Cidadeverde.com

Piauiense Braga Tepi promove sua 1ª exposição no Rio de Janeiro

Imprimir
O molibdênio é um metal utilizado com muita frequência na produção de aços de alta resistência. O elemento químico não pode ser encontrado livre na natureza, mas existe em abundância no nosso planeta – na água do mar, por exemplo – e é considerado essencial à vida. Agora, a substância dá nome à primeira exposição do escultor Braga Tepi no Rio, que abre sexta-feira no Shopping Cassino Atlântico .

 
Nascido Francisco de Oliveira Braga, em Teresina, em 1972, o artista faz uso de peças automotivas para criar obras que, nas suas próprias palavras, buscam “colocar o ser humano na situação de tragédia em um universo surreal e visionário”. São esculturas de corpos quase sempre misturados a máquinas, colocados em situações que vão da exuberância ao desespero:

– A indústria hoje sai de dentro do homem – observa Tepi, cujo pseudônimo vem da junção das palavras Teresina e Piauí – Seguimos caminhos tortuosos, evoluímos tecnológica mas não espiritualmente. É essa diferença que tento capturar.



A trajetória de Tepi como artista começou muito antes das esculturas. Desde a infância possuía facilidade para o desenho, mas o primeiro grande entusiasmo com uma cena cultural aconteceu com o rock de Teresina do fim da década de 80. Seu primeiro envolvimento artístico profissional seria por meio do desenho:

– Na época havia bandas locais, informações de outras cidades, festivais, muita gente interessada. Fui então fazer cartuns para fanzines – recorda.

Dom Quixote feito na oficina

Após desenhar para as duas maiores publicações independentes de Teresina da época – chamadas Boca do Esgoto e B de Hell – ganhou o Salão de Humor da cidade em 1992, com uma história em quadrinhos sobre política. Recebeu elogios, mas a concorrência na área do desenho era muito grande. Decidiu fazer curso de solda no Senai, e de lá foi trabalhar em uma oficina mecânica local. A carreira como escultor chegaria por acaso, só em 2002. Certo dia, olhando para as peças com as quais trabalhava, separou algumas para criar um Dom Quixote que enfeitaria sua casa. A criação agradou a um amigo, que sugeriu uma inscrição para o Salão Municipal de Artes de Teresina. Braga ganharia o 1º lugar na categoria Esculturas.

– Todos trabalhavam com madeira ou argila, na área da arte santeira, e eu inovava com metais. Para mim o prêmio foi um salto muito grande. Decidi aí deixar o cartum.

Passou então a se dedicar exclusivamente ao ferro. O metal, no entanto, era muito pesado e difícil de ser manejado, e professores universitários disseram que seria inviável trabalhá-lo. O conselho para continuar veio de um ferreiro que, com anos de experiência, assegurou que o trato contínuo suavizaria a relação com o material e o tornaria tão maleável quanto papel.

Assim, Tepi continuou criando em ferro e nos anos seguintes ganharia outros prêmios locais. A divulgação de seu trabalho levaria sua obra a ser exposta na Alemanha, em 2004, e em Nova York, em 2007.

Tepi conseguiu toda sua formação artística como autodidata. Não estudou além do ensino médio, mas compensou as lacunas com leituras autônomas e muita intuição.

Aproveitou o conhecimento nato de desenho na escultura, e faz projetos detalhados de todas as futuras obras. Até hoje trabalha na oficina mecânica, onde seus chefes incentivam sua atividade artística.

Seu material de trabalho se expandiu do ferro para outros metais, como alumínio e cobre, adquiridos a preços muito baixos – trata-se de sucata, afinal. Dependendo da resistência, suas peças são forjadas com soldas elétricas ou de oxigênio. Exceto vernizagens foscas e banhos de tinta preta em determinadas peças, todo o resto vem em sua cor original. Qualquer peça automotiva pode ser utilizada, e as criações mais recentes levam em média cinco dias para ficarem prontas.

A exposição reúne 17 esculturas e três desenhos de projetos criados entre 2005 e o final do ano passado.

Nas últimas obras, nota-se mais preocupação com o movimento das figuras. Ao menos três peças – Ânsia, Visionário e Observador do futuro – tratam das expectativas do autor sob diferentes posturas. No fim, a descrição de Tepi de seu trabalho soa como um conselho para todo um mundo regido por relações industriais:

– Quem trabalha com sucata fica dependente dela. Preciso que ela me obedeça.

Fonte: Jornal do Brasil

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais