Modelo relata queimaduras após bronzeamento com fórmula em São Paulo

Modelo mostra marcas no corpo após queimaduras causadas por produto de bronzeamento em Jaboticabal, SP (Foto: Alexandre Sá/EPTV)

Uma modelo de 28 anos registrou um boletim de ocorrência em Jaboticabal (SP) depois de sofrer queimaduras de segundo grau, causadas por um produto aplicado em uma sessão de bronzeamento. Aline Borges diz ter ficado com o corpo manchado porque a esteticista responsável usou cosméticos sem certificação no procedimento feito no quintal da casa dela.

“Ela falou que o produto era dela, que a fórmula era dela e que ela era responsável. Que tinha registro na Anvisa, que ela tinha alvará para trabalhar e que era tudo legalizado. Tudo 100%, mas ela acabou me queimando”, afirma.

Procurada, a esteticista Joice Radaeli disse que está prestando assistência à modelo e que as queimaduras foram um acidente causado pela troca do produto aplicado.

A delegada Andrea Cristiane Fogaça de Souza Nogueira, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), disse que os fatos serão investigados. O imóvel onde Joice fazia os atendimentos foi vistoriado e parcialmente interditado nesta segunda-feira (16) pela Vigilância Sanitária, uma vez que a casa é a residência dela.

Queimaduras após o bronze

Aline afirma que pagou R$ 40 no início de outubro por uma sessão de bronzeamento de duas horas no salão. Ela decidiu fazer o procedimento após ter sido contratada para um trabalho com bebidas e queria melhorar a aparência.

“Eu a procurei para fazer as marcas de biquíni, para ficar mais sexy, ficar melhor”, diz a modelo.

Durante o procedimento, tiras de fita isolante recortadas no formato de biquíni foram coladas na pele de Aline e, em seguida, o produto foi aplicado. Depois disso, a modelo foi colocada em uma maca no quintal da casa e ficou exposta ao sol para bronzear o corpo.

Um dia após a sessão, Aline começou a sentir dores pelo corpo e a situação se complicou até que ela passou a apresentar febre e náuseas. A modelo procurou a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Jaboticabal, onde passou a tratar as queimaduras.

“Eu sinto muita dor, não cicatrizou e o problema maior é que eu estou inchando muito. Estou com retenção urinária. Isso tudo é devido ao bronze, às queimaduras. A pele ficou impossibilitada de respirar e começou o inchaço”, conta a mulher.

A modelo conta que procurou a esteticista para questionar a aplicação e o tipo de fórmula utilizada, mas que foi informada sobre uma troca de produto, que teria formol e ácido entre os componentes.

“Ela falou que a fórmula não era dela, que ela comprou de outra pessoa. Se ela comprou de outra pessoa, cadê esse responsável, cadê a nota? Ela tem alvará pra trabalhar, tá tudo legalizado, é tudo esterilizado? Tem banheiro, tem maca? É tudo descartável ou é feito em qualquer lugar? Eu tenho as fotos que mostram que é feito em qualquer lugar, sem higiene nenhuma”, diz.

Maca empoeirada e velha serve de mesa para guardar fitas isolantes usadas na aplicação em Jaboticabal, SP (Foto: Alexandre Sá/EPTV)

Como está sem trabalhar desde que as queimaduras apareceram, Aline quer que a esteticista seja responsabilizada e que assuma as despesas do tratamento médico.

Sem autorização e sem higiene

Segundo a diretora de Vigilância de Jaboticabal Eliane Ferreira de Souza, o salão usado para os bronzeamentos é precário e não tem condições de funcionamento. Pelo portão da casa, a reportagem flagrou uma maca suja com dezenas de rolos de fita isolante em cima, toalhas sujas, produtos cosméticos sem cuidados de armazenamento, e macas cobertas por plásticos no quintal.

“Nós constatamos que não tem licença e o local não tem condições de estar aberto. Não é uma clínica. Na verdade, eles entram como serviços de estética, manicure, mas não têm condição de funcionamento”, diz Eliane.

Acidente

Nesta segunda-feira, a esteticista Joice Radaeli disse que trabalha há cinco anos com bronzeamento e negou a produção artesanal de cremes para o procedimento. Segundo Joice, o que aconteceu com Aline foi acidente porque ela fez uma troca de produtos.

“Qualquer trabalho pode acontecer um acidente. Eu compro o produto, tiro ele do pote que eu compro e ponho em outro pote só com a etiqueta com meu nome. Não sou eu que fabrico. Já fui na delegacia, já levei as fotos dos potes, os produtos, tudo certinho.”

Joice diz que tomou conhecimento das queimaduras no corpo de Aline por terceiros, e que está prestando toda assistência à cliente. “As receitas e as notinhas de tudo que eu comprei estão comigo. Eu tenho provas que eu dei assistência para ela.”

Macas usadas para exposição das clientes ao sol no salão de bronzeamento em Jaboticabal, SP (Foto: Alexandre Sá/EPTV)

 

Fonte: G1