Sujeitas a um rendimento menor, mais voltadas para o emprego doméstico e com menor inserção no mercado de trabalho, as mulheres representaram, na média de 2008, 58,1% dos desocupados. O percentual em dezembro, quando a crise já havia se instalado, era de 58,4%. Em 2003, ficara em 54,6%. Elas ganhavam cerca de 70% do salário dos homens.
Considerando a escolaridade, cresce a cada ano a parcela de desempregados com mais de 11 anos de estudo. Era de 39,9% em 2003. Passou para 52,9%, sob impacto do maior nível de escolarização no país e do ingresso das mulheres no mercado de trabalho -elas têm mais anos de estudo do que os homens. Em dezembro passado, o percentual avançou um pouco mais: 53,6%.
No retrato do desemprego, cabe ainda um recorte por cor e raça: pretos e pardos, segundo o IBGE, eram a maioria ao final de 2008 -52,4% do 1,606 milhão de desocupados nas seis principais regiões metropolitanas em dezembro de 2008.Segundo Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em dezembro, quando o mercado de trabalho passou a sentir mais a crise, o perfil da desocupação pouco se alterou.
Ele diz, porém, que, se a renda ficar comprometida, haverá uma mudança mais forte, com o ingresso de mulheres e jovens no mercado de trabalho, engrossando as filas de agências de emprego."Quando há crise e o chefe de família perde o emprego, mais pessoas entram no mercado de trabalho para complementar o rendimento familiar. Isso pode se repetir agora", afirma.
Segundo Fábio Romão, economista da LCA especializado em mercado de trabalho, a crise surtiu efeito, primeiro, nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que apurou 655 mil demissões em dezembro. Na pesquisa do IBGE, uma piora só se verá nos dados de janeiro.
Romão diz ainda não ter certeza de que a atual crise terá um impacto muito forte no perfil do desempregado. Isso porque o rendimento será de algum modo preservado graças ao reajuste do mínimo. Sofrerá menos, estima, na atual turbulência do que a ocupação, diferentemente do que ocorreu na recessão de 2003, quando o rendimento despencou e a ocupação até subiu na esteira da maior informalidade.
Diante desse cenário, não deve ocorrer, segundo Romão, nem uma explosão da informalidade nem um ingresso expressivo de mulheres e jovens em busca de complementar a renda doméstica.De todo modo, ele espera mais mulheres ocupadas, que devem recuperar o terreno perdido por causa da composição setorial do desemprego na atual crise. É que ela bate com mais força na indústria e na construção civil, setores que empregam mais homens.
Por seu turno, a instabilidade atinge menos o comércio e os serviços, que empregam proporcionalmente mais mulheres do que a indústria e a construção. "Esse cenário pode contribuir para uma inversão da tendência de aumento da desocupação feminina." Segundo Romão, o retrato mais marcante da atual crise é seu impacto no emprego industrial, cujo emprego já registrou queda de 2,4% (90 mil pessoas) em dezembro.
Ao afetar mais a indústria e menos os serviços, o emprego fora dos grandes centros urbanos terá um desempenho relativamente melhor neste ano. Esse é um dos motivos, afirma Romão, do descompasso entre os dados da pesquisa do IBGE e os do Caged, comportamento que deve se repetir neste e nos próximos meses.
Fonte: Folha de São Paulo