Por que diplomatas de 53 países virão a Teresina? Entenda a proposta de 'aliança global' contra a fome do G20

Foto: Roberta Aline / MDS

Por Roberto Araújo

Chegam a Teresina a partir desta terça-feira (21) as delegações estrangeiras que irão participar do encontro que vai reunir representantes de 53 países para a formação de uma "Aliança Global" que objetiva enfrentar o problema da fome e da insegurança alimentar em todos os países do mundo. O encontro, que vai ocorrer entre os dias 22 e 23 de maio, se trata da 3ª reunião da Força-Tarefa para construção da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Mas, afinal, o que é essa Aliança Global? Por que a reunião vai ocorrer em Teresina? O que será tratado nessas reuniões? Algumas dessas perguntas, vamos responder nesta reportagem.

Antes, é importante contextualizar que o Brasil está atualmente na presidência do G20, que é um grupo que reúne 19 países e dois blocos econômicos (União Europeia e União Africana). O presidente Lula (PT), então, lançou um desafio de uma ação coordenada com os países mais ricos do mundo para reduzir a fome no mundo, que atinge atualmente aproximadamente 735 milhões de pessoas em todo o planeta.

A partir disso, o grupo do G20, que inicialmente tinha como foco prioritário as discussões relativas à economia, passou a trazer outros temas, dentre os quais, o enfrentamento à fome à insegurança alimentar. 

O que é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza?

A proposta da Aliança busca formar uma "cesta com políticas públicas" para combater a fome e a miséria. O objetivo é apresentar iniciativas que foram efetuadas em diferentes países e que tiveram resultados efetivos na redução da fome e da pobreza nesses países. 

Esta será a segunda reunião técnica presencial da Força-Tarefa para a formação dessa Aliança, que deve reunir mais de 150 representantes de países e organismos internacionais, de 52 delegações diferentes, para definir os termos finais do compromisso internacional de combate à fome e à pobreza no mundo. A primeira reunião aconteceu em março em Brasília.

Foto: MDS / Divulgação

Por que a reunião vai ocorrer em Teresina?

A escolha de Teresina para sediar a reunião se dá no fato de o Piauí ser considerado um exemplo onde políticas públicas que foram implementadas, tanto no governo federal como no governo estadual, tiveram resultados exitosos na redução da fome e da pobreza e na melhoria da qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.

Dentre os indicadores sociais apontados, está o crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Piauí. O estado saiu de 0,49 (muito baixo) em 2000 para 0,71 em 2020, considerado muito alto, se aproximando da média do Brasil, segundo o levantamento, e superior a países como Marrocos, Nepal e outros.

Algumas políticas apontadas são as de transferência de renda, como o Bolsa Família, a qualificação profissional, com o estímulo à educação, o apoio à agricultura familiar, com projetos que incentivam a comercialização dos produtos e que adquirem a produção para distribuir a famílias carentes, à merenda escolas e à proteção social adaptativa.

Nesta segunda (20), a capital piauiense já sediou uma série de reuniões preparatórias para este grande encontro, com a reunião da Caisan (Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional), que é uma instância que discute os problemas relacionados à fome e à insegurança alimentar no Brasil, entre os estados e os municípios, e também um espaço para que movimentos sociais apresentassem propostas.

E como está o andamento nessas negociações? O que efetivamente será fechado em Teresina?

A reunião de Teresina será determinante, pois nela serão definidos os instrumentos fundadores da Aliança, que serão firmados, em junho durante reunião ministerial no Rio de Janeiro, momento em que serão anunciados os membros fundadores, parceiros e financiamento para o lançamento da Aliança Global. Em novembro, a Cúpula do G20 dará lugar ao lançamento em alto nível da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

De acordo com Renato Godinho, que é o coordenador da Força-Tarefa durante a presidência brasileira, e é um dos negociadores brasileiros sobre este tema, a percepção é favorável por conta do interesse de todos os países que compõem o grupo.

Foto: Renato Andrade / Cidadeverde.com

Diplomata do Itamaraty, Saulo Ceolin, e assessor internacional do MDS, Renato Godinho, são negociadores brasileiros na Força-Tarefa

"No primeiro contato da proposta brasileira que foi feito ao Sherpas [reunião dos líderes], renovado na reunião de fevereiro que foi feito online, em março, em Brasília, e agora chegando a maio em Teresina, nós ficamos surpresos com a a unanimidade, não é nem só um apoio, é unanimidade, mesmo nesses tempos divididos agora do G20, tantos países como conflitos, mas em torno dessa proposta, da prioridade que o presidente Lula colocou no G20 pela primeira vez, priorizar o combate a fome e a pobreza", citou.

Saulo Ceolin, que é diplomata e representa o Itamaraty nas negociações, considera que o fato de o Brasil, que tem resultados efetivos no enfrentamento a fome, puxar tais discussões foi prepoderante para que os outros países se interessassem em participar da aliança.

"A gente tem que considerar que o Brasil tem um peso específico, o presidente Lula tem um peso específico. O fato do Brasil já ter implementado políticas sociais de combate ao povo e pobreza com sucesso no passado, eu acho que isso tem uma uma capacidade de convencimento dos países realmente trouxe todos juntos, então há uma, como o Renato falou, uma quase unanimidade que a ideia está sendo apoiada, a gente está agora trabalhando na construção elementos pra realmente implementar essa aliança global.

A expectativa é que após as definições a serem fechadas em Teresina, países que não são membros do G20 façam as adesões para, na reunião efetiva da cúpula em novembro, as parcerias já estejam mais firmadas para a efetiva formalização. 

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