Antes das conhecidas urnas eletrônicas, as eleições no Brasil não tinham uma apuração tão rápida e segura. Muito pelo contrário. Na República Velha, por exemplo, os brasileiros podiam demorar meses para saber o resultado oficial de um pleito.
"Os votos vinham do Brasil inteiro para o Rio de Janeiro, onde eram apurados na Assembléia. Os meios de transporte não eram eficientes, e a apuração podia levar meses", explica o professor da Universidade de Brasília Walter Costa Porto, autor de "Dicionário do Voto".
O voto com cédula de papel era mais fácil de fraudar, e muitos votos eram literalmente perdidos. No período colonial, as votações ocorriam nas igrejas.
Voto de pelouro
As eleições existem no Brasil desde a época colonial, quando eram realizadas dentro de igrejas, para cargos como vereador, juiz e procurador. Os pelouros eram bolas de cera com fendas onde se colocavam os votos. A apuração era feita oito dias depois do Natal, quando um juiz convocava um menino de até sete anos para sortear os papéis dos pelouros.
A lei que pôe ordem
O processo eleitoral só saiu da igreja com a lei Saraiva, de 1881, ainda na época do Império. Além de criar o título eleitoral e estabelecer eleições diretas, o texto previa que o eleitor deveria ter mais de 21 anos, ter renda maior que 200 mil réis e ser alfabetizado.
Segundo o professor Porto, essa foi a lei mais importante do século XIX, já que mudou o processo eleitoral brasileiro. Nessa época, a apuração demorava meses, pois as cédulas viajavam o Brasil inteiro para chegar ao Rio de Janeiro, onde eram contadas.
Justiça Eleitoral
Instituída em em 1930, a Justiça Eleitoral organizou o processo de votação e ficou responsável pelos trabalhos eleitorais. As mulheres começaram a votar, e o voto passou a ser obrigatório, secreto, universal e direto. "O processo passou a ter várias regras que legitimaram a votação. A oposição passou a ter mais força na disputa", explica Maria do Socorro Braga, socióloga e professora da Universidade Federal de São Carlos.
Máquina de votar
O primeiro Código Eleitoral brasileiro, de 1932, já previa o uso de uma "máquina de votar". Segundo o site do Centro de Memória do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na década de 1960, Ricardo Puntel "inventou e apresentou ao TSE um modelo de máquina de votar que nunca chegou a ser usado".
Em 1982, uma lei elaborou o uso do processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais. Nas eleições de 1989, a apuração dos resultados já foi totalmente informatizada e, no pleito municipal de 1996, a Justiça Eleitoral deu início ao processo de informatização do voto. Naquele ano, 33 milhões de eleitores usaram a "máquina de votar". Segundo a professora Maria do Socorro Braga, as urnas eletrônicas dinamizaram a apuração e evitaram o desperdício de votos.
Fonte: G1