Tortura: juiz ordena perícia em 17 presos após delegado ser proibido de entrar em presídio

Os 17 presos supostamente torturados após participarem de uma tentativa de fuga na penitenciária Irmão Guido, em Teresina (PI), foram levados nesta sexta-feira (13) ao Instituto Médico Legal (IML) para exames periciais. 

"Os presos que supostamente teriam sido torturados foram levados ao IML onde estão sendo submetidos a um exame bem detalhado para constatar eventuais lesões corporais", disse no final da tarde o delegado Lucy Keiko.

Ontem, mesmo com uma decisão judicial, o delegado Emir Maia, da Delegacia de Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias, e um perito foram barrados na entrada da Irmão Guido. Hoje, eles retornaram após a Secretaria de Justiça ser comunicada do problema. 

"(Ontem) eles alegaram que não poderiam portar máquinas e celulares. Eu disse que além de ser policial era do comitê de combate à tortura, e como é um local de crime os médicos legistas precisavam fotografar os presos", disse Emir Maia. O secretário de Justiça, Daniel Oliveira, teria dito a ele que "são as normas internas". "Eu me retirei e comuniquei aos meus superiores, mas como é uma denúncia grave, de tortura, era preciso ter uma ação, inclusive com contatos de entidades internacionais", acrescentou o delegado.

De acordo com o advogado Luiz Alberto, da comissão de prerrogativas da OAB Piauí, o atraso na execução do exame pode atrapalhar o resultado. Se os presos tiverem mesmo sofrido algum tipo de tortura, a demora pode fazer com que os exames não encontrem essas agressões. 

"As lesões que eles têm são de bala de borracha e material contundente. E até de socos e chutes. Não é como o secretário de Justiça está falando, de que eles teriam se machucado durante a fuga. E pode ser que os vestígios e as provas tenham se exaurido devido a demora", afirmou. 

A vistoria proposta pela comissão de direitos humanos da OAB Piauí teve início na tarde desta sexta-feira (13), após denúncia da advogada Joselda Nery. "Eu vim atender um cliente e fui impedida de vê-lo. Disseram pra mim que ele estava envolvido na tentativa de fuga e que por regimento interno eu não poderia ter acesso a ele", declarou. 

A advogada acionou a comissão de prerrogativas da OAB, que foi até o local e ainda assim não foi possível que o detento conversasse com ela. "O mais grave foi a forma como fomos tratados. Entraram 10 agentes penitenciários na sala e nos cercaram, dizendo que ali era a casa deles e eles é que mandam ali, em uma clara tentativa de nos intimidar", acrescentou o advogado Marcos Vinícius Nogueira. 

A tentativa de fuga aconteceu na terça-feira (10). No dia seguinte, um preso denunciou que havia sofrido torturas na Irmão Guido. Ele fez exames no IML e no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Depois foi levado para a Central de Flagrantes e transferido para a cadeia pública de Altos. 

Uma suspeita é de que a tortura envolvendo detentos do pavilhão B, que conta com mais de 100 presos, tenha sido executada por policiais militares da Diretoria de Inteligência e Proteção Externa, um grupo específico que atua no presídio. 

Lucas Marreiros (especial para o Cidadeverde.com) Fábio Lima e Yala Sena (da Redação) redacao@cidadeverde.com