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Jornalista do Piauí relata rotina e ações na França contra o coronavírus

Foto: instagram de Emmanuel Macron


A autorização para fazer o "jogging" foi revogada na França. O governo resolveu endurecer as regras do confinamento, depois que muita gente aproveitou o tempo quente e ensolarado para sair às ruas. Semana passada, os franceses podiam, mediante uma atestação obtida pela Internet, fazer atividade física em pleno ar, desde que a 200 metros de casa. Em todo o país, a prática fica proibida das 10 horas às 19 horas, sob pena do pagamento de multa de 135 euros, caso a pessoa venha a ser controlada pela Polícia e não apresente o documento devidamente preenchido.  

Prefeitos de algumas cidades, como Seine-Saint-Denis, na periferia de Paris, determinaram o uso de máscara para a totalidade dos seus habitantes. O governo estuda fazer o mesmo em todo o país, já se preparando para um desconfinamento gradual. Um estudo americano, recém  publicado, constatou que o coronavírus pode sobreviver  por horas em suspensão no ar ou até dias em certas superfícies.  
                                                             
Já ultrapassa os 137 mil casos de pessoas contaminadas pela Codiv-19 e 14.967 mortos na França. Na semana passada, de terça para quarta, 541 perderam a vida por conta da doença. Quase oito mil se encontram, neste momento, com respiração artificial, além das que estão nos setores de reabilitação dos hospitais, reaprendendo literalmente a respirar.

Nos asilos e casas de repouso, mais de 3500 idosos sucumbirem ao coronavirus, sendo que 500 morreram somente na última segunda-feira, nestes estabelecimentos em todo o país. A curva da epidemia, na França, não cessa de aumentar, devendo alcançar o seu pico nos  próximos dias.                                                                         

Economia                                      

Como esperado, o fim do confinamento, previsto inicialmente para terminar no dia 15 de abril, será prorrogado. O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou hoje (13) que as medidas de isolamento social contra o novo coronavírus continuarão em vigor até 11 de maio.

Apesar da economia praticamente parada, muita coisa está funcionando, enquanto alguns setores estão se adaptando para reabrir as portas aos poucos. Tempo de “mettre en l’ordre” as medidas de segurança, como a distância de dois metros entre as pessoas. 

Nas fábricas e nos comércios, patrões e comerciantes, começam a cumprir, junto aos funcionários, e a exigir dos clientes, medidas de segurança em seus estabelecimentos. As grandes lojas de departamento, os fast-food e os fast-mode, continuam fechados e, nos shoppings, apenas os supermercados e farmácias funcionam. 

ESTILO DE VIDA - Os franceses, em geral, também parecem começar a se adaptar às limitações impostas pelo coronavírus, embora não sejam conhecidos como o povo mais disciplinado do mundo. Para eles, "flâner"  é uma arte de vida e impedi-los de sair às ruas, seja simplesmente para espairecer ou para protestar, uma provação.

No conjunto, entretanto, eles se comportam bem, relaxaram no último final de semana é verdade, mas têm se mostrado conscientes de que, quem tiver a possibilidade de ficar em casa, fazendo o teletrabalho ou não , deve se manter isolado. 

8,5 BILHÕES DE EUROS - Cinco milhões de assalariados estão parados. Eles se encontram no que chamam aqui em "chômage technique" e continuam empregados, recebendo os seus salários. Os trabalhadores que ganham até um salário mínimo receberão a integralidade de seus vencimentos e  os que percebem acima desse valor, 80 por cento de seus salários. O custo estimado é de 8,5 bilhões de euros para o cofres públicos, superior às expectativas do governo. 

O Banco Central Europeu anunciou que deve comprar as dívidas dos países em dificuldade, mas alguém vai ter que pagar a conta. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que não pretende aumentar impostos. Vamos ver de onde vai sair o dinheiro, sendo que um período de recessão, o mais grave da história desde a Segunda Guerra Mundial, é dado como certa.

“MÃO NO BOLSO”- Este talvez seja o momento dos muito ricos colocarem a mão no bolso, como cobrava o grupo dos “Gilets Jaunes”, nas manifestações contra a reforma da Previdência, antes da crise sanitária do coronavírus (em todo caso, o governo Macron suspendeu temporariamente o projeto). Alguns já estão fazendo a sua parte,  aqui e no mundo, mas ainda timidamente. 

No Brasil, o presidente da Grendene, para citar um exemplo, doou R$ 40 milhões para a ampliação de um hospital em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Na França, uma marca de perfumaria de luxo convocou um grupo resumido de funcionários para produzir, exclusivamente, solução gel hidroalcoólico, 25 mil frascos por dia, para serem distribuídos pelo governo. Já o gigante da informática, Twitter, doou 1 bilhão de dólares para um fundo internacional de pesquisa para a cura da Covid-19. 

DIVIDENDOS DOS BANCOS - Na última terça-feira, o Programa de debates "C dans l'air”, da TV France 5, um dos mais prestigiados do país, confirmou que o Banco Central Europeu deverá obrigar os bancos a estancar o pagamento dos dividendos, referentes aos anos de 2019 e 2020, aos seus acionistas, com o  objetivo de aumentar o capital e ajudar os Estados a reviver a economia. 

A  medida deve valer até pelo menos o dia 1° de outubro, bem que algumas instituições relutam em relação ao exercício do ano passado, alegando já terem acordado, em assembleia geral, o repasse dos lucros aos seus acionistas. 

Segundo o jornal L’Echo, o Banco BNP Paribas já retirou de sua filial belga, BNP Paribas Fortis, o faturamento de 1, 9 bilhões de euros para versar à Paris. Mas a transação pode amputar o banco belga dos meios necessários para apoiar a economia local.

O ministro das Finanças da Bélgica, Alexandre De Croo, disse que o desejável seria que os bancos não repassem nenhum dividendo. “Os bancos fazem melhor de guardar os seus meios, pois não sabemos quando essa crise vai terminar”, pontuou. 

Mas os setores em dificuldade, como a aviação e a indústria automobilística, vão precisar do socorro do estado francês e está fora de questão que este não preste o seu apoio, segundo garantiu o ministro das Finanças, Bruno Le Maire.

Para isso,  conta com os bancos para ajudar as empresas e também os particulares. Como será a matemática ao nível dos países, não se sabe ainda exatamente. O certo é que os bancos terão que fazer a sua parte, mesmo que a contragosto.

Por Andréa Rego, jornalista piauiense que mora em Lyon, na França

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