Carandiru: PMs são condenados a 624 anos

O grupo de 25 PMs da Rota acusados pela maioria das 111 mortes na rebelião do Carandiru em outubro de 1992 foi condenado na madrugada deste sábado, 3, a 624 anos de prisão, a segunda maior da história da Justiça brasileira. Eles poderão recorrer em liberdade. Os réus haviam sido denunciados por 73 assassinatos, mas a Promotoria reconheceu no último e quinto dia de julgamento que eles eram culpados apenas por 52 homicídios, todas no 2º andar da cadeia.A decisão saiu por volta das 4h, cerca de cinco horas depois dos jurados se reunirem na sala secreta na Fórum Criminal da Barra Funda, em uma espera que deixou colegas e familiares dos réus em vigília na porta do auditório. Na sentença, o juiz Rodrigo Tellini fixou a pena mínima de 12 anos de reclusão para cada uma das mortes - o mesmo critério adotado no primeiro júri do caso Carandiru, em abril, quando 23 policiais foram condenados a 156 anos de prisão por 13 homicídios no 1o andar do Pavilhão 9 do presídio.A novidade na nova condenação é a perda do cargo dos policiais na ativa - nove réus segundo os promotores. O ex-comandante da Rota, Salvador Modesto Madia, é um dos que ainda trabalham. A perda do cargo só ocorrerá com o término definitivo de todo o processo - a defesa dos réus já anunciou que vai recorrer. Já a retirada das patentes dos PMs depende de um processo na Justiça militar.Com dois júris e duas condenações, os promotores dizem crer estar mais próximos de limpar a mancha do massacre do Carandiru na Polícia Militar."No primeiro júri, ninguém acreditava em uma eventual condenação" disse o promotor Fernando Pereira da Silva, após a leitura da sentença. Ele rebateu as críticas da defesa de que as mortes tenham diminuído em um "passe de mágica". A justificativa foi a área de atuação da tropa, que entrou pelo lado esquerdo do 2º andar. Os corpos de detentos de outros locais ou que morreram a facadas foram retirados do cálculo da acusação.A advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza, ficou nervosa no término do julgamento e ameaçou processar jornalistas penal e civilmente que fotografassem ou filmassem os réus. "Na minha gente, não", disse."Eu falo que hoje a sociedade perdeu e o mundo do crime ganhou", afirmou a advogada na saída do fórum. "Porque na verdade quando se condena policiais que trabalharam honestamente, corretamente e que não tiveram nenhuma participação nesse número de mortos, eu estou desvalorizando quem nos protege."Ainda haverá mais dois julgamentos para os réus do 3º e 4º andar do Pavilhão 9, além de um último júri para o coronel Luiz Nakaharada, acusado individualmente por cinco mortes. A previsão é que a próxima audiência ocorra em três meses.Fonte: Msn