Abilio Diniz deixa Pão de Açúcar nesta sexta

Pela primeira em seis décadas, as vontades, a visão, as estratégias e os desejos de Abilio Diniz terão menos peso no Pão de Açúcar, o maior grupo varejista do País, a partir desta sexta-feira (22).  Por meio de um complexo acordo acionário com o grupo francês Casino, Diniz deixará de dar as cartas na empresa criada por seu pai ainda na década de 1940 e a qual dedicou toda sua vida adulta. A princípio, a partir das 14 horas desta sexta, quem manda prender e quem manda soltar no império que faturou quase R$ 20 bilhões no ano passado é um francês baixinho, de origem argelina e que atende pelo nome de Jean-Charles Naouri. Jean-Charles Naouri assume a presidência do Conselho de Administração na Wilkes e, na prática, passa a mandar no império criado pelos Diniz ainda na década de 40É ele quem, às nove horas da manha dessa sexta-feira, deve assumir a presidência do Conselho de Administração da Wilkes, a holding que, de fato, dá as cartas em todo o grupo Pão de Açúcar. Ela foi criada em 2005, quando o varejista francês Casino, do qual Naouri também é presidente do Conselho, pagou US$ 900 milhões a Abilio para comprar uma fatia ainda maior do grupo varejista brasileiro – o primeiro aporte havia sido feito em 1999. Pelo acordo assinado há sete anos, a partir desta sexta Abilio tem até dois meses para vender um lote de um milhão de ações da Wilkes para o Casino. Se resistir em fazê-lo, o Casino tem o direito de comprar uma única ação, pelo preço simbólico de R$ 1,00 e, assim, se tornar o controlador da holding.Com a nova configuração, Abilio até permanece na presidência do Conselho de Administração da Companhia Brasileira de Distribuição, a empresa que controla todos os negócios do grupo, desde os supermercados Pão de Açúcar até as operações na internet no Ponto Frio, por exemplo. Mas a composição desse Conselho muda radicalmente. Até esta quinta, Abilio tinha cinco assentos, ocupados por ele, seus três filhos e sua esposa, Geyze Marchesi Diniz. Outros cinco postos eram ocupados por integrantes do Casino, além de quatro conselheiros independentes.Agora, Abilio terá direito a ter apenas três assentos no Conselho, enquanto o Casino passará para oito, com um conselheiro a mais do que existe hoje. No futuro, o Casino pode indicar ainda mais três e chegar a 11 conselheiros ou 18 no total. Quatro integrantes continuarão independentes, mas mesmo que decidam unir-se a Abilio, os Diniz sempre estarão em desvantagem. Como Naouri mal lhe dirige a palavra desde que, na visão do empresário francês, tentou evitar o que deve acontecer nesta sexta arquitetando uma fusão com o Carrefour – um dos principais competidores do Casino na França –, a tendência é que Abilio Diniz se transforme em um de seus maiores pesadelos: uma rainha da Inglaterra. Terá a pompa, como presidente do Conselho, mas não terá o poder. Para Abilio, no entanto, a união com o Carrefour era mais um movimento no sentido de continuar expandindo as operações do grupo.De todo modo, será uma nova fase em sua vida e ninguém – talvez nem ele – sabe ao certo quais serão seus próximos passos. Há vários caminhos que podem ser seguidos. Sua participação no grupo – de cerca de pouco mais de 20% das ações – pode lhe render mais de R$ 2 bilhões se vendidas. Há quem diga que ele tentará negociar uma saída em direção a uma das controladas do Grupo, como a Via Varejo, junto ao Casino. Ele pode, até mesmo, continuar como presidente do Conselho de Administração de forma vitalícia. Esta última, a menos provável, levando em conta a história desse que é um dos mais controversos e agressivos empresários brasileiros da segunda metade do século 20.Fonte: IG