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"Não foi acidente. Ele apontou a arma pra minha cabeça", diz ex-namorada de PM baleada

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Fotos: Yasmim Cunha

"Ele dizia que iria me matar. Disse, inclusive, para minha mãe, em uma festa na casa dela. Ela pediu para ele não fazer isso, que eu a era caçula dela. Eu não acreditava até acontecer o que ocorreu", desabafa a técnica de enfermagem, Jocilene da Silva Santos, 50 anos, vítima de disparo de arma de fogo. O principal suspeito de ser o autor do tiro é o ex-companheiro de Jocilene, o cabo da Polícia Militar, Zilmar Miranda da Silva.

O crime ocorreu no dia 30 de dezembro de 2019, na casa da vítima, no bairro Três Andares, zona Sul de Teresina.

"Hoje me arrependo de não ter atirado nele na hora. Estou sentido muita dor, meu filho que me dá banho, não consigo caminhar sozinha. O tiro entrou na perna direita e parou na esquerda. Eu não merecia isso. Como pode? Eu levar um tiro dentro da minha casa por alguém que eu confiava? Estou revoltada". 

Jocilene conversou com o Cidadeverde.com e relatou o que ocorreu no dia do disparo. O casal namoraram há oito anos, e não tem filhos juntos. Cansada das agressões verbais ao longo da relação, o ano de 2019 foi marcado por várias tentativas de término. Ela conta que a última tentativa ocorreu no dia 14 de dezembro, mas passaram o Natal juntos. Após isso, marcaram de se encontrar novamente, que foi no dia em que ocorreu o disparo. "Ele passava uns dias de serviço e depois vinha dormir aqui em casa. Eu cuidava tão bem dele, como um bebê".

Ela conta que o cabo se irritou após o celular dele começar a tocar de maneira insistente. Segundo Jocilene, ela pediu que ele atendesse a ligação, ele se negou a atender e começou a dizer que iria matá-la. 

"Ele chegou aqui em casa pela manhã. Depois, fomos a um bar. Tomamos umas duas cervejas e voltamos para minha casa. O celular dele começou a tocar e eu disse para ele atender porque nós não tínhamos mais nada um com outro. Ele começou a se irritar, dizendo que eu ficava querendo terminar com ele toda hora. Por isso, iria me matar. Antes desse dia, ele ficava falando que iria me matar, me xingava de vários nomes, mas não tinha agressão física. A minha família não gostava da minha relação".

A confusão pelo celular começou assim que chegaram em casa. "Ele começou a puxar a arma pra mim no terraço. Eu atirei dele. Fomos pra cozinha e tentei acalmá-lo. Ele ficou pedindo a arma, mas não entreguei. Fomos ao quarto, foi nessa hora que ele conseguiu pegar a arma e apontou para minha cabeça. Nessa hora, coloquei a mão e o tiro atingiu a minha perna. Ele me pediu desculpas, mas não prestou socorro. O portão estava fechado e as pessoas precisaram arrombar para me ajudar".

Não foi acidente

Inicialmente, o caso da Jocilene começou a ser tratado como tentativa de feminicídio. No entanto, após alguns depoimentos, a Polícia disse que surgiu a possibilidade de lesão corporal porque o tiro pode ter ocorrido de maneira acidental. Isso causou irritação na vítima. 

"Não foi acidente. Ele sabe, na cabeça dele, que não foi.  Se fosse acidente, ele não teria começado a puxar a arma pra mim no terraço e depois apontado para a minha cabeça, no quarto. Se fosse acidente, ele não teria fugido e me deixado sangrando no chão. Ele não chamou Samu, nem pediu por socorro. Eu comecei a gritar pela minha vizinha, pedindo pra ela chamar o Samu porque eu poderia morrer. Um irmão dele chegou na hora e saiu com ele e pediu a arma. Ele (o cabo) dizia para mim que se fizesse algo contra mim 'iria sustentar', mas agora tem essa história de tiro acidental".

Jocilene disse que aguarda uma equipe da Delegacia de Feminicídio para prestar depoimento oficial porque, no momento, ela anda de cadeira de rodas e sente muitas dores. Um boletim de ocorrência sobre o caso já foi aberto.  Ela confirma que irá pedir medidas protetivas e que não abrirá mão de ver o ex-companheiro preso por tentar matá-la.  A vítima recebeu alta médica do Hospital de Urgência de Teresina na quinta (02). 

"Já que ele aparece com  um laudo dizendo que tem distúrbio mental, todos aparecem. E eu que estou aqui com essa dor. Ele não pensou na família dele, nem a minha. Se ele não cumprir a justiça dos homens; ele não fugirá da justiça divina". 


Carlienne Carpaso
[email protected] 

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