Fotógrafa reune 150 fotos inéditas da banda Os Mutantes em livro

Eram tempos de paz, amor e psicodelia. Tempos de explosão criativa dos Mutantes, Rita Lee, Arnaldo Batista, Sérgio Dias, Dinho e Liminha, que foram registrados pela fotógrafa Leila Lisboa Sznelwar, em imagens que ainda permanecem inéditas. Mas um livro pode tornar públicos os bastidores do dia a dia do grupo, que ainda hoje é cultuado dentro e fora do Brasil. Sem editora, Leila busca recursos em financiamento coletivo para publicar A hora e a vez, que contém 150 imagens do período de 1969 a 1974.

Rita Lee em ensaio na Serra da Cantareira (SP)

Leila era namorada do baixista Liminha e acompanhava a banda em shows e nos ensaios na Serra da Cantareira. A estudante e assistente de fotografia acabava se divertindo ao fazer imagens de momentos íntimos, de descontração. “As fotos eram feitas de maneira bem casual. Para mim, estava apenas fotografando meus amigos e meu namorado em seus shows. Claro que eles já eram famosos, mas jamais havia imaginado que hoje Os Mutantes seriam objeto de culto aqui e fora do Brasil”, disse ao Correio.

Como era a sua relação com os membros da banda? Muito boa. Nunca tive problema com nenhum deles, muito pelo contrário, todos sempre foram queridos comigo.

Como os conheceu e como descreveria cada um deles? Conheci em um show que fui com a Lucinha Turnbull e comecei a namorar o Liminha, baixista deles... Moramos juntos por alguns anos e assim se deu minha convivência com todos. Tínhamos 18, quase 19, os dois. Eu trabalhava como assistente de fotógrafa e estudava na USP. A Rita era muito engraçada. O Serginho todo paz, amor e guitarra, o Arnaldo a 300 por hora com tudo, o Dinho e o Liminha eram mais inocentes. Naquele momento — veja bem, essa é a minha visão da paisagem —, eu era uma menina deslumbrada pela magia da época. Porém uma pessoa quase normal, que trabalhava e se divertia sempre com muitas lantejoulas bordadas.

Queria que falasse um pouco dos bastidores. Tem alguma história que te marcou na convivência com eles? São várias histórias hilárias, mas uma que me marcou foi uma viagem a Londres em julho de 1972 com a Rita, o Liminha e a Lucinha Turnbull. Fizemos uma viagem de van ao País de Gales. Vimos shows maravilhosos e nos divertimos bastante com cabelos vermelhos que pintamos com henna lá mesmo. 

Por que resolveu fotografá-los? Eu era assistente de fotografia em São Paulo. Era, pra mim, algo muito natural... Algumas fotos foram parar em discos como os da contracapa do disco Mutantes e seus cometas no País do Baurets, lançado em maio de 1972. Fiz também as fotos para o disco Loki, do Arnaldo, em meados de 1974.

De que maneira a psicodelia da banda te marcou e influenciou na produção das fotos? Fui influenciada de uma maneira muito positiva porque essa época me representa, foi a época de uma mudança gigantesca de conceitos, tudo era visto com muita cor, com muita liberdade — mesmo sem alucinógenos! O conceito da delicadeza, da beleza, da paz e do amor. Tudo isso se reflete na minhas fotos e na minha vida... A impressão que eu tenho é que as mentes do bem se abriram para uma nova era. Nós temos Beatles, Rolling Stones para falar muito pouco... Uma honra estar por perto de todos eles e aqui no Brasil estar junto dos melhores.

Fonte: Correio Braziliense