Maior exposição de poesia do Brasil conta com quatro poetas piauienses

Considerada a maior exposição de poesia do Brasil, a mostra Poesia Agora, realizada na Caixa Cultural Rio de Janeiro, conta com a participação de quatro poetas piauienses. O evento exibe trabalhos de 500 escritores contemporâneos brasileiros e estrangeiros. 

Com curadoria de Lucas Viriato, criador do jornal de literatura “Plástico Bolha”, a exposição é dividida em seis alas que apresentam diferentes abordagens para textos poéticos,livros, vídeos, fotos, registros sonoros e saraus. 

A mostra também faz um mapeamento do cenário da poesia contemporânea em diferentes regiões do Brasil, além de inspirar o público a criar seus próprios versos.

Do Piauí participam os poetas Thiago E., Adriano Lobão, Demetrios Galvão e Valciãn Calixto.  Demetrios e Valcian ressaltam que a mostra é importante porque dá visibilidade à poesia feita no Piauí. [Veja abaixo alguns poemas que estão na exposição]

“Somos quatros poetas locais participando da exposição e isso, na minha observação, apontam duas coisas interessante. A primeira, é que a curadoria está atenta ao que vem sendo produzido por todo o Brasil, o que é um ponto muito positivo, que confere à exposição um panorama amplo e plural. A segunda, mostra que a produção poética feita no Piauí tem reverberado em outros espaços”, avalia Demetrios. 

Valciãn destaca que a mostra  já ficou em cartaz também em São Paulo e Bahia  “fazendo o nome dos mais de 500 poetas ali reunidos circular o Brasil”.

A mostra Poesia Agora segue em cartaz na Caixa Cultural Rio de Janeiro até o próximo dia 6 de agosto. 

MOLESTADO

Findada a primeira infância, Sinto nas cartilagens adobos Deslocados de minha cidade, Mística e então subdesenvolvida. Mosteiro profanado, Castelo vampiresco. Enquanto me sou solo, Devo averiguar suas riquezas Com o parco Carbono-14, Ou não, que me resta. Antepassados de cada escavação interior... Bandagem, gesso e resina. O que não foi suficiente Para preservar minhas avarias, Tampouco foi para evitá-las.

Valciãn Calixto

 

ESTICAR O MUNDO

ainda é possível esticar o mundo com a palavra poética

se aliando ao balé das arraias aos porteiros que abrem os caminhos do mundo às armas de misericórdia dos infames aos livreiros da diáspora às mercearias que sediam confrarias fugazes aos tuaregues mensageiros dos ventos-suburbanos aos engenhos e cachaças mágicas aos taxistas sobrenaturais que detêm a arte dos atalhos ao cinema do oriente abandonado às musas que habitam os labirintos da memória aos andaimes dos cemitérios da carne aos carteiros que espalham pontes silenciosas às chuvas que inventam estradas aquáticas aos jardineiros que curam e fazem partos nos canteiros aos gatos que amaciam os recantos da cidade aos pintores alados que enfeitam os muros aos bem-te-vis arquitetos do assovio às crianças que dominam gramáticas horizontais

... é  possível esticar o mundo.

Demetrios Galvão 

 

PRESSA

a pressa traz nos braços sua bagagem de atrasos ; distribui de bom grado relógios enferrujados ; engorda na avenida e ergue novos obstáculos ; a pressa pintou-se moça e diz dar conta do recado ; chegou cedo e abriu a fábrica pro operário ; a mil por hora faz máquinas muito rápido ; a pressa medida com fita métrica tem tamanho de máximo ; corre com as pernas bem abertas empurrada pelo horário ; não descansou com o funcionário e acendeu o asfalto ; a pressa abraça as ruas, os telhados, mas não se vê tentáculos ; ajudou a motorista a jantar, a juntar o salário ; a pressa mostra a pá com a qual enterrará o passado ; acabou com a festa dos pássaros no mato ; não seca o suor na testa do trabalho forçado ; se fez sangue e força destes dias, destes maios ; constrói a época em que mais nada é acabado ; a pressa e trinta inícios por segundo por projetos ávido ; a pressa apenas, e apenas por pressa e princípios tem apreço ; a pressa só, sem limites, sem finais, sem desfecho – só começo:

Thiago E

 

OS NOMES AS PEDRAS

deixai aqui nestas pedras o nome e a fábula daqueles que almejam a revelação para que o tempo os apague plenamente em sopro enigma e luz a mais cega das visões

comei e bebei com satisfação pelo bem que propiciastes em dias passados à espera da palavra e seus cavalos que árduos disparavam pela imensidão do verso

deixai também este verbo impresso em talhe na mesma pedra de seus nomes tu que és tantos e deixas tão pouco para que o tempo também esqueça entre as pedras a inútil memória do corpo

Adriano Lobão Aragão

 

Izabella Pimentel  redacao@cidadeverde.com