imensos que banham nossa cidade;

2) De uma forma geral, as pessoas, especialmente muitos colegas biólogos, estão excessivamente preocupados com problemas ambientais distantes, mas parece que pouco se importam com os danos causados aos nossos rios;

3) A longo prazo, a limpeza dos rios depende da construção de sistemas de captação e tratamento de esgotos. Segundo a própria matéria, a companhia de águas informou que conseguiu elevar de 19% para 31% a captação e tratamento de esgotos. A julgar pelas obras que vejo na cidade (o que incluiu a minha rua), a companhia está instalando sistemas de captação, o que não significa que efetivamente esteja surtindo algum impacto positivo sobre os nossos rios, pois a exemplo da minha rua, a captação ainda não começou;

4) A culpa é de quem? Efetivamente nossa. Todos somos culpados. Primeiro porque não exigimos o básico dos nossos governantes, onde se inclui saneamento. Segundo, porque mesmo não fazendo exigências continuamos a votar. Terceiro porque pouca gente procura fazer sua parte.

5) Se você está achando que não tem como minimizar, faz a ligação da água servida da tua casa numa fossa séptica, assim como faz com os dejetos dos banheiros. Vais pagar uma ou duas vezes por ano para esvaziar, mas pelo menos a água da tua cozinha não vai in natura (sem tratamento) para os rios. Assim você está colaborando diretamente para a despoluição dos rios;

6) Aliás, a despoluição pode ocorrer de forma natural. O rio pode se autodepurar, desde que para isso pare de ser poluído;

7) Os órgãos ambientais continuam sem saber o que fazer, de fato. Li em umas postagens nas redes sociais que autoridades do setor estavam buscando meios de pagar para retirar os aguapés. Escrevi aqui a uns dias (veja aqui) que retirar as plantas, só por retirar, elimina o bioindicador da qualidade ambiental, mas não resolve o problema. Esperar que o próprio rio se resolva também não é legal porque enquanto os aguapés crescem as trocas gasosas entre a água e o ar reduzem muito, prejudicando os organismos ocupantes da biota aquática. Há uma forte redução de oxigênio dissolvido (OD), o que pode levar o ambiente a um quadro de hipóxia (baixa disponibilidade de oxigênio) ou até mesmo anoxia (redução máxima da quantidade de oxigênio dissolvido na água), podendo levar a uma mortandade de peixes.

As autoridades ambientais poderiam gastar seu tempo propondo soluções com mais eficácia. Desconheço existirem, por exemplo, formas do poder público lançar mão da expertise de cientistas das nossas universidades que estudam o problema de perto. Por que as Secretarias de Meio Ambiente, do município e do Estado, não investem parte dos recursos arrecadados em compensações ambientais abrindo editais para financiar pesquisas para tentar resolver alguns destes problemas? [DEIXEI ATÉ EM NEGRITO PARA VER SE FACILITA A VIDA DOS GESTORES].

Na minha modesta visão de pesquisador, ainda acho que tanto a iniciativa pública, quanto a privada, utilizam muito pouco a expertise dos nossos pesquisadores. Voltando para a questão dos rios, logo ali, na Universidade Federal do Piauí (UFPI), no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), tem pesquisadores com toda boa vontade em aplicar conhecimento para ajudar a resolver parte destes problemas. Não falta gente. Faltam recursos... Fica a dica!!!

Boa semana para todos (as).

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